segunda-feira, 30 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 8. Entrando na reta final

Finalmente o último dia de abril. Já vai tarde esse mês. Afffff.
Eu sabia que seria um mês difícil, mas não imaginei que fosse ser tudo isso. Mesmo com tantas turbulências e apesar de algumas perdas e danos, o saldo é totalmente positivo.
Foi um mês de transformações e definições. Coisas que se arrastavam há anos tiveram um desfecho.
Evidentemente, o ponto alto foi o fim da novela da hérnia. Maio chegará com solução.
Menos momentosa, mas essencial para a pessoa que sou e que quero aprimorar, foi a retomada da prática da meditação. E em maio poderei começar a meditar sentada. (Hoje a meditação matinal foi um fracasso. Dormi uma parte.)
Mergulhei de cabeça em minha nova fase de vida. E me distancio com tanta velocidade das coisas que ficaram para trás que elas já parecem sonhos ou eventos de uma encarnação passada.
Salve o mês de maio! Viva o novo!

domingo, 29 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 7. Contagem regressiva

Quanta coisa pra fazer e organizar.
A mochila já está pronta.
Espero que me deixem ficar de pijama.
Na real, não tenho a menor ideia do que me aguarda. Deve ser por isso que estou tão calma.
A filha voltou de Buenos Aires hoje. Disse que quer dormir no hospital comigo, mas não acho bom pra ela. Ainda mais que tem aula de manhã. Pretendo passar as noites sozinha. Dormindo, se as enfermeiras do plantão deixarem. :)
Fui ao supermercado com minha mãe e a babá, fizemos compras pras próximas duas semanas. Não vamos   falar sobre a cirurgia pra minha mãe. É o tipo de evento que pode causar agitação e confusão ainda maior. E nem pensar ela ir no hospital.
Amanhã é o último dia de trabalho e funções variadas.
Se a escola abrir, irei fazer minha última aula de dança do ventre. Ai, que tristeza que me dá isso...
Tenho que fazer as mãos (meus dedos estão horrivelmente roídos - sinal de que não estou tão calma assim) e pedir pra Lízia tirar o esmalte das unhas dos pés. Hoje saí com minha sapatilha Adidas. Foi o horror amarrar os cadarços. Respirei fundo e fiz o mais rápido que consegui.
Quando for liberada pra exercícios, pretendo fazer pilates e alongamento. Tocar os pés, estender o tronco. Me espreguiçar pela manhã.
E salto alto, quando será que poderei usar?
Temos que encontrar uma empregada pelo menos para meus primeiros dias em casa.
Será que vou ficar muito dura?
Será que vou sentir dor?
Estou tomando 300mg de tramadol por dia, mais paracetamol em alguns intervalos. E ainda assim sinto dor. Ah, e a gabapentina também continua, mas reduzi a dose diária pra 900mg, conforme o neurocirurgião havia sugerido. Quero me livrar desses remédios todos.
Como será que vou me sentir depois da cirurgia?
Hoje almocei no meu tio, que está preocupadíssimo comigo. Disse que não quero que ele vá me visitar, mas sei que isso é impossível. Minha mãe estava bem esperta no almoço, fazendo piadas. Adoro quando ela está assim.
Baixei um wallpaper do Buda pro meu celular.
Hoje meditei por quase duas horas de manhã. Momentos preciosos.

sábado, 28 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 6.1 Grandes expectativas

