Voltei realmente a correr. Faz umas três ou quatro semanas. Desde a maratona de maio de 2009 eu não conseguia correr bem, e menos ainda me sentir bem correndo. Eu não sabia, mas naquela época a hérnia de disco, que entrou em crise total no dia 2 de novembro de 2009, já estava me pegando. Eu vivia com dor na nádega esquerda, uma síndrome de piriforme que na verdade era o pinçamento da hérnia.
É muito curioso olhar pra trás e lembrar que eu sentia dor todos os dias sem exceção. Mais dor, menos dor, mas sempre dor. A dor na nádega esquerda era constante, às vezes combinada com dor na outra nádega, na faixa dos rins, nos joelhos, na parede paravertebral... Sem falar que de 2 de maio até a metade de agosto de 2009, além da dor crônica, tive uma alergia respiratória que me fazia botar os bofes depois de cada corrida e à noite, quando eu não dormia de tanto tossir. E ainda queria correr... E queria ter vontade de correr, e ter prazer! Sem noção.
Só comecei a encaixar no treinamento em outubro de 2010, depois de outra crise aguda da hérnia em setembro. Serei eternamente grata a Rafael Candeia, fisioterapeuta, que me ensinou técnicas de core training. Nas sessões com ele, que mais pareciam uma aula pegadíssima de personal training, comecei a estabilizar a coluna, descobri músculos que nem sabia que existiam por baixo da minha parede abdominal, a dor foi diminuindo, e fui me sentindo mais confiante de que a hérnia poderia tornar-se assintomática. Ele garantiu que ia dar certo, que eu poderia voltar a treinar forte.
Rafael foi a primeira pessoa que percebeu o óbvio no meu caso: fisioterapia convencional não resolveria (um médico também viu isso, mas queria me operar). Eu não precisava de alongamento, não tenho encurtamento. E é só olhar pra ver que não preciso de reforço nem de abdominal, nem de dorsal. O que eu precisava era segurar a coluna no lugar, minha coluna tem uma "folga", e os movimentos erráticos das vértebras moíam os discos, em especial o herniado. Com o core training fortaleci o que era fraco: os oblíquos internos e os transversos. E a coluna ficou estabilizada. A hérnia não dói mais porque não é massacrada pela vértebra. E eu nunca mais senti dor. Não tenho sentido sequer a pressão que sentia, aquele "estou aqui" da hérnia.
Nesse período nebuloso só não parei de correr graças à presença de mi amor de treinador Eduardo Schutz, que me orientou, incentivou e consolou - e manteve o otimismo de que a fase iria passar. Edu sabe melhor do que eu quais as minhas possibilidades na corrida e experimentou as mais variadas fórmulas e dosagens para descobrir como fazer meu corpo e minha cabeça voltarem a responder bem ao treino. Ele se puxou no planejamento, eu me puxei na execução, e viramos o ano festejando meus progressos.
Voltei a correr com sobra, quer dizer, consigo correr solto, fazendo um esforço suportável e agradável. O sofrimento doloroso desapareceu. Não me sinto no limite, não termino os treinos caindo aos pedaços. Termino cansada, mas inteira. E sem dor.
Hoje entendo que a fase em que eu não sentia vontade de correr, em que minha cabeça não estava nisso, foi não apenas necessária, mas muito saudável: uma parte de minha mente percebeu que meu corpo, por mais forte e resistente que seja, dessa vez tinha que ser poupado de esforço, tinha que dar uma parada. Foi um simples reflexo de autopreservação. Foi a melhor coisa que eu poderia fazer por mim naquele momento.
Como essa fase foi muito longa - e eu nunca havia sentido isso -, teve uma época em que pensei que talvez a corrida fosse passado, que eu não gostasse mais, que precisasse buscar outra coisa. Mas agora está tudo encaixado de novo. Correr voltou a ser uma parte prazerosa da rotina, não apenas uma obrigação.
Uma coisa importante foi ter baixado consideravelmente o volume semanal. Recebo uma planilha de quatro treinos; se tenho tempo e vontade, faço mais alguma coisa nos outros dias. Isso retirou a pressão. Afinal, não posso e não quero deixar de trabalhar pra correr. E também não pretendo reduzir minha vida a trabalho e treino, com tantos outros interesses (e também deveres) a me requisitar tempo e energia.
Agora são 7h de terça-feira, dia 11. Daqui a pouco vou pra pista da Redenção fazer um treino de pista. Há pouquíssimo tempo, eu ficava nervosa só de pensar em tiros. Ficou tão difícil que Edu deixou a pista apenas em uma vez por semana durante um tempo, e coisa bem leve. Ali por novembro voltei pra duas vezes por semana, mas ainda bem leve. Na semana passada começamos a puxar um pouquinho mais. E eu gostei. :)