segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Voltei de verdade

Voltei realmente a correr. Faz umas três ou quatro semanas. Desde a maratona de maio de 2009 eu não conseguia correr bem, e menos ainda me sentir bem correndo. Eu não sabia, mas naquela época a hérnia de disco, que entrou em crise total no dia 2 de novembro de 2009, já estava me pegando. Eu vivia com dor na nádega esquerda, uma síndrome de piriforme que na verdade era o pinçamento da hérnia.
É muito curioso olhar pra trás e lembrar que eu sentia dor todos os dias sem exceção. Mais dor, menos dor, mas sempre dor. A dor na nádega esquerda era constante, às vezes combinada com dor na outra nádega, na faixa dos rins, nos joelhos, na parede paravertebral... Sem falar que de 2 de maio até a metade de agosto de 2009, além da dor crônica, tive uma alergia respiratória que me fazia botar os bofes depois de cada corrida e à noite, quando eu não dormia de tanto tossir. E ainda queria correr... E queria ter vontade de correr, e ter prazer! Sem noção.
Só comecei a encaixar no treinamento em outubro de 2010, depois de outra crise aguda da hérnia em setembro. Serei eternamente grata a Rafael Candeia, fisioterapeuta, que me ensinou técnicas de core training. Nas sessões com ele, que mais pareciam uma aula pegadíssima de personal training, comecei a estabilizar a coluna, descobri músculos que nem sabia que existiam por baixo da minha parede abdominal, a dor foi diminuindo, e fui me sentindo mais confiante de que a hérnia poderia tornar-se assintomática. Ele garantiu que ia dar certo, que eu poderia voltar a treinar forte.
Rafael foi a primeira pessoa que percebeu o óbvio no meu caso: fisioterapia convencional não resolveria (um médico também viu isso, mas queria me operar). Eu não precisava de alongamento, não tenho encurtamento. E é só olhar pra ver que não preciso de reforço nem de abdominal, nem de dorsal. O que eu precisava era segurar a coluna no lugar, minha coluna tem uma "folga", e os movimentos erráticos das vértebras moíam os discos, em especial o herniado. Com o core training fortaleci o que era fraco: os oblíquos internos e os transversos. E a coluna ficou estabilizada. A hérnia não dói mais porque não é massacrada pela vértebra. E eu nunca mais senti dor. Não tenho sentido sequer a pressão que sentia, aquele "estou aqui" da hérnia.
Nesse período nebuloso só não parei de correr graças à presença de mi amor de treinador Eduardo Schutz, que me orientou, incentivou e consolou - e manteve o otimismo de que a fase iria passar. Edu sabe melhor do que eu quais as minhas possibilidades na corrida e experimentou as mais variadas fórmulas e dosagens para descobrir como fazer meu corpo e minha cabeça voltarem a responder bem ao treino. Ele se puxou no planejamento, eu me puxei na execução, e viramos o ano festejando meus progressos.
Voltei a correr com sobra, quer dizer, consigo correr solto, fazendo um esforço suportável e agradável. O sofrimento doloroso desapareceu. Não me sinto no limite, não termino os treinos caindo aos pedaços. Termino cansada, mas inteira. E sem dor.
Hoje entendo que a fase em que eu não sentia vontade de correr, em que minha cabeça não estava nisso, foi não apenas necessária, mas muito saudável: uma parte de minha mente percebeu que meu corpo, por mais forte e resistente que seja, dessa vez tinha que ser poupado de esforço, tinha que dar uma parada. Foi um simples reflexo de autopreservação. Foi a melhor coisa que eu poderia fazer por mim naquele momento.
Como essa fase foi muito longa - e eu nunca havia sentido isso -, teve uma época em que pensei que talvez a corrida fosse passado, que eu não gostasse mais, que precisasse buscar outra coisa. Mas agora está tudo encaixado de novo. Correr voltou a ser uma parte prazerosa da rotina, não apenas uma obrigação.
Uma coisa importante foi ter baixado consideravelmente o volume semanal. Recebo uma planilha de quatro treinos; se tenho tempo e vontade, faço mais alguma coisa nos outros dias. Isso retirou a pressão. Afinal, não posso e não quero deixar de trabalhar pra correr. E também não pretendo reduzir minha vida a trabalho e treino, com tantos outros interesses (e também deveres) a me requisitar tempo e energia.
Agora são 7h de terça-feira, dia 11. Daqui a pouco vou pra pista da Redenção fazer um treino de pista. Há pouquíssimo tempo, eu ficava nervosa só de pensar em tiros. Ficou tão difícil que Edu deixou a pista apenas em uma vez por semana durante um tempo, e coisa bem leve. Ali por novembro voltei pra duas vezes por semana, mas ainda bem leve. Na semana passada começamos a puxar um pouquinho mais. E eu gostei. :)

