sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Corpo de luxo

Este corpo só me dá prazer! Às vésperas de completar 44 anos de uso, meu agregado físico é um objeto completamente eficiente. Pode não ser o veículo para a iluminação, mas está percorrendo o caminho desta vida numa ótima. Embora seja veículo de inúmeras ações não-virtuosas, também tem prestado serviços na geração de méritos.
Sinto-me muito confortável nesta pele. E desfruto intensamente do prazer de utilizar meu corpo para correr, caminhar, pedalar, comer, me movimentar. E para sentar e meditar. Para focar minha mente na respiração, nos batimentos cardíacos. Para praticar o Dharma!!! Para trabalhar. Os olhos vêem os textos que minha mente traduz, e meus dedos digitam.
Meu corpo gerou outro ser, e a gravidez foi uma tremenda experiência física, além de emocional. Curti cada estágio, e a dor do parto foi simplesmente uma cólica, que encarei na boa, sem nenhum tipo de anestesia. Nada de sofrimento, nada de mal-estar. Apenas fiquei cansada de fazer força. É trabalho de parto mesmo. Gostaria de gerar outro filho com este corpo, mas nunca tratei disso realmente.
Um amigo referiu-se a meu corpo como "corpo de luxo" este ano, e achei o máximo! É mesmo um corpo de luxo, forte e saudável, muito resistente, que raramente adoece. Associado a uma mente em desenvolvimento.
Quem está de aniversário? Vejo a data como algo relacionado mais a meu corpo que minha mente. Este corpo tem 44 anos, a mente existe desde tempos sem princípio, e um dia trocará de corpo outra vez. Talvez esse seja um dos motivos para eu não encanar com minha idade. Não é "minha". É do meu corpo. Ele está envelhecendo, não minha mente. De qualquer forma, meu corpo está envelhecendo com graça. E, francamente, temer a idade e o envelhecimento é tão tolo quanto temer a morte. É tudo samsara. Vai acontecer de qualquer jeito. Por outro lado, não vai acontecer – não da maneira sólida como se imagina – porque tudo é vazio. E luminosidade, brotando e se dissolvendo na base de tudo. Samantabhadra!


Lembrei de minhas duas máximas budistas favoritas:

"Se há solução, não há por que se preocupar. Se não há solução, não há por que se preocupar."

"Nunca se sabe o que virá primeiro: o dia de amanhã ou a próxima vida."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

A Aspiração de Samantabhadra


Ho
Tudo que aparece e existe, todo samsara e nirvana
Têm uma só base, dois caminhos e dois resultados.
É a exibição de percepção e ignorância.
Por meio da aspiração de Samantabhadra,
Possam todos ficar plenamente despertos
Na cidadela do dharmadhatu.

A base de tudo é não-composta,
Uma inexprimível vastidão auto-surgida
Sem os nomes “samsara” e “nirvana”.
Se isso é conhecido, o estado de buda é atingido.
Sem conhecer isso, os seres vagueiam pelo samsara.
Possam todos os seres dos três reinos
Conhecer a base inexprimível.

Eu, Samantabhadra
Conheço naturalmente essa base
Sem causa e condição.
Estou livre dos defeitos da sobreposição e da negação de exterior e interior.
Não sou obscurecido pela escuridão da desatenção.
Portanto, a auto-aparência é não-obscurecida.
Se a autopercepção permanece em seu lugar,
Não há medo nem mesmo caso o mundo tríplice seja destruído.
Não existe apego aos cinco objetos desejáveis.
Na percepção auto-surgida e não-conceitual,
Não há forma sólida nem cinco venenos.

A lucidez incessante da percepção
São as cinco sabedorias de uma só natureza.
Por meio do amadurecimento das cinco sabedorias
Surgiram as cinco famílias do primeiro Buda.
Da expansão adicional da sabedoria
Surgiram os 42 budas.
Como exibição das cinco sabedorias
Surgiram os 60 bebedores de sangue.
Desse modo, a percepção da base jamais tornou-se confusa.
Como eu sou o primeiro buda,
Por meio de minha aspiração
Possam os seres dos três reinos do samsara
Reconhecer a percepção auto-surgida
E expandir a grande sabedoria.

