quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Papo cabeça

Reconquistei minha cabeça, que está como deveria ter estado sempre: sem mão sobre ela. A sensação de liberdade, leveza e alegria que isso me proporciona é imensa. Enfim corrigi uma distorção surgida entre os 18 e 21 anos, quando fiz minha primeira obrigação-de-santo sem ter a menor idéia do que se tratava.
Depois de tantos anos e de três mãos encontrei uma forma de me relacionar saudavelmente com forças divinas nas quais acredito intensamente, que me proporcionam uma enorme vitalidade e alegria, que associo à magia e ao milagre da vida em um corpo físico. Não vou mais seguir a tradição, não vou mais realizar práticas que não combinam comigo. Mas tenho certeza de que aqueles a quem respeito e amo e em quem confio, aqueles que me acolhem, amparam e protegem estão felizes e satisfeitos, plenamente de acordo com o Caminho do Meio que pretendo seguir. Até porque é evidente que eles não fazem questão de ser honrados da forma tradicional. Porque, se fizessem e quisessem, eu teria abaixado a cabeça para isso sem nenhum problema. E minha prática teria sido constante ao longo dos anos, e não totalmente errática e esporádica, como sempre foi.
Vou me dedicar de modo consistente à prática budista, que é o meu caminho, que é como eu vejo a realidade (ou tento ver). Mas meus orixás e todo o povo da rua continuam onde sempre estiveram: em meu coração. E vou continuar a honrá-los. Do mesmo modo, só tenho coisas boas para lembrar e falar das três mãos que passaram por minha cabeça, de pessoas com grande fundamento religioso, que me acolheram em suas casas. Continuo me vendo como filha de cada uma delas, tenho um carinho, respeito e admiração imensos. Tenho certeza de que minha cabeça jamais foi tocada por uma mão errada ou pesada, a única coisa é que eu realmente não posso seguir a tradição.
Jamais me envergonhei de freqüentar ilês. Deve ser porque nunca fui pedir o que não era meu, nem fazer mal para ninguém. Aliás, o principal motivo para eu não ter seguido a prática formal, além da matança, foi ver o quanto essa energia é usada de modo errado, por motivos errados. Especialmente por gente que só vai no terreiro "comprar" serviços.
Agora, desvinculada dos sacrifícios e livre de compromissos mundanos, poderei cultivar minha devoção por essas deidades pacíficas e iradas com mais empenho e sossego. E poderei experienciar a tremenda vibração que brota quando me conecto a essas energias da natureza, quando realizo que elas estão em mim e que eu sou elas, e que tudo é um.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

À procura

Não sei o que é mais chato:
- gente que se acha quando não é procurada,
ou
- gente que procura onde não vai achar nada que seja da sua conta.
Affffff.
Claro que me ocorrem uns chavões bem apropriados:
- vai procurar a tua turma;
- tem gente que procura pêlo em ovo;
- tem gente que vê mosquito na lua;
- eu não me acho, você que me procura;
- quem procura acha;
- tá procurando sarna pra se coçar.
E como tento ser compassiva, vou evitar esses outros:
- vai pentear macacos;
- vai catar coquinhos;
- vai tratar da vida;
- late que eu tou passando.
O refrão funk me remete sempre ao glorioso Ibrahim Sued: "Os cães ladram e a caravana passa."

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Guaraná??? Só se fosse com gim

Se não me enganei redondamente quando ouvi a propaganda há uns mil anos, "Since I've Been Loving You" foi usada num comercial de guaraná. Hahaha, francamente...
Bem, bem, eu agora estou tomando chimarrão e ouvindo várias versões dessa música. E estava traduzindo quando lembrei da tal propaganda, e fiquei pensando que "Since I've Been Loving You" combina com destilados e com um porre daqueles. Ainda mais se a pessoa entrar numas com a letra, um clássico da corno-music, affffff.
Gim e vodca me parecem os mais a calhar, um bourbon também, já que é um blues pesadíssimo. Mas, como a banda é inglesa, quem sabe um scotch. Na dúvida, muito de tudo. Com cigarros, é lógico.
Eu se fosse entrar na garrafa optaria por absinto, pra uma bebedeira genial e portentosa. Até porque o verde do absinto ia combinar com o tom de azul que domina a filmagem de "Since I've Been Loving You" no filme "The Song Remains the Same". E quanto à fumaça trocaria os cigarros por uns incensos de masala ultra-adocicada.
Não me lembro de ter tomado porre ouvindo Led Zeppelin. O que fiz foi ouvir Led I à exaustão durante uma viagem com chá de cogumelo nas priscas eras. I got really dazed and confused, and about to lose my worried mind indeed. Fiquei deitada viajando na música e nos padrões de cores que se formavam diante de meus olhos fechados. E depois fui pro centro de ônibus com a minha irmã!!! E lembro nitidamente de como vi a rodoviária de Porto Alegre ao passar por lá, da sensação.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Meu Gandharva

Na minha terra pura, os gandharvas cantariam como Robert Plant, que hoje completou 60 anos.
Meu gandharva pessoal não tem nada de pássaro ou cavalo, ele é um Leão.
Meu gandharva fez 60 anos, e seu rugido me encanta há 30.
Se sou fã de alguém nessa vida, é dele.