"De onde menos se espera não vem nada mesmo."
Adoro essa frase. Procuro lembrar dela quando me (a)pego colocando expectativas irreais e/ou infundadas em cima de situações ou pessoas. Esse raciocínio singelo tem me poupado de decepções e "surpresas" que de surpreendente não tinham nada - a não ser um olhar surpreendentemente equivocado de minha parte. Algumas expectativas são como esperar laranjas de uma macieira.
Tento sempre não tecer grandes expectativas a respeito de nada, pois esse é um caminho direto para a infelicidade. A mania de esperar que coisas e pessoas manifestem-se de acordo com os nossos desejos é uma roubada. Mesmo quando tudo parece ser exatamente como achamos que seja, pode dar um enguiço.
Por exemplo, eu tinha certeza de que não precisaria operar minha hérnia. Achei que essa crise fosse passar e que, mantendo uma rotina de exercícios de estabilização da coluna, poderia levar uma vida plenamente funcional, sofrendo apenas pequenas crises eventuais (eu já não nutria a expectativa irreal de me livrar das crises para sempre).
Quando veio a crise dentro da crise, percebi que minha situação havia ficado muito mais difícil. Eu soube que só um milagre evitaria uma operação. E aí tentei obter um milagre com medicação, fisioterapia, acupuntura e cirurgia fluidica. (Sim, sou budista, mas gosto do espiritismo, respeito todas as religiões e acredito na canalização da energia de diversas maneiras para vários fins. E rezo a Ave Maria com a naturalidade com que recito mantras. - E também sou pragmática: se quero alguma coisa, vou à luta; não fico sentada esperando que caia do céu.)
Minhas expectativas foram liquidadas domingo passado na Casa Dom Inácio de Loyola, quando a entidade que atuava pelo médium João de Deus disse que eu teria que operar fisicamente. Como eu estava esperando um milagre (por meio de outra cirurgia fluidica), caiu a baia (expressão utilizada por minha filha querida). No dia seguinte, o neurologista pulverizou a baia caída. E o milagre pulverizado voltou para o lugar de onde havia brotado - o reino das expectativas.
Bem, não ter expectativas é uma coisa, manter-se otimista e motivada é outra. Quando caiu a ficha de que a possibilidade de ficar curada sem cirurgia já era, tive um momento de tristeza, derrotismo,  pessimismo e "oh céus, oh dor" (muita dor nesse caso), mas na mesma hora tratei de me reorganizar. O fato de não ter ficado boa como eu queria não significa que eu não vá ficar boa.
Então, agora vou pra cirurgia otimista e motivada. Minha motivação para fazer a cirurgia é ficar curada, sem a dor que sinto há quase um mês. Mas não estou nutrindo outras expectativas, tipo voltar a fazer isso e aquilo dentro de um determinado tempo - ou sair do hospital saltitante.
O médico explicou tudo que pode dar errado, mas é lógico que não vou ficar pensando nisso. Seria pessimismo e derrotismo. E fazer uma cirurgia com a expectativa de que não dê certo seria absurdo.
Creio que agora esteja no caminho do meio.

Diário pré-cirurgia - 6. Foco

Minha recém-retomada prática de meditação está se mostrando preciosa nesse momento de turbulência. Quando fico agitada, dispersa ou sonolenta demais, paro tudo e deito por 20 minutos - ainda não dá pra ficar sentada. Enfoco a respiração e deixo rolar.
Em algumas ocasiões, derrapo pra um apagão - é muita medicação pesada, que provoca um torpor, eu não durmo, fico num estado alterado. Meu corpo fica frouxo, e a mente obnubilada desliza por pensamentos - ou tropeça neles -, é como se tentasse olhar para eles através de uma neblina espessa, a mente capta apenas vislumbres, às vezes mais nítidos, às vezes menos. Observo a mente perdida no nevoeiro. Mesmo nessa chapação, várias vezes consigo retomar o foco na respiração. Quando levanto a mente está mais alerta, e o corpo também.
Nas ocasiões em que estou menos drogada experimento uma acomodação mental mais nítida. Embora pareça haver muito mais pensamentos, a mente fica menos perdida.
Hoje pela manhã, em vez do foco na respiração, centrei a mente nos pensamentos que estavam causando agitação. Lembrei das técnicas que usei em terapia, de observar e soltar. Funcionou. Desapeguei das ideias repetitivas.
Tenho meditado pelo menos uma vez por dia, tento manter a prática matinal e antes de dormir.
Ontem consertei meus malas. Esse da foto, de quartzo verde, caiu no chão há tempos (foi derrubado por um dos gatos junto com muitas outras coisas de minha mesa de trabalho), e uma de suas contas quebrou. Como ele tinha um arremate com as mesma contas, desmanchei e remontei. Outros estavam frouxos e apertei, não gosto de espaço entre as contas.
Ando sempre com um mala na bolsa, mas não os utilizava há muito, muito tempo. Retomei a recitação domingo passado, na Casa Dom Inácio de Loyola.
Agora, quando tenho uns surtos de ideia fixa e não vou meditar, puxo a mente para a recitação do Mani, com ou sem mala.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 5. Alívio!!!