Minhas emanações são incessantes.
Eu manifesto bilhões inconcebíveis,
Exibidas como o que quer que dome os seres.
Por meio de minha aspiração compassiva,
Possam todos os seres dos três reinos do samsara
Escapar dos seis estados.

De início, para os seres atordoados,
A percepção não surgiu na base.
Essa obscuridade da inconsciência
É a causa da ignorância atordoada.
Dessa inconsciência
Emergiu a cognição aterrorizada, enevoada.
O eu, o outro e a animosidade nasceram disso.
Por meio da intensificação gradual do hábito
Começou a entrada seqüencial no samsara.
Os cinco kleshas venenosos (emoções perturbadoras) desenvolveram-se.
As ações dos cinco venenos são incessantes.
Portanto, visto que a base da confusão dos seres
É a ignorância desatenta,
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possam todos reconhecer a percepção intrínseca.

A ignorância inata
É a cognição distraída, desatenta.
A ignorância rotuladora
É sustentar que o eu e o outro são dois.
As duas ignorâncias, inata e rotuladora,
São a base da confusão de todos os seres.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possa a obscuridade densa e desatenta
De todos os seres samsáricos ser dissipada.
Possa a cognição dualística ser esclarecida,
Possa a percepção ser reconhecida.

Dualismo é dúvida.
Da emergência da fixação sutil
O hábito grosseiro desenvolve-se gradualmente.
Comida, riqueza, roupas, lugares, companhias,
Os cinco objetos desejáveis e os parentes amados –
Os seres são atormentados pelo apego ao agradável.
Essa é a confusão mundana.
Não há fim para as ações do dualismo.
Quando o fruto da fixação amadurece,
Nascidos como pretas (fantasmas famintos) atormentados pelo anseio –
Como são tristes sua fome e sede.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possam os seres desejosos
Não rejeitar o anseio do desejo
Nem aceitar a fixação do apego.
Pela cognição relaxada, assim como ela é,
Possa sua percepção assentar-se.
Possam eles atingir a sabedoria da discriminação.

Por meio da emergência de uma sutil cognição receosa
De objetos que aparecem externamente
Cresce o hábito da aversão.
Nascem a animosidade grosseira, violência física e matança.
Quando o fruto da aversão amadurece,
Quanto sofrimento há no inferno, fervendo e ardendo.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Quando a forte aversão surgir
Em todos os seres dos seis estados,
Possa ela ser relaxada sem rejeição ou aceitação.
Com a percepção assentando-se,
Possam os seres atingir a sabedoria da clareza.

Com a mente tornando-se inflada,
Nasce uma atitude de superioridade em relação aos outros,
De orgulho feroz.
Experiencia-se o sofrimento da disputa.
Quando o fruto dessa ação amadurece,
O ser nasce como um deus e experiencia morte e queda.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possam todos os seres com mentes infladas
Relaxar na cognição como ela é.
Com a percepção assentando-se,
Possam eles realizar a igualdade.

Pelo desenvolvimento do hábito do dualismo,
Da agonia de louvar a si mesmo e denegrir os outros,
Desenvolve-se a competitividade briguenta.
Nascido como um asura (deus invejoso), morto e mutilado,
O ser cai no inferno como resultado.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possam aqueles que brigam por causa da competitividade
Relaxar sua animosidade.
Com a percepção assentando-se,
Possam eles atingir a sabedoria da atividade desimpedida.

Por meio da distração da apatia desatenta,
Por meio de torpor, obscuridade, esquecimento,
Inconsciência, preguiça e atordoamento,
O ser vagueia como um animal desprotegido, é esse o resultado.
Por meio da aspiração feita por mim, o buda,
Possa a luz da atenção mental lúcida surgir
Na obscuridade do atordoamento entorpecido.
Possa a sabedoria não-conceitual ser atingida.

