domingo, 24 de dezembro de 2017

Santo Daime

Ano novo, novas experiências.
Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez? Ontem.
Fui conhecer o Centro Espírito Barca do Luar - São Francisco das Chagas pela manhã. (Indicação de uma amiga, claro. Que indicação!) Fiz atendimento com um médico espiritual e, o melhor, atendimento fraterno com uma mulher incrível, uma filha de Oxum, com quem senti afinidade e me conectei imediatamente. Reencontro. (Vou desenvolver um trabalho de autoconhecimento com ela, mais uma futura aventura inédita na expansão da mente.)
Fiquei sabendo que à noite haveria um evento com bailado e passes de Oxum e Iansã e atendimento e bênçãos de pretos velhos. Linha branca. Tipo umbanda. E fiquei sabendo também que nesse evento os interessados poderiam tomar daime.
Fiquei hesitando o resto do dia inteiro. Ir ou não ir? Fui. Minha intuição dizia pra ir, meu ego enumerava razões para não ir (o ego jamais quer qualquer experiência que possa abalar seu poder). Saí de casa tarde, mas cheguei lá e estava longe de começar. Me inscrevi pra tomar o Daime, expliquei que nunca havia experimentado, que uso medicação psiquiátrica, que tenho transtorno borderline. Um dos integrantes da casa, ao me ver meio perdida, me chamou pra conversar, explicou a origem do Santo Daime, culto que utiliza a ahayuasca, bebida tradicional das práticas religiosas dos índios latino-americanos. A Barca do Luar segue a tradição que, além dos elementos da religião cristã, incorporou a umbanda. Sensacional. Ele me instruiu a não ter medo, ficar de olhos fechados e em silêncio, não cantar, ouvir apenas. Enfatizou que eu estaria num ambiente seguro, amparada espiritualmente (e em termos práticos também - várias pessoas cuidam dos presentes).
Tomei. Confiante, mas claro que com uma ponta de medo. Começou o ritual, eu lá sentada, numa boa, sentindo nada. Até que senti (creio que uns 90 minutos depois - o tempo para fazer efeito varia de pessoa para pessoa). Senti a alteração da visão e da percepção espacial e corporal. De olhos fechados o processo foi intenso. Imagens assombrosas, muito em tons de lilás escuro, roxo, tipo uns fractais, ideias pesadas. Vieram os pensamentos e sensações de medo ("Nossa, tô doidona, e agora? Quando isso vai passar? Ai, o que são essas imagens? Por que tudo tão escuro e intimidante? O que eu tenho dentro de mim?"). Quando a coisa apertava muito, eu abria os olhos; ao fechar, era como se as imagens que eu tinha visto do salão e das pessoas se derretessem. Tem um relógio no salão, eu olhava pra ele, perdida na noção de tempo. Tive uma certa ansiedade, pedi para uma menina me acompanhar ao banheiro, saí caminhando bem zonza, meio grogue, rindo um pouco nervosa, ela dizendo que tudo bem, que era normal. A circulada e arejada me fizeram bem. Voltei, retomei o processo. Tinha vontade de me deitar em vários momentos, ficar mais acomodada. Pena que não tinha como.
Quando o ritual encerrou eu ainda estava meio fora, mas já sem medo e sem ansiedade, apenas sentindo uma leve alteração nas percepções sensoriais. Antes do bailado, ofereceram mais daime, e o preto velho que servia me disse para tomar mais um pouquinho, sem medo. Antes, uma menina havia me dito que a segunda dose deixava mais animado e ligado. Então tá. Mais meia dose. Essa realmente não teve o efeito anterior.
Cantos da para Iansã e Oxum, médiuns incorporadas, passes.
Para completar a grande noite, uma longa conversa com a preta velha Maria Conga (recebida pela mulher a quem já estou conectada), que me orientou mais sobre a experiência do daime. E me aconselhou a me entregar mais nos rituais, ser menos mental e dar passagem para as entidades, pois tenho o dom. Desde os 18 anos me dizem isso, mas nunca aconteceu. Maria Conga deu sugestões de como proceder nas próximas ocasiões. Quem sabe seja essa mais uma coisa  fazer pela primeira vez?

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