Finalmente a notícia e a definição que eu tanto aguardava: serei operada na semana que vem!!!
A ligação do médico pôs fim ao desânimo e ansiedade que começavam a tomar conta de mim. Fim de semana chegando, feriado, medo de ter que esperar até quarta-feira pra saber de alguma coisa.
Dá vontade de rir: a criatura fica exultante porque vai operar a coluna! A dor realmente ensina a gemer.
Agora espero outros dois telefonemas: do hospital, pra saber os detalhes; e do Rotta, pra pegar receitas de tramadol. Lúcia Brito, a viciada, já estava surtando porque as cápsulas não dariam pro final de semana.
Lúcia Brito, a budista fajuta, conserta seus malas de oração e, enquanto isso, refreia um impulso tolo que já lhe custou caríssimo no passado. E olha para suas expectativas tolas e vãs sabendo que são exatamente isso: tolices. Lúcia Brito, a palhaça, dessa vez aprendeu. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 4. Despertador da madrugada

Acordo sempre às 4h, ou, para ser mais específica, entre 4h e 4h15min. Isso acontece há muitos anos. Há épocas, como agora, que acontece todos os dias. Geralmente  consigo dormir de novo, às vezes demora e acabo pegando no sono na hora de levantar. A grande diferença é que, de momento, acordo com dor pacas. Então passei a tomar um tramadol nesse horário. Aí consigo dormir um pouco de novo, e a saída da cama é menos penosa. Enquanto não durmo, aproveito o tempo pra tentar meditar, observando a respiração (e os pensamentos que turbilhonam em minha mente, tentando não ser levada por eles).
Hoje senti mais dor que o habitual porque ontem tive que guardar um monte de coisas em casa. Os pequenos (e calculados, delicados e contidos) movimentos de abaixar e levantar acabam comigo. Não bastasse isso, tive que pegar o carro e ir buscar minha bike. E colocar uma mountain bike dentro de um Celta (e depois tirá-la dali) era algo que eu realmente preferiria não ter tido que fazer.
Depois de ter me estragado com as duas atividades de reorganização (além de lavar roupa e regar as plantas), fui curtir minha aula de dança. E como curti! Conforme havia me proposto, me esbaldei. Afinal, se tudo der certo, na semana que vem já estarei no recesso forçado. Me diverti muito, voltei pra casa faceira.
A partir de hoje vou ficar bem quieta no meu canto. :) Ou não tem tramadol que resolva.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 3.1 Fechando ciclos

Hoje de manhã fiz minha última sessão de fisioterapia antes da cirurgia. Afff, vou sentir saudade do Felipe Duarte, da Núclea, que me tratou desde o início de março. Mas ele vai continuar presente em minha vida, vai me acompanhar na recuperação em atendimentos ocasionais (o grosso terei que fazer pelo plano de saúde).
Na despedida de hoje, ele reafirmou o que eu já sabia: fizemos tudo direito, o tratamento foi correto, eu me cuidei, mas meu corpo simplesmente reagiu de modo inesperado após um período de melhora constante, quando estive prestes a ser liberada para trotar. Em abril, as sessões de fisioterapia foram meus únicos momentos de prazer físico, quando eu quase não sentia dor. :) E as massagens suaves na coluna eram realmente uma delícia, um alívio.
Em breve também terei que me despedir temporariamente das aulas de dança do ventre. Ficar sem elas vai ser o mais desagradável do pós-operatório. Não parei de dançar em nenhum momento. E a dança foi o outro ponto alto de abril. Felipe ficou de cara, mas eu disse pra ele que já estava sem correr e sem fazer musculação, a dança ficaria. Com certeza não foi por causa disso que o caldo entornou. Ainda bem que não parei, senão estaria lamentando amargamente. Daqui a pouco, aliás, vou pra aula. Yessss.