Todos os seres dos três reinos
São iguais a mim, o buda, na base de tudo.
Ela tornou-se a base da confusão desatenta.
Agora, eles envolvem-se em ações sem sentido.
As seis ações são como o atordoamento de sonhos.
Eu sou o primeiro buda.
Eu domo os seis tipos de seres por meio de emanações.

Por meio da aspiração de Samantabhadra,
Possam todos seres sem exceção
Ficar despertos no dharmadhatu.

A Ho
Daqui em diante, quando quer que um yogue poderoso,
Com percepção lúcida e sem atordoamento,
Fizer essa poderosa aspiração,
Todos os seres que a ouvirem
Estarão plenamente despertos dentro de três vidas.

Quando o sol ou a lua são agarrados por Rahu
Quando há clamor ou terremotos,
Nos solstícios ou na mudança de ano,
Se ele gerar a si mesmo como Samantabhadra
E recitar isso para que todos ouçam,
Todos os seres dos três reinos
Serão gradualmente libertos do sofrimento
E finalmente atingirão o estado de buda
Por meio da aspiração desse yogue.


Do Tantra da Grande Perfeição que Mostra a Sabedoria Penetrante de Samantabhadra, Capítulo 9, que apresenta a poderosa aspiração que torna impossível que todos os seres não atinjam o estado de buda.
Tradução a partir da versão em inglês. Possa ser de benefício!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A Prece de Kuntuzangpo


Ho! Tudo – aparência e existência, samsara e nirvana – tem uma base única, não obstante dois caminhos e duas fruições, e magicamente exibe-se como percepção ou ignorância.
Por meio da Prece de Kuntuzangpo, possam todos os seres tornarem-se budas, completamente perfeitos na esfera do dharmadhatu.

A base de tudo é não-composta, e a grande vastidão auto-surgida, além da expressão, não tem o nome de samsara, nem de nirvana. Realizando apenas isso, você é um buda; sem realizar isso, você é um ser vagando pelo samsara.
Rezo para que todos vocês, seres dos três reinos, possam realizar o verdadeiro significado da base inexprimível.

Eu, Kuntuzangpo, realizei a verdade dessa base, livre de causa e condição, que é apenas a percepção auto-surgida. Ela é isenta de nódoas por expressão externa e pensamento interno, afirmação ou negação, e não é manchada pela escuridão da desatenção mental. Portanto, essa exibição automanifesta é livre de defeitos.
Eu, Kuntuzangpo, permaneço como percepção intrínseca. Muito embora os três reinos venham a ser destruídos, não há medo. Não há apego às cinco qualidades desejáveis dos objetos dos sentidos. Na consciência auto-surgida, livre de pensamentos, não existe nem forma sólida, nem os cinco venenos.

Na clareza incessante da percepção, singular na essência, não obstante surge a exibição das cinco sabedorias.
Do amadurecimento dessas cinco sabedorias, emergem as cinco famílias do Buda e, por meio da vastidão de sua sabedoria, aparecem os 42 Budas pacíficos. Por meio do poder surgido das cinco sabedorias, manifestam-se os 60 Herukas irados.
Desse modo, a percepção da base jamais é equivocada ou errada.
Eu, Kuntuzangpo, sou o Buda original de tudo, e por meio dessa minha prece, possam todos vocês, seres que vagam pelos três reinos do samsara, realizar a percepção auto-surgida, e possa a grande sabedoria de vocês aumentar espontaneamente.

Minhas emanações vão se manifestar continuamente em bilhões de maneiras inimagináveis, aparecendo em formas para ajudar vocês, seres que podem ser treinados.

De início, vocês são seres deludidos porque não reconhecem a percepção da base.
Não têm em mente, portanto, que o que ocorre é delusão – o próprio estado de alheamento e a causa de extravio. Desse estado delusivo vem um súbito desfalecer e a seguir uma sutil consciência de medo oscilante.
Dessa oscilação surge uma separação do eu e a percepção dos outros como inimigos. Gradualmente, a tendência de separação se fortalece, e a partir disso inicia-se o círculo do samsara.

