segunda-feira, 24 de março de 2008

Que nem farrista

Todo mundo sabe como é chegar em casa ao amanhecer e cair duro sem escovar os dentes ou tirar a roupa porque acabou o gás. Ou só perceber o tamanho do porre quando deita na cama e tem a impressão de que está num barco em águas revoltas. Minha mãe diz que é bem coisa de farrista: está ótimo enquanto está na gandaia, mas é chegar em casa pra passar mal ou sentir todo cansaço que não se manifestou durante a fuzarca. Também tem aquela coisa de estar jururu em casa, mas botar o pé na rua e ficar faceiro ligeirinho. Normal.
Como minha vida divide-se basicamente entre trabalho e treino, meu espírito de farrista foi transferido pros treinos. Só passo mal antes e depois. Pode ser doença, bolha, lesão. Enquanto estou malhando não sinto nada. Mas depois... a casa cai. O corpo de luxo vira um barraco.
No início de maio passado, caí feito feito uma jaca madura a três semanas da maratona. Estava saindo pra correr, não tinha andado 50 metros. Fiz como todo mundo que paga esse mico: levantei de um pulo e segui adiante. Notei que o joelho e a mão esquerdos estavam meio ardidos, mas fui embora. Quando parei... afff. Tinha um rombo em cada um. O joelho inchou da pancada, tive que tomar antiinflamatório. Passei uma semana meio manca - mas treinando. Era calçar o tênis e a dor sumia. Depois voltava, é claro. Fiz longões de 30km com a ferida do joelho grudando na calça, uma delícia na hora de tirar a roupa.
Em dezembro, outro tombo. Dessa vez abri os dois joelhos enquanto trotava a caminho do Cete. Como é que eu caio desse jeito não sei, é um mistério. Não me senti tropeçar nem pisar em falso, quando vi estava no chão. Trotei adiante, sentindo uma coisinha meio estranha, nem olhei, mas parecia ter algo escorrendo. Quando cheguei no Cete, meu treinador surtou: "Lu, mas o que foi isso?" Aí vi que os joelhos estavam mesmo escorrendo - sangrando. Limpamos, e fui treinar normalmente. Voltei pra casa de carona, isso porque o treinador mandou. Ainda bem que obedeci, porque trotar mais meia hora ia ser um suplício. Quando desci do carro na porta de casa, já estava toda dura de dor. Isso foi numa terça. Na quarta e na quinta ainda treinei, mas na sexta resolvi dar início às férias de fim de ano porque as feridas não cicatrizavam e doíam horrores, eu não conseguia dormir direito porque pulava quando elas tocavam nos lençóis.
Com bolha é a mesma coisa. Tive duas megabolhas no ano passado, uma em cada dedão do pé. Minha podóloga ficou horrorizada. Um dia ficou furiosa e me espinafrou: "Mas não dá pra tu correr menos, hein?" Hahaha, não dá!!! Especialmente porque as bolhas não doem quase nada de meia e tênis, até 20km dá pra agüentar na boa. Claro que quando ficava descalça só pisava com o calcanhar...
Fico feliz por nunca ter problemas sérios que me impeçam de treinar. É evidente que suporto esses desconfortos, às vezes bastante intensos, simplesmente porque o prazer de correr se impõe, é maior. Não poder desfrutar dele, e ainda por cima sentindo dor, estando machucada, seria uma infelicidade.

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