Abril foi um mês e tanto. Noooooooossa. Teve de tudo.
Uma das babás da minha mãe pediu pra sair, foi uma coisa repentina, ela encontrou um amor. Já nós tivemos a felicidade de encontrar outra pessoa rapidamente, mas até isso acontecer fiquei preocupada. Pelo menos a consulta de minha mãe com o neurologista foi boa, ela está com a saúde em dia e se adaptou muito bem à alteração na medicação.
Demiti a pior empregada doméstica que já tive, uma pessoa estranhíssima de astral e incapaz de fazer qualquer tarefa direito. Era daquelas que tinha que ser pilotada - e nem assim as coisas davam certo. O pior foi que um dia ela comeu um pedaço de pizza que eu tinha jogado no lixo - onde havia areia sanitária dos gatos! Minha casa está um chiqueiro, a criatura limpava como a cara dela, eu estou sem condições de fazer serviços domésticos e sem a menor condição emocional de ir atrás de outra empregada. Isso vai ficar pra depois.
Vamos tentar achar alguém apenas pra me acompanhar assim que eu voltar do hospital. Ou acabo passando uma temporada numa clínica geriátrica...
No plano pessoal, me reaproximei de pessoas queridas, com quem tenho grande afinidade. Essa reaproximação é ainda mais valiosa agora, porque são pessoas que vão me amparar e cuidar de mim - e dessa vez não ficarei sozinha ao longo do processo de cura.
A coisa mais inesperada foi a forma como meu pedido de harmonia em minha vida foi atendido. É algo bem parecido com a solução pra crise de hérnia: o milagre que eu pedi não aconteceu, mas o problema foi solucionado e vai ficar tudo muito melhor do que estava.
Pra fechar esse mês tão movimentado, um final de semana de sossego e introspecção. Minha filha viaja amanhã, ficarei só, poderei meditar mais, assimilar as mudanças e me preparar para o que vem pela frente.

Diário pré-cirurgia - 3. Registro

Minha filha e meu ex-marido não curtem meu blog. Acham que me exponho demais, que gente baixo astral pode me causar dano. Eu não creio. Por que alguém que não gosta de mim iria gastar tempo lendo minhas coisas? E que mal poderia me fazer?
Penso o contrário: meu blog pode atrair amigos e simpatizantes (hehehe), pessoas que me querem bem e outras que simplesmente vão passar por aqui e dar uma olhadinha indiferente. Eu não escrevo para ser lida, para conquistar um público, escrevo para organizar melhor meus pensamentos e sensações. Mas acho legal que meus amigos e as pessoas que querem me conhecer venham aqui ler, porque isso aqui é a minha cara (ou cabeça).
Agora resolvi escrever um diário pré e pós cirurgia porque penso que poderá ser útil pra outros na mesma situação que eu. Quem tem crise de ciática come o pão que o diabo amassou com o rabo. Imagino que muita gente, como eu, acabe constrangida com sua própria situação. A gente sente dor o tempo inteiro, uma dor espaçosa, que ocupa o corpo e a mente. Em vários momentos não dá pra pensar em outra coisa. E é constrangedor, porque as pessoas perguntam: "Está melhor?", e a única resposta honesta seria: "Não" - isso depois de 10, 20, 30 dias de tratamento. Aí parece que a gente está fazendo onda. Então se começa a dizer umas coisas tipo: "Ah, parece que melhorei um pouquinho hoje" (claro, com o monte de analgésicos em ação a dor cede um pouco em algumas horas, e a gente fica achando que isso vai durar, que é uma melhora).
Para mim foi muito bom conversar com outras vítimas de ciática, elas sabiam bem como é a coisa de não conseguir sair da cama, nem se vestir etc. São situações comuns dessa doença, limitações nas coisas mais triviais e ridículas, não dá pra gente ficar falando disso o tempo todo, senão é só lamúria. Gostei de falar com outros e ver que eles tinham passado pelo mesmo aperto, que eu não era a única no mundo.
Também quis deixar tudo registrado para mim mesma. Eu não ocupo meu HD mental com doenças e lesões - menos ainda com a memória da dor que causaram. Vou deixar tudo anotado aqui pra mais adiante poder resgatar esses momentos. São fotografias da paisagem em que habito agora.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 2. Resolvido