Desenvolvem-se então as emoções dos cinco venenos – as ações dessas emoções são infindáveis. Vocês carecem de percepção porque são desatentos, e essa é a base de seu extravio.
Por meio de minha prece, possam todos vocês reconhecer sua percepção intrínseca!

Ignorância inata significa desatenção mental e distração. Ignorância imputadora significa pensamentos dualistas em relação ao eu e aos outros.
Ambos os tipos de ignorância são a base da delusão de todos os seres.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam todos vocês, seres que vagueiam pelo samsara, dissipar a névoa da ignorância, dissipar os pensamentos que se agarram à dualidade!
Possam vocês reconhecer sua própria percepção intrínseca!

Pensamentos dualísticos criam dúvidas; do apego sutil a essa mentalidade dualística, tendências dualísticas tornam-se mais fortes e mais densas. Comida, riqueza, roupas, casa e amigos, os cinco objetos dos sentidos e nossa amada família – todas essas coisas causam tormento ao criar anseio e desejo.
Todas essas são delusões mundanas; as atividades de se agarrar e fixar são infindáveis. Quando a fruição do apego amadurece, vocês nascem como fantasmas famintos, atormentados por cobiça e desejo, miseráveis, famintos e sedentos.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam todos vocês, seres desejosos e luxuriosos que têm apegos, nem rejeitar o desejo anelante, nem acolher o apego aos desejos. Deixem a consciência relaxar em seu próprio estado natural, então sua percepção será capaz de se manter por si. Possam vocês obter a sabedoria do discernimento perfeito!

Quando objetos externos aparecem, surge a consciência sutil do medo. Desse medo, o hábito da raiva torna-se cada vez mais forte. Finalmente, vem a hostilidade, causando violência e assassinato. Quando a fruição dessa raiva amadurece, vocês sofrem no inferno, fervendo e ardendo.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam vocês, seres dos seis reinos, quando a raiva intensa surgir para vocês, não rejeitá-la, nem aceitá-la. Em vez disso, relaxem no estado natural e obtenham a sabedoria da clareza!

Quando sua mente fica cheia de orgulho, surgem pensamentos de competição e humilhação. À medida que esse orgulho torna-se cada vez mais forte, vocês experienciam o sofrimento das contendas e do abuso. Quando a fruição desse karma amadurece, vocês renascem nos reinos dos deuses e experienciam o sofrimento da mudança e a queda para renascimentos inferiores.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam vocês, seres que desenvolveram orgulho, deixar a consciência relaxar no estado natural. Então sua consciência será capaz de se manter por si.
Possam vocês consumar a sabedoria da equanimidade!

Por aumentar o hábito da dualidade, por louvar a si mesmo e denegrir os outros, sua mente competitiva conduz à inveja e à luta, e vocês renascem no reino dos deuses invejosos, onde há muita matança e injúria. O resultado dessa matança é que vocês caem no reino do inferno.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, quando a inveja e os pensamentos competitivos surgirem, não se agarrem a eles como inimigos. Apenas relaxem em sossego, e então a consciência pode manter seu estado natural. Possam vocês consumar a sabedoria da ação desobstruída!

Por serem distraídos, descuidados e desatentos, vocês se tornam obtusos, confusos e esquecidos.
Por serem inconscientes e preguiçosos, vocês aumentam sua ignorância e a fruição dessa ignorância é vaguear em desamparo pelo reino animal.
Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam vocês, seres que caíram na cova escura da ignorância, brilhar a luz da atenção mental e com isso consumar a sabedoria livre de pensamento.

Todos vocês, seres dos três reinos, na verdade são idênticos ao Buda na base de tudo. Mas seu entendimento equivocado da base causa seu extravio, por isso vocês agem sem meta.
As seis ações kármicas são delusão, como um sonho. Sou o Buda primordial, aqui para treinar as seis classes de seres por meio de todas as minhas manifestações.

Por meio da prece de Kuntuzangpo, possam todos vocês sem exceção atingir a iluminação no estado do dharmadhatu.

