domingo, 23 de março de 2008

Quem corre por gosto não cansa


Comecei a treinar pra maratona de Porto Alegre. Será no dia 25 de maio, mas ainda não é certo que eu vá correr. Vai depender de ter tempo pra treinar e de me sentir bem. Só vou encarar o tranco se estiver confiante de que possa fazer melhor do que em minha estréia no ano passado. Corri em 3:33:38, e terminei inteira, me sentindo ótima. Nada de "muro" depois dos 30km, nada de dor. E nada de medo durante a prova.
Só tive medo antes da largada, fiquei apavorada. Tudo em que pensava era: "Mas que porra de idéia foi essa? O que estou fazendo aqui? Como pude me meter num perrengue desses? E agora não posso ir embora, meus amigos estão todos aqui. E também não treinei tanto pra amarelar no último minuto. Ah, mas nem fodendo! Agora já é." E lá fui eu.
Corri de touca de lã, luva, calça, top e camiseta de manga longa – todo mundo disse que eu tinha que correr com menos roupa, mas tenho certeza de que não. Quem sabe do meu corpo sou eu. E sei que sinto frio, e quando sinto frio passo mal, fico dura. E na véspera da corrida eu havia adoecido, à noite estava com 39 graus de febre, suando de encharcar o pijama e a cama. Não acreditei no momento em que meu corpo adoeceu, mas minha mente decidiu: a doença só ia vir com tudo depois do meio-dia, quando eu certamente já teria encerrado a prova. No fim só fiquei mal mesmo a partir de segunda-feira, e aí foram 15 dias com tosse e sem voz, uma puta faringite. Mas sem febre. Not so bad...
Bem, saí a correr, e o Celso, meu amigão, foi comigo. Fez apoio de bike. Pedalou a prova inteirinha pra me acompanhar. Não ficou do meu lado o tempo todo, mas estava sempre perto. Eu sabia que ele cuidaria de mim se desse xabu. E a presença dele também era um incentivo pra não afrouxar, pra não fazer corpo mole. Não dar uma de mulherzinha ou de pilha fraca. Nada de vexame, hehehe.
Ontem encontrei o Celso, e ele já disse que pedala de novo pra mim se eu quiser. Queridão!!!

Celso, que pedalou pra mim, e Filó, minha amigona, que telefonava pro celular dele pra me dar força na finaleira

Mas o que parece ter acontecido comigo este ano foi uma crise de amarelão crônico. No segundo semestre do ano passado, meu rendimento despencou. Estava exausta e trabalhando como doida. Melhorei em novembro, mas a corrida começou a ter um fator de sofrimento que não havia antes. E isso começou a me perturbar.
Quando voltei a fazer treino de pista nesse ano, me apavorava nos dias dos tiros mais longos. Saía da cama sem vontade, já chegava na pista exausta e não conseguia fazer tudo. E detestava os treinos. Também não conseguia fazer os longões de domingo. E se fazia era um tormento. Correr deixou de ser um prazer – só era bom quando encerrava o treino. E larguei a musculação, um aburdo, porque adoro malhar ferro, mas não tinha força.
Há duas semanas, conversei com meu treinador, e consegui dar início à reversão desse quadro. Como ele disse, a corrida para mim é um meio, não um fim. É lazer, não pode virar motivo de stress – pra isso já tenho trabalho, casa, todos meus compromissos. Correr não é obrigação, é diversão. Aí comecei a desencanar. E voltei pra musculação, o que só melhora tudo.
Não sou competitiva, não dou bola pro desempenho dos outros. Não me comparo com ninguém - só comigo mesma. Tenho um nível de exigência muito alto comigo mesma. Em tudo: no desenvolvimento pessoal, no trabalho, no tricô, na corrida. Tenho que fazer sempre o melhor possível. Como na corrida não estava conseguindo render o que poderia render (e o que meus amigos acham que eu posso render), comecei a sofrer. E a ter medo. Medo de treinar mal, medo de sofrer no treino e nas competições, medo de fracassar. Virou um tormento geral.
Depois de mudar a paisagem mental, estou redescobrindo o prazer de correr. Domingo passado fiz 24km. Não foi uma maravilha, mas foi ok, senti um pouco de desânimo na hora de voltar, mas sem cair naquelas de: "Oh, meu deus... ainda falta a metade... ai, ai, ai. Que horror, que droga, não quero fazer." E encontrei muitos amigos no trajeto, o que foi bem bom.
Na terça fiz 10x400m. Não consegui fazer no tempo planejado, mas fiz na boa.
Na quinta passada, tinha que fazer 6x1000m. Cheguei na pista em pânico. Mas me dispus a fazer o que desse, como desse. Fiz tudo. Os três primeiros foram mais lentos que os três últimos, porque comecei mais leve, evitando o sofrimento. E depois fui melhor ao natural, fluiu, não houve sofrimento. Terminei inteira. E feliz comigo mesma.
Hoje fiz 25km. Sozinha. E numa boa. Consegui manter o ritmo. E curti a corrida. O tempo nublado ajudou. E fiz tudo no Gasômetro e Zona Sul, um trajeto que acho lindo e com o qual estou acostumada.
A bateria do mp3 acabou no km 11. Fiquei tranqüila, não senti falta do pancadão nos ouvidos, um prodígio.
Fiz 21km indo e voltando; ou seja, ainda tive que ir e voltar de novo mais 2km. E com um vento da porra na virada, o que há duas semanas me levaria a parar na mesma hora.
Fechei os 25km em 2h02min. Inteira. E de bom humor. E mais confiante. Estou corrigindo o rumo, acertando o passo e o foco.
O que quero agora é reestabilizar a paisagem mental da corrida como um desafio prazeroso. Algo que faço para me sentir bem, não para passar mal.

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