A consulta com o neurocirurgião Albert Brasil, marcada para as 14h30min de hoje, foi antecipada para as 8h15min. Ele mesmo ligou ontem à tardinha pra pedir a alteração. Gostei. Gosto de médicos acessíveis, evito os que não são encontrados a não ser nas consultas. E fujo dos que se acham deuses.
Gostei mais ainda ao conhecê-lo. Jocemar e Rotta haviam dito que ele só propõe cirurgia depois de todos os tratamentos conservadores serem testados. Rotta me disse que eu informasse que meu tratamento com gabapentina fora conduzido por ele, e que ele considerava meu caso intratável por métodos conservadores, pra evitar uma proposta nessa linha. Falei isso, e meu novo médico riu. Mas isso foi mais no final da consulta, quando já estávamos mais descontraídos.
De início a conversa foi mais formal. Cheguei dizendo que queria operar - acompanhada do ex-marido, que fez adendos pra ressaltar que, se eu dizia que queria ser operada, era porque estava realmente mal, que, se não estava treinando, era porque estava totalmente incapacitada, que minha carga diária de treino era enorme e que minha tolerância a dor era altíssima. Tudo verdade, mas eu não falaria essas coisas. O neuro puxou o freio de mão e quis saber por que eu achava que a cirurgia resolveria. Contei minha história de altos e baixos. Ele fez perguntas pontuais e me examinou. Depois falou longamente sobre as coisas ruins que podem acontecer no pós-operatório. E foi muito reticente sobre o que eu posso esperar. Eu reafirmei a decisão de operar - porque eu e meu médico achamos que não há outro caminho. (Eduardo vinha me perguntando há semanas por que eu não operava de uma vez, ele sabia que eu jamais quis, e ontem, quando liguei pra contar que minhas chances e esperanças haviam acabado, ofereceu-se pra ir comigo nessa consulta - e foi muito bom ter companhia.)
Agora a data da cirurgia depende das tratativas do hospital com o plano de saúde. Por mim eu faria amanhã. Como eu disse na consulta, durante todo o tempo que convivi com a hérnia jamais cogitei operar, eu sabia que teria que enfrentar crises eventuais e estava conformada com isso. Eu não operava porque não queria abrir mão de meu estilo de vida. Mas faz dois meses que meu estilo de vida inexiste, e há 24 dias não tenho sequer qualidade de vida.
É provável que minha carreira de maratonista tenha acabado. Não creio que meus médicos achem sensato eu voltar a fazer maratona por melhor que seja a recuperação. Não estou interessada nisso agora. Em todo caso, se a porta da corrida for fechada, com certeza haverá várias janelas abertas.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Diário pré-cirurgia - 1. A janela

Fecha-se uma porta e se abre uma janela.
Vou operar a hérnia de disco. Não há mais o que tentar. A gabapentina não funcionou, a dor é intratável, não cedeu com medicação, fisioterapia e acupuntura.
Tenho tomado tramadol ANTES de sair da cama de manhã numa tentativa - vã - de diminuir o martírio. Hoje foi de lascar. Além das costas e da perna esquerda, o pé esquerdo doía tanto que tive que fazer uns ensaios antes de conseguir apoiá-lo no chão. A dor é tamanha que provoca calor. Hoje só percebi que estava frio uns 30 minutos depois de encerrar as penosas atividades de fazer xixi, escovar os dentes, lavar o rosto (melhor dizer, dar uma molhadinha) e me vestir (com ajuda para colocar as calcinhas e as calças compridas).
Fico evitando o tramadol, pois a dose que funciona é altíssima e me deixa muito grogue. (A gabapentina já me deixa grogue o bastante. Sem falar que ambos provocaram uma constipação que me fez tomar laxante no sábado. Fora todo o resto da enooooorme lista de efeitos colaterais da dupla.)
Fiquei sabendo que teria que operar ontem, numa consulta com o médium João de Deus em Três Coroas. Fui lá esperando fazer uma cirurgia fluidica (já fiz uma pelo Templo Tupyara). Cheguei às 7h, passei pelo médium depois das 19h30min. Perguntei à entidade se eu teria que fazer uma cirurgia com os médicos da terra. "Vai operar. Mas toma o remédio antes." (O remédio é a passiflora energizada que a entidade prescreve.) Na hora senti uma dor enorme em meu peito, uma frustração e decepção tremendas. Lutei tanto, me esforcei tanto... Saí de péssimo humor. Na estrada mesmo liguei pra Maria Ignez, minha orientadora espiritual, e pedi pra vê-la logo, pra confirmar.
Aí hoje de manhã, antes de ir na Maria Ignez, liga a secretária do neurocirurgião Albert Brasil, com quem eu tinha hora marcada pra 1º de junho. "O doutor não poderá atendê-la nessa data, e gostaria de saber se a senhora poderia vir amanhã às 14h30." Claro que a senhora poderia, pode e irá!
Fui na Maria Ignez, e ela confirmou o que o médium disse. Desde que essa crise começou, eu sabia que só com milagre pra escapar de uma operação. O milagre que eu desejava não será possível. Mas muitos outros pequenos milagres já estão acontecendo.
Falei com meu neurologista maravilhoso, Francisco Rotta, agora de manhã, expliquei a quantas ando (ou não ando). E ele decidiu que está na hora de encerrar o tratamento conservador. Rotta havia estipulado um prazo de duas semanas com a dose-alvo de gabapentina. Eu tomei apenas quatro dias dessa dose (cavalar), mas não adiantaria insistir. Eu simplesmente não apresentei uma melhora suficiente para ir adiante. Tenho a mais plena confiança no Rotta. Ele é o médico da minha mãe, tornou-se meu médico no ano passado. Já havíamos conversado sobre as minhas possibilidades, e ele deixara bem claro que a gabapentina era a última chance. E que não havia qualquer garantia de sucesso. E que, se não funcionasse, eu teria que operar - e ele indicaria um médico.
Falei do neurocirurgião com quem vou consultar amanhã, e ele achou ótimo. Disse que esse médico estaria na lista dos profissionais que ele indicaria para me operar - e que nessa lista todos seriam do mesmo nível, não haveria outro nome melhor.
Cheguei ao doutor Albert Brasil por indicação do Jocemar, fisioterapeuta, marido da Dani Cecchini, também fisioterapeuta, que conheço do mundo da corrida. Jocemar foi meu salvador depois da maratona de 2009, quando tive cãibras nas duas panturrilhas. Ele me massageou por cerca de uma hora, até a crise passar. Nesse mundo tão pequeno, Jocemar e Dani também conhecem o Rotta, e também acham que estou em boas mãos.
Então é isso por hoje.
E agora aguardo a consulta de amanhã com grande entusiasmo. Já que o caminho é a cirurgia, que seja o quanto antes. Pra eu ficar recuperada o quanto antes. :)