E Ho! Daqui em diante, quando quer que um yogue muito poderoso, com sua percepção radiante e livre de delusão, recitar essa prece muito poderosa, todos aqueles que ouvirem irão consumar a iluminação dentro de três vidas.

Durante um eclipse solar ou lunar, durante um terremoto ou quando a terra tremer, nos solstícios ou no Ano Novo vocês devem visualizar Kuntuzangpo.
E, se vocês rezarem em voz alta, de modo que todos possam ouvir, então os seres dos três reinos serão gradativamente liberados do sofrimento por meio da prece do yogue e por fim irão consumar a iluminação.


* Tradução a partir de uma versão em inglês.
Possa ser de benefício!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Flamboyant

O verão é minha estação favorita. Gosto de calor, de sol forte, dos dias longos. Gosto muito do verão em Porto Alegre, daqueles dias insuportavelmente abafados. Gosto da cor dos dias de verão, gosto do cheiro. Sinto-me muito mais ativa e mais viva, e tudo ao meu redor parece mais intenso. E eu sem dúvida fico muito mais intensa.
Um pouco antes do começo do verão, vivo meus dias favoritos do ano, durante a florada dos flamboyants. Tenho paixão por flamboyants. Minha árvore favorita, originária de Madagascar e das ilhas do Índico. Nada mais natural uma mulher como eu, muito flamboyant, muito tropical, gostar de uma árvore com esse nome e aparência, que floresce em dezembro, meu mês predileto.
Porto Alegre tem vários flamboyants, conheço muitos deles e costumo visitá-los durante suas floradas. Um dos mais majestosos fica pertíssimo de minha casa, em uma esquina da Lucas de Oliveira. O Parcão tem dois maravilhosos, um deles fica no meu trajeto de corrida, adoro passar por baixo dele, embora tenha que saltitar por suas raízes salientes. Na Redenção, estou acompanhando o crescimento de um que, desde bem pequeno, enche-se de flores. As ruas perto da escola de minha filha estão pontilhadas de flamboyants, eu e ela nos deliciamos a observá-los na quarta passada, quando fui buscá-la.
Os flamboyants aguçam meus sentidos e, com isso, minha atenção. Nessa época, ando sempre ligada por onde passo, à cata dos flamboyants com suas flores flamejantes, que a mim parecem extremamente sensuais. Quanto mais avermelhados, mais me encantam.
O Buda despertou embaixo de uma figueira bodhi. Minha aspiração é um dia despertar embaixo de um flamboyant.

sábado, 24 de novembro de 2007

Dá cá um abraço

Um amigo mandou pro meu Orkut o vídeo "Free Hugs". Revi e me emocionei de novo. Acho lindo, lindo. Tocante. Eu acredito no poder transformador das ações que geram ondas de amor, de vibrações positivas. Palavras de carinho, sorrisos, gentilezas, qualquer coisa que faça alguém feliz. Iniciativas que nos aproximam uns dos outros e de nós mesmos, da essência amorosa.
Corro pela rua todos os dias, geralmente sozinha. E geralmente com uma cara séria (quando não carrancuda mesmo, uma megera mal-humorada, desviando de carros, pedestres, buracos...), especialmente quando estou ralando. Mas às vezes passo por pessoas que fazem contato visual, e brota um sorriso em mim e nelas. E aí instaura-se a terra pura do sorriso, fica tudo perfeito. O cansaço, o calor, o mau humor, o suor evaporam-se instantaneamente. Meu dia fica tão melhor... Sempre que me lembro, procuro correr com um semblante mais alegre, mais amistoso e luminoso.
Tenho dois amigos na Terra Pura do Sorriso. Eles trabalham no Parque Gigante, acho que o nome da coisa é essa, o clube do Internacional, atrás do estádio, na beira do Guaíba. Um dia passei por lá e um deles fez contato visual, nos cumprimentamos, eu estava indo pra Zona Sul. Na volta ele falou comigo de novo. Depois disso, ele e seu colega sempre me cumprimentam quando passo por lá, correndo ou de bike. Passei por lá nos treinos da maratona – também passei na própria maratona, e eles estavam lá e me deram sorrisos e incentivo pra terminar –, passo por lá sempre que faço corridas longas, e também nas competições. Sempre que nos vemos, sorrimos, acenamos e gritamos "ois". E meu dia fica mais alegre.
Ontem mesmo teve uma corrida, um dos meus amigos estava lá e me chamou quando passei. É sempre uma sensação agradável.
Na maratona, a Terra Pura do Sorriso manifestou-se em vários pontos do trajeto. Um monte de gente me animou com sorrisos e palavras de apoio.

