domingo, 11 de setembro de 2016

Três anos e mil tretas


Final de relacionamento nunca é fácil. Alguns podem ser especialmente dolorosos. E outros podem enveredar por trilhas bizarras, doentias, perversas.
Normal sentir ciúme póstumo. Quem nunca? (Eu sempre.) Ver ex com outra pessoa no início dá um desconforto, pra dizer o mínimo.
Agora, estar com outra pessoa e ficar atormentando ex por seguir sua vida é demais. No meu caso, bateu um novo recorde. Resolvi registrar a crônica, já que a data é especialmente propícia.
Na última semana, vi por acaso que Rita havia me desbloqueado no WhatsApp e Facebook (havia bloqueado por um ataque de ciúme doentio e infundado). E tentado falar comigo, ligando pro telefone de casa e deixando mensagem. Era terça-feira quando vi, aí convidei pro show do Ira! na quarta. De boa, sei que adora o Ira!, uma das nossas poucas afinidades musicais. Seria a oportunidade de ver como estávamos depois de mais de um mês de separação. O convite rendeu uns desaforos por causa do ciúme. Foi recusado, mas no fim da noite mandou whats dizendo que estava pensando em ir ao show no dia seguinte.
Na quarta, feriado, me convida pra tomar um café à tarde, pois não poderia ir ao show. Primeira vez que nos vemos, Muito difícil. Mal entrei no carro, mil ataques à suposta nova "namorada", que estaria apaixonada por mim e me comprando com presentes (como se eu fosse uma mercenária barata, e minha amiga uma trouxa, louca ou carente que quisesse comprar amor - sabendo que eu amo outra, casualmente ela, affff). E se fosse?, perguntei. Por que isso incomodava tanto? Sem resposta.
Passada a onda de ciúme e de agressões mútuas (típicas de coisas mal resolvidas), estacionada na porta da minha casa, ouvi que fui e sou o maior amor da vida dela. Com os olhos cheios de lágrimas, falou que come mal, que não consegue dormir à noite, que sente falta do modo como nos encaixávamos na cama, que nunca mais dormiu assim, que chora de saudade, que não tem saído, que passa a maior parte do tempo em casa sozinha, que só se sente feliz com os alunos.
Pra mim também não está sendo fácil. Ainda mais que o rompimento nem era o que eu desejava na época. Desatei a chorar, nos abraçamos ("O melhor abraço do mundo", disse ela). Foi um momento muito lindo. E doído. Porque, por mais problemático e neurótico que seja o amor, por mais misturado que esteja com coisas doentias, também é amor. Uma parte é amor. Uma flor de amor híbrida, conforme uma analogia que desenvolvi há uns meses. No meu caso, um amor de perdição, ao que tudo indica. Haja terapia.
Ao voltar do show do Ira!, concluí que não dava pra seguir falando, porque ouvir essas coisas do amor que existe, sentir o que eu senti naquele carro, me fazia olhar pra trás e parar de andar pra frente. Muito sincera e simplesmente, voltei a pensar se haveria possibilidade de volta, se ela estava pensando nisso, querendo tentar de novo. Eu já tinha dado por encerrado, mas aí balancei, fiquei toda confusa. Na real, eu estava confusa desde o rompimento, porque sempre havia uma especulação de possibilidade de retorno no futuro (alimentada mutuamente). Eu tentava não pensar nisso, mas é claro que pensava.
Aí bloqueei a pessoa pra fugir disso tudo, dela, de mim, da minha confusão. Como se adiantasse... Na manhã de quinta, ao ver que havia sido bloqueada, novo surto de ciúme. Telefonema (não atendido, eu estava no trabalho desde cedo), email e sms me detonando. Desbloqueei. Aí me bloqueou no Whats. E deixou o Facebook aberto. E eu não entendendo nada, cada vez abalada. Com saudade, triste. Toda errada. Mas tem o trabalho, tem a vida cheia de coisas boas acontecendo. E a eterna esperança de que tudo vai ficar bem. Separadas ou juntas, vai saber.
Na sexta-feira de noite, depois de ver meu blog e ver uma foto no meu Facebook (que curtiu e descurtiu, só pra eu ver que ela tinha visto), Rita desbloqueia no WhatsApp pra mandar desaforos por causa do ciúme. Com direito a print do meu blog. E me bloqueia de novo. Fiquei atônita. Ainda mais que, pouco antes, estávamos em bares a 200m um do outro.
E aí vem o ponto alto.
Ontem, no começo da tarde, a ex passa de carro acompanhada. Não resisti e mandei sms. Ela respondeu que estava com "uma grande amiga". Mais tarde, vi pelos amigos em comum que a "grande amiga" provavelmente já estava com ela na sexta de noite (e ontem à tarde). Ou seja, estava com a amiga na sexta à noite, quando me desbloqueou pra mandar desaforos por causa do ciúme. Juntando com umas insinuações que ouvi na quarta, concluí que também estava com a amiga antes de ir me encontrar. (Depois vi que estava mesmo, porque a pessoa fez check-in no restaurante em que almoçaram, na rua da minha casa.) E o jantar com as amigas que não podia ser desmarcado pra ir ao show do Ira! talvez fosse com essa mesma amiga.
O que levou minha ex-namorada a me atormentar com seu ciúme quando já estava com outra pessoa? A dizer que havia me dado sua vida, como se eu não tivesse valorizado isso e estivesse trocando  o amor dela (que terminou comigo) por bens materiais? Ela sabe como eu sou, sabe o que causa em mim quando se aproxima, sabe o que eu sinto, sempre deixei muito claro o quanto amo, inclusive ontem ainda, quando começou a cair a ficha dessa situação bizarra. Não tenho resposta pra isso. Nem terei. Isso é dela.
A pergunta importante não é essa.
A pergunta importante é: por que eu amo uma pessoa que age dessa forma?
Por que me relacionei com alguém que envolve a mim e outras pessoas num jogo de vaivém e mentiras? Que brinca com os sentimentos profundos que sabe existir? Que faz coisas que sabe que vão ferir profundamente? Que me disse uma vez que sempre joga fora aquilo que mais ama?
Por que eu fiquei tanto tempo num relacionamento tão conturbado, marcado por separações e brigas que me deixavam arrasada, que nunca me proporcionava sensação de estabilidade?
Isso que eu sinto é amor mesmo? É esse o tipo de relacionamento e de amor que eu quero?
E há outras perguntas ainda mais importantes, que vão desvendar por que EU também faço essas coisas com pessoas que amo. Afinal, ninguém briga sozinho. Por que eu buscava relacionamentos marcados por brigas, hostilidade e abusos mútuos? Por que eu agia dessa forma? Como agir diferente a partir de agora?
     
Por que esse momento "querido diário"? Por que me expor desse jeito?
Porque hoje completaríamos três anos de namoro.
Porque nesses três anos as redes sociais sempre foram muito relevantes em nossa vida.
Porque nesses três anos tive a minha intimidade exposta e comentada por terceiros como nunca antes na vida. Hoje resolvi comentar eu mesma.
Porque, passado o choque de ver que eu continuava num jogo perdido, vejo que estou bem. Dessa vez não fiquei arrasada. 
Porque, embora eu ainda não tenha respostas, muito menos certezas, vejo que estou no caminho certo para ser quem quero ser e realizar sonhos e planos.
Amor é bom. Amor faz bem. As coisas que causam dor não são amor.
Sigo cultivando mudas da flor de amor. Buscando espécimes menos "híbridos".

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