sábado, 21 de abril de 2012

Em busca do tempo perdido

Tenho sentido uma enorme vontade de meditar esses dias. Tenho que meditar deitada por enquanto - não há cadeira em que eu aguente ficar sentada imóvel por 20 minutos. Mas estou conseguindo meditar sem dormir, mesmo com a quantidade de remédios que ando tomando. Esses remédios, aliás, provocam reações curiosas. Tem horas em que fico bem drogada. No começo ficava nervosa com com o estado de percepção difusa, mas agora já me acostumei e consigo levar a vida.
E a meditação? Bem, acredito que essa vontade de sentar tem a ver com não estar correndo há mais de dois meses. Porque eu realmente meditava correndo. :) Nada muito sistemático, nem muito profundo - mas o suficiente para eu estar sentindo falta. Quando voltar a correr, pretendo aprimorar a meditação ativa.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Refrescando a memória

Estou trabalhando na tradução de um livro de budismo da escola Theravada. Um presente do universo - e da Editora Global e da adorável Cristina Abdo -, mais um.
É a primeira vez que traduzo algo não ligado ao budismo tibetano, que é da escola Mahayana. Estou gostando muito, uma oportunidade linda de ver que os pontos em comum são muito maiores que as diferenças.
O mais maravilhoso é que se trata de um livro sobre o Caminho Óctuplo, um dos pilares do budismo. Assim, estou voltando a estudar o básico - que, como tudo mais, estudei mal e porcamente. Estou encantada de rever esses ensinamentos, ainda mais porque o livro é ótimo, leve, simples, fácil. (Que minha tradução faça justiça ao original.)
Consegui engrenar nesse trabalho no começo dessa semana. E as horas que passo envolvida com ele estão sendo um momento precioso de distração da dor e do problema na coluna. Que maneira espetacular de se distrair! :)
O mais notável é que pela primeira vez em muito tempo senti vontade de voltar a meditar. E fiz isso hoje. Agora é fazer como o autor diz, criar o hábito. Para ajudar, tenho um app no telefone, o Meditation Helper, no qual posso programar o tempo de meditação.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sonho de consumo

Computador? TV? Carro? Joias?
Não! Uma cadeira. Na verdade, A cadeira pra quem tem um problema de coluna como o meu. Aeron Chair, da Herman Miller. Infelizmente, vai ficar no sonho. Custa R$ 5 mil.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Beleza

Essas flores foram fotografadas por meu facefriend Marcelo Volcato. Fiquei encantada. Um show de cores na minha segunda-feira cinzenta e opaca.
Hoje, além da dor, tenho que enfrentar o baixo astral e uma perigosa tendência ao coitadismo. Afff.
Nunca havia ficado doente dessa forma, nem por tanto tempo. Nunca havia sofrido tamanha limitação. Meu corpo funcionava maravilhosamente. A incapacitação provocou um abalo moral.
Oh, sim, eu penso nas pessoas que têm problemas sérios de saúde, em especial doenças degenerativas de nervos e músculos e, nessa linha, no fim das contas as minhas provações e privações são insignificantes. Mas para mim são enormemente perturbadoras. E fim.