7 comentários:

  1. Olá Lúcia,

    É estimulante ler sobre os seus treinos e seu regresso em grande à corrida. Adorei a foto do post de hoje, você está linda. É o meu modelo a seguir, é das poucas mulheres reais que me inspira!

    Beijo e continuação de boas corridas!

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  2. Foi Deus que colocou seu blog na minha tela! Coloquei no google: "hernia de disco voltei a correr" e sua pagina apareceu!
    Tenho os mesmos sintomas que voce e também fui diagnosticada como portadora de hernia de disco L5-S1. Quero muito voltar a correr, pois é minha gde paixão. Meu plano é fortalecer meus musculos abm e da coluna para voltar a correr com segurança. Gostaria de saber mais a respeito dessa fisioterapia diferenciada. Teria como a gente se falar? Bjs e tudo de bom!

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    1. Como é bom falar com pessoas com os mesmos problemas nossos, principalmente quando falam da superação deles. Há uns 10 anos atras quando era bem sedentaria fui diagnosticada com uma hernia de disco, tb na L5- S1. Saí da crise e iniciei atividdae fisica e com pouco tempo me apaixonei pela corrida. Passei todos esses anos sem sentir dor na região lombar. Recentemente tive uma lesão muscular por corrida forte sem o devido aquecimento, fui tratando da lesão mas não parei totalmente de correr. Corria sentindo um pouco de dor na area lesada (coxa) e acredito que mudei a postura e a forma de correr o que deve ter prejudicado a coluna. Resultado, voltei a sentir dor provocada pela hernia que estava adormecida há anos. Ai vem o desespero, não poderei mais correr? Foi bom saber de sua experiencia e vou procurar essa fisioterapia especializada. Bj

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  3. Mônica, não sei se você vai ler isso aqui, mas desejo-lhe uma rápida recuperação. Acredito que você possa correr de novo. Afinal, se eu passei por uma cirurgia em maio desse ano e já estou voltando a treinar de novo, por que você não poderia? Boa sorte!

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  4. Olá
    Acompanhei o seu relato de 2011, e achei muito interessante. Estou na mesma situação, só que no meu caso não é hérnia é protusão, um situação anterior à hérnia.Gostaria de saber por quanto tempo fizestes reforço muscular da lombar, até começar sentir melhora, e quanto tempo para voltar a correr novamente?
    Tu és de Porto Alegre? Se fores me dá uma dica de como contatar o fisioterapeuta Rafael Candeia que tu mencionas. Muito obrigado
    D. Campos

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    1. Oi!
      Eu operei a coluna em maio de 2012, minha hérnia tornou-se intratável.
      Antes de operar, tive umas três crises bem sérias; nessas ficava sem correr por 15 a 30 dias, voltava quando a fisioterapia me tirava da crise. Não tenho o telefone do Rafael Candeia, perdi, mas vou tentar descobrir; se achar posto aqui. Sei que ele estava com uma sala na Sociedade Libanesa, talvez você descubra o contato dele se ligar pra lá. Vale a pena procurar, ele é ótimo, fiquei muito bem depois de me tratar com ele, até ter a crise que me levou à cirurgia.
      Boa sorte e melhoras!

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  5. Ola, Meu nome eh Marcelo, e tambem descobri que estou com uma pequena hernia de disco mediana na regiao S5 L1 a qual esta me incomodando muito (ha queimacao no local), primeiramente tratei como sendo ciatico mas depois de realizar uma tomografia foi descoberto a dita cuja, rsrs. Estou fazendo pilates e comecei a fazer sessoes de mesa flexora. Ja fiz dez meias maratonas e to querendo realizar uma maratona no final do ano que vem. Sera que consigo??

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