Empencada com três amigas sorridentes que adoro encontrar e abraçar: Cynthia, Lena e Marcia.

Além dos sorrisos, sou uma adepta militante do ato de abraçar. Em geral cumprimento meus amigos com um abraço – aqueles que gostam de ser abraçados. Conheço muita gente que recua diante de contato físico, que simplesmente não toca os outros e não se deixa tocar – ou que abraça e toca de forma protocolar, fria. Pessoas extremamente reservadas, contidas. Travadas.
Em minha casa, cresci sem demonstrações físicas de afeto. Adulta, um dia percebi que não lidava bem com o contato físico, que minha reação instintiva mediante contato físico era um recuo inicial. Naquele mesmo dia, decidi que isso ia mudar. E comecei um esforço deliberado para ser mais expansiva. De início foi dureza. Tive que aprender a abraçar e ser abraçada.
Hoje, depois de ter desenvolvido uma refinada consciência corporal em função da prática esportiva e da terapia, sinto-me maravilhosamente bem dentro da minha pele, e adoro ir pro abraço. Com algumas pessoas isso é especialmente bom. Quando me enlaço com essas amigas e amigos, é como se nossos corações e mentes se tocassem.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Merry Christmas, Everybody!!!

Esta noite montei a árvore de Natal daqui de casa. Minha filha, muito falcatrua, disse que ia ajudar. Hahaha, colocou meia dúzia de galhos da árvore e voltou pro computador, saindo de lá apenas para dar uns palpites quando eu a chamava.
Este ano mudei a decoração. Fomos na Brickell ontem, e compramos fitas. Lízia queria as tradicionais bolinhas, mas não seria possível, porque nosso gato mais novo, um vândalo, com certeza quebraria tudo. Enquanto eu montava a árvore, o gatáquilo enfiou-se entre os galhos e escalou o pinheirinho... Afff.
Em função do vandalismo felino, consegui convencer Lízia em favor de uma decoração mais adulta – e muito mais chique. Meu pinheiro é sempre uma coisa meio brega, abarrotado de bolinhas coloridas, luzinhas, festões prateados ou cordões dourados. Adoro Natal, tenho paixão por pinheirinhos. Lembro de como aguardava ansiosamente a manhã em que o pinheirinho de minha casa aparecia montado quando eu era criança. Lembro especificamente de uma manhã em que saí da cama e vi a árvore. É uma lembrança difusa, creio que eu tinha uns cinco anos, essa memória é quase como um sonho, etérea. Mas é nítida no que se refere ao meu prazer com as cores e cintilações dos enfeites.
Bem mais recente e vívida é a recordação do Natal em que Lízia tinha um ano. Montei uma árvore feérica para minha filhinha, ela assistiu sentada no carrinho, encantada, exclamando: "Oooohhh!!!" Fiz fotos dela naquela tarde olhando o pinheiro com o dedinho apontado para as bolinhas.
Espero que Lízia seja como eu, e continue curtindo o Natal quando crescer. Fico espantada com a quantidade de gente que detesta Natal e se deprime nessa época. A mim não interessa a festividade cristã. O que me fascina é a tradição pagã da festa, a celebração do solstício de inverno e o culto a Saturno, meu regente. Saturnália.
No que se refere à decoração natalina, me amarro em pinheirinhos, pinhas, bolinhas, luzes, velas, fitas. Nada de Papai Noel, renas, trenós, bonequinhos de neve – muito menos presépio. E só curto pinheiro artificial. Jamais vi graça em pinheiros de verdade cortados e colocados dentro de casa para secar e morrer, sempre tive pena das árvores.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ele voltou!!!