Luz no fim do túnel

A dor segue em lento recuo. Mas a minha tolerância está recuando mais depressa agora. Estou no limite. Todo dia de manhã, quando começa a luta pra sair da cama, penso que talvez fosse melhor operar de uma vez.
Na manhã de hoje, a caminho da fisioterapia, conversei com o neurologista. Na sexta-feira ele havia ajustado a dose diária de gabapentina, hoje fez novo ajuste e deixou mais um marcado para a quinta-feira, quando chegarei à dose-alvo. Tomarei essa dose por duas semanas, e aí saberemos se o tratamento realmente vai funcionar ou se a dor é intratável, restando apenas a cirurgia. A minha melhora indica reação ao tratamento, e meu médico disse que "há luz no fim do túnel".
Eu só espero que o túnel não seja longo demais.

Hoje me senti melhor ao longo da caminhada até a fisioterapia. Ainda arrasto a perna esquerda, mas me pareceu que estou mancando menos, estou conseguindo me manter mais reta. Na volta, o porteiro do meu prédio comentou: "Está mais firme, né?" Ele também notou a melhora. :)

sábado, 14 de abril de 2012

Raios de luz

Ontem encontrei duas pessoas extremamente desagradáveis. Uma por necessidade, outra por acaso. Depois desses encontros, quando voltava a pé para casa com minha filha - porque andar a pé é melhor do que de carro, não suporto a dor que sinto ao sentar em bancos de carros, e dirigir nem se fala -, passamos pela frente da clínica do "Doutor Sorriso".
O porteiro da clínica, que ontem descobri que se chama Luís Carlos, é meu amigo de "oi" há anos. Eu sempre passo pela frente da clínica correndo, e um dia começamos a nos cumprimentar. Eu gosto dele, ele gosta de mim. Encontrá-lo quando estou começando a corrida ou quando estou voltando dela é sempre um momento feliz, ele é como eu, sorri de verdade, com os olhos e o coração, um sorriso grande, generoso, luminoso, acolhedor.
Claro que ele percebeu que eu não passo correndo por lá faz tempo, e perguntou se eu não estava treinando. Eu disse que não, contei que estou muito mal da coluna. Eu e Lízia seguíamos andando enquanto rolava esse pequeno diálogo. Aí ele me chamou. Voltei, e ele pediu meu nome, disse que iria rezar por mim. Ele contou que é membro da Igreja Universal há dez anos e falou que ele e a esposa rezarão por mim todas as noites, e que irá levar meu nome para a caixinha de orações da igreja. Momentos como esse, pessoas como ele fazem meu coração transbordar de felicidade e gratidão. E me dão força, renovam o meu ânimo. O universo se manifesta e me mostra que não estou sozinha.
À noite, enquanto me preparava para a cirurgia fluídica pelo Templo Espírita Tupyara, recebi um sms de minha amiga Marcia Lima, corredora e religiosa como eu, que tem as mesmas hérnias que eu, L5-S1 e L4-L5, e que já fez essa cirurgia e me recomendou que fizesse. Ela está em Floripa, ia correr a Volta à Ilha hoje. Mas manteve a conexão comigo e participou da corrente.
Outras três pessoas queridas também estavam conectadas à corrente: Carla, babá da minha mãe (que também já fez uma cirurgia pelo Tupyara), minha irmã de coração Luciana (que vou encontrar hoje à tarde pra conversar sobre a Casa Dom Inácio de Loyola e o médium João de Deus, que vou encontrar no final de semana que vem) e meu fisioterapeuta, que iria pra SP com a esposa, mas, ao se despedir de mim na sessão de ontem, disse que rezaria e mandaria energias. Não sei se meu cunhado, que tem rezado por mim (assim como meu amigo Jaume), e minha irmã lembraram.
Assim, o aparente escore de 2x2 na verdade foi uma vitória esmagadora da luz. As duas coisas boas neutralizaram as duas desagradáveis e me preencheram de felicidade, alegria, força e determinação. Na hora da cirurgia eu estava fisicamente sozinha, mas no plano espiritual estava cercada de boas companhias.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Haja paciência, determinação e força

