sábado, 2 de fevereiro de 2013

Omio odo yá

Vim pra praia sexta à noite, maior trânsito na estrada, mas queria entregar uma bandeja pra Yemanjá. Cheguei perto da meia-noite e fui pra beira-mar. Pretendia arriar o ebó no pé de uma imagem na praia, pela qual costumo passar correndo - e que sempre saúdo, o que fiz inclusive durante a Summer Day Run. Mas o universo tinha um plano melhor. Fui na direção da estátua, avistei uma movimentação, desci do carro e fui lá. Não era a estátua (ela fica mais longe), era uma cerimônia de uma casa de Canoas, o Centro Energético Reino de Oxalá, do Pai Jaime de Ogum. Perguntei se podia entregar a bandeja ali. As pessoas simpáticas e receptivas concordaram numa ótima.
Ogum estava na terra. Veio me receber e disse onde eu podia montar minha bandeja. Ogum é Ogum. Enquanto eu preparava, veio ele mesmo me ajudar, agachou-se ao meu lado e segurou o papel que forrava a bandeja para eu poder colocar a canjica, mel, merengues e cocadas. Me ajudou e rezou por mim e para mim. E ainda me deu uma rosa branca e uma amarela pra eu enfeitar a oferenda. Eu disse ao Pai que sou da Oxum e de Xangô, mas que havia sonhado com ele um dia desses. Sonhei mesmo. Um sonho muito interessante. Ogum chegou em mim no apartamento de minha mãe, eu senti ele se aproximar e me ocupar. Foi uma possessão consciente, eu estava lúcida, mas sabia que Ogum estava em mim. E, na mesma hora que tomou meu corpo, ele me tirou do chão, fiquei flutuando a uns 30 centímetros de altura, enquanto ele dizia que tinha vindo abrir meus caminhos. Já sonhei com os orixás várias vezes, eles  vêm a mim na rua ou no quarto de santo. Sempre para me cuidar e remover obstáculos. Dessa vez, curti muito andar flutuando conduzida por Ogum.
Foi muito auspicioso entregar minha bandeja para Yemanjá numa festa regida por Ogum, tendo ele me aparecido em sonho há tão pouco tempo. O dono da rua está comigo por causa do filho dele. Para reparar danos e abrir os caminhos.
Para completar, enquanto eu preparava o ebó, ajoelhada na frente do altar montado na praia, os filhos da casa cantaram os pontos da Senhora Minha Mãe Oxum. Tudo em sincronia.
Depois de montar a bandeja, recebi o axé de uma Yemanjá que me disse coisas lindas, que levaria com ela todas as minhas preocupações pro fundo do mar. E fui pedir a bênção do Pai Ogum, que me rezou e chamou Oxum. Os cantores começaram outro ponto dela, e a Senhora Mãe encostou, meu corpo afrouxou e balançou, Ogum me segurou pelos braços e falou com ela, e Oxum começou a sorrir com meus lábios. Ogum fechou meus punhos e cruzou meus braços pra Senhora Mãe subir. Sei que ele falou do sorriso dela, de seu espelho e muitas outras coisas, mas não lembro.
Pouco depois, entregaram o barco no mar. Ogum me trouxe a bandeja que preparei para eu mesma levá-la. E lá fui eu pra dentro d'água junto com os filhos da casa, e entreguei a bandeja junto com o barco. Com ela entreguei meus pedidos de luz, clareza e paz pra senhora que é dona da cabeça. E entreguei todas as minhas aflições pra dona do mar transmutar em suas águas salgadas. Na hora de entregar não pedi nada, não pensei em nada. Estava tudo rezado por Yemanjá e Ogum. Só fui no fluxo.

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