domingo, 17 de agosto de 2008

Dias e dias

Fiquei sem treinar, completamente parada, de 25 de julho a 10 de agosto. Aproveitei as férias da filha e da empregada. Precisava terminar um trabalho, precisava aumentar o horário do expediente. E as atividades com minha mãe estão exigindo mais de mim. E eu andava sentindo várias dores, e algumas delas estavam ficando fortes. Então parei. Para garantir a pausa tão necessária por tantos motivos, arranjei mais um outro que realmente impediu os treinos nesse período.
Voltei a treinar na segunda-feira passada, 11 de julho. Saí pra um trote no Parcão. O Polar chegou a marcar FC de 192, achei que estivesse doido, porque minha cinta está meio detonada, e eu não estava bufando. Enfim, fiz 35min em vez 45min, porque não quis forçar. Na terça choveu, fiz só musculação. Quarta rodei 10km com o Garmin, e a FC média foi de 180!!! Affff. Não chego a isso na pista, nem em provas. Na quinta, mais 10km, FC média de 174. Na sexta outros 10km, com FC média de 172. Ontem fiz 15km, e a média foi de 170. Era pra fazer 18km, mas não deu. Fiquei cansada, pesada e lenta.
Como estou em recuperação, estou atenta e cuidadosa. E respeitando o ritmo que meu corpo está apresentando. Eu e meu treinador concluímos que o baque no rendimento tem a ver não tanto com o tempo da pausa, mas com o desgaste provocado pelo procedimento a que me submeti.
Além disso, estou me adaptando a uma nova rotina que inclui os cuidados com minha mãe. Estou me tornando o HD externo dela, sua placa de memória.
Minha vida parece ter mudado muito nessas três semanas. Minhas prioridades estão mudando. Meus dias, minha rotina... O processo iniciou-se em 22 de abril, na primeira consulta de minha mãe com o neurologista. Mas eu notei mesmo as alterações durante as semanas sem treinar e nessa primeira semana de retomada. E tenho pensado muito na frase "Some days are better than others".
A velocidade do avanço da doença de minha mãe me pegou de surpresa. Achei que seria mais lento. Eu estava preparada para o que pode acontecer, mas não estava preparada para o ritmo.
Tempo. Ritmo. Velocidade. As grandes questões do momento. Em tudo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Pavios

Desde a semana passada estou me distraindo com a confecção de velas de parafina. Começou com a compra de uma lamparina. Para abastecê-la, disseram que eu deveria usar parafina líquida. Fui numa loja de artesanato e comprei parafina gel achando que servia. Derreti a tal parafina e verti para a lamparina. Eta trapalhada! A parafina secou e voltou a ser gel, passei o maior trabalho pra derretê-la dentro da lamparina, que era a única forma de removê-la de lá.
A lamparina acabou rachando, affff - mas estou usando-a mesmo assim, depois que descobri o eco solvente, ou isoparafina, um tipo de querosene chique pra lampião, que achei numa ferragem. Por via das dúvidas, comprei outra lamparina igualzinha, azul transparente, de vidro. Existe um fluido pra parafina, mas custa os olhos da cara, vou manter o tal solvente, que não fede ao queimar. Só faltava transformar minha casa num galpão crioulo...
Enfim, como tinha 1kg de parafina gel, resolvi fazer velas. Comecei colocando dentro de vidros que eu já possuía. Um deles era um pote de sobremesa, que rachou todo quando a vela chegou ao fim. Mas depois fui atrás de mais vidros (hoje achei uns maravilhosos, que alegria!), mandei uma garrafa de cerveja e uns potes de geléia pra serrar numa vidraçaria (uns já com velas dentro...) e resolvi usar também a parafina comum (que é muuuuito mais barata) e corantes e essências aromáticas.
Agora darei velas de presente pra todos os próximos aniversariantes, porque preciso dar vazão à produção.
Tenho paixão por fogo. Desde criança me encantava vendo as chamas e brasas na lareira ou churrasqueira. Velas me fascinam, gosto de dormir à luz de velas, de tomar banho à luz de velas, especialmente quando encho a banheira. E as velas combinam com outra de minhas paixões: os vidros. Gosto de velas embutidas em vidros, mais do que expostas em castiçais.
Em minha casa, cultivo a presença dos quatro elementos intensamente: o fogo das velas, a água de minhas duas fontes (que viraram bebedores dos três gatáquilos mal-educados), o ar dos incensos (que também têm fogo) e dos aromatizadores (rechauds com vela e água) e da música também (creio eu), a terra das pedras que coleciono (e que são as bases de minhas fontes). São elementos indispensáveis na minha noção de lar.
E para mim parece muito natural fazer velas nesse momento de minha vida. A mulher de pavio curto descobriu em si, subitamente, uma paciência inesgotável. Bem, bem, talvez eu tenha economizado meu estoque de paciência todos esses anos pra poder esbanjar agora. :) Brincadeirinha boba... Mas me alegro quando consigo ter esses rasgos de bobagens.