Quando tudo parecia encaminhar-se para eu ficar boa, uma nova crise. No domingo retrasado, 1º de abril, simplesmente acordei pior que nunca. Não conseguia sair da cama. Eu nunca havia sentido tanta dor da hérnia. Trata-se da famosa ciática in full force. As pessoas falam da dor de parto. A dor que senti ao parir Lízia não é sequer digna de nota perto da ciática.
Há 11 dias minha vida é basicamente infernal em termos físicos.
Sair da cama de manhã é o pior momento do dia. Tenho que virar de bruços e me arrastar para a beirada. Ponho uma perna pra fora, toco o chão, depois a outra. E aí vem o suplício maior, que é erguer o tronco. Fico um tempo arrastando a perna esquerda até conseguir andar mancando.
Ir ao banheiro e vestir as calcinhas ocupam o segundo lugar na longa lista de movimentos dolorosos. Calçar os sapatos não está classificado porque eu nunca mais consegui tocar meus pés de manhã. Então só uso sapatos de enfiar. Tênis está fora de cogitação, amarrar cadarços é impossível. Hoje preciso que Lízia tire o esmalte das unhas dos pés. Não posso ir na manicure por enquanto. Vou acabar com unhas compridas nos pés, affff.
Ontem à noite assisti um filme no sofá da sala. Eu estava cansada, resolvi deitar no sofá (e ficar sentada nele estava péssimo). Senti que não estava bom ali, mas eu queria ver o filme e não havia outro local para sentar. O resultado fez-se sentir já no meio da noite: acordei com dor e não havia posição, fiquei horas tentando me acomodar. Hoje de manhã levei mais de 15 minutos pra conseguir vestir as calcinhas e a calça (agora só uso calças folgas de malha, jeans justos e as calças de treino são inviáveis). Tentei calçar as sandálias. Depois de cinco minutos desisti e fui pra fisioterapia de chinelo de dedo.
Estava atrasada, tive que pegar um táxi. O trajeto levou menos de cinco minutos. Do mais puro sofrimento. Ao entrar no táxi, o motorista falou: "Ah, está com problema de coluna." E eu: "Sim, indo pra fisioterapia." Mal sentei, o pé esquerdo e parte da perna começaram a formigar. O terceiro colocado na lista da dor é justamente andar de carro/dirigir. Não consigo entrar em carros e ficar sentada neles é insuportável. Lotações e ônibus também não aguento. Tenho andado a pé sempre que possível. Caminhar é melhor, embora não seja agradável. E preciso tomar enorme cuidado porque a perna esquerda quase arrasta pelo chão, e volta e meia dou umas tropeçadas - que obviamente provocam um flash de dor ciático acima, até as raízes na lombar.
Eu nunca havia experimentado tamanha limitação física. Não posso carregar pesos, tenho que fazer peripécias para juntar coisas que caem no chão (e como deixo cair coisas!), escovar os dentes é uma empreitada, lavar o rosto é outra. Nunca mais pude me espreguiçar de manhã, o pior é que esse é um hábito arraigado, o movimento surge espontaneamente todas as manhãs. E eu sempre tento espreguiçar o mínimo que seja, mas na mesma hora vem a dor.
Sentar para trabalhar é desesperador e desanimador. Tenho que levantar a todo momento. Tenho dificuldade para me concentrar no texto porque a dor me distrai. Ponho almofada, tiro almofada, ponho uma mantinha, tiro a mantinha, subo e desço a cadeira.
Meus dias têm sido um teste de paciência, determinação e força. A dor provoca cansaço e prostração física e mental, estou com o semblante abatido e em alguns momentos me sinto muito desanimada, desmotivada. Mas, mesmo quando a dor me causa náusea e vertigem, quando tenho vontade de berrar, quando grito, gemo e suo, quando parece que vou ter um colapso, persistem em mim a disposição inabalável de aguentar o tranco e a certeza absoluta de que isso vai passar.