Esse aí da foto é meu gatânlio Ted Boy Marino. Na noite de 7 de novembro, uma quarta-feira, ele caiu da sacada do meu apartamento. Eu não vi, mas soube logo que ele não estava em casa, porque Ted é meu mais fiel acompanhante, ele está sempre na minha volta. Quando não o vi depois de uns 30 minutos, soube no mesmo instante que tinha acontecido algo.
Tenho três gatos – ele, Felícia (cinza) e Lelo (amarelo) –, mas Ted é meu favorito por seu jeito meigo e bondoso, e por sua devoção a mim. Ele é enorme, e uma santa criatura, que agüenta o mau humor da Felícia e a importunação do Lelo sem jamais meter a porrada nos dois malas.
Na noite em que ele caiu, fui procurá-lo, mas não achei. Na manhã seguinte, às 6h, vi-o no pátio de uma casa, mas não pude entrar, e ele não saiu... Desde então, estava tentando resgatá-lo, ele era visto na vizinhança, mas é muito, muito arisco e medroso. Ontem ele entrou aqui no prédio, mas fugiu quando me aproximei. Hoje ele veio de novo, e dessa vez veio para mim e se deixou pegar. Agora está aqui, em cima da minha mesa, deitado, feliz e ronrom.
Na manhã em que Ted caiu, eu conversei com uma amiga sobre como é bom ter gatos em casa, especialmente pra gente que nem eu, que tem uma percepção muito peculiar da realidade. Os gatos são muito ligados no sutil, e captam energias. Ted Boy ficou exatamente 13 dias fora de minha casa. Tudo muito extraordinário.
Minha ligação com os gatos é extraordinária. Gosto de gatos desde sempre. Meu primeiro gato chamava-se Lilico, ficou comigo dos meus 9 aos meus 25 anos. Com exceção de minha mãe e minha irmã, foi o ser com quem convivi durante mais tempo nessa vida, e o único que me acompanhou da infância à idade adulta. Acabo de perceber que Ted Boy me faz lembrar do Lilico, e talvez seja esse um dos motivos para eu gostar tanto dele.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Os prazeres de cada um

É tudo uma questão de disposição.
Eu ADORO correr, adoro fazer exercícios, me movimentar.
Ontem participei de uma maratona de revezamento, fiz meia-maratona. Acordei às 5h30, levantei às 6h, às 6h40 estava saindo. Fiquei no local da prova até as 13h, curtindo o astral do evento e a companhia dos amigos.
Às 23h estava caindo dura na cama.
Quando não tem competição, domingo é dia do longão, uma corrida de no mínimo 20km.
Agora estou começando a pedalar. E a alegria que andar de bike me proporciona é enorme.
Faço essas coisas por prazer. Organizo minha vida para ter tempo para isso. E abro mão de todo o resto numa ótima.
Minha dieta desprovida de carne vermelha há 25 anos, e com um raro consumo de álcool, açúcar, gordura, frituras e porcarias também me dá prazer. Um de meus pratos favoritos é massa com ricota. E agrião e rúcula são para mim o que batata frita e chocolate são para outros.
Para algumas pessoas, minha vida e minha dieta parecem um autoflagelo. Tem gente que me olha com pena, como se eu levasse uma vida de sacrifício.
Para mim, sacrifício é ir em lugar cheio e enfumaçado, com o povo detonando. Sair de casa na hora em que costumo ir pra cama e passar a noite acordada me parece um castigo. Ficar sentada em mesa de bar bebendo me entedia até os ossos. Essas atividades me cansam, drenam minha energia.
Não que eu nunca faça essas coisas. Às vezes faço. Mas aí me sinto como as pessoas dizem que se sentiriam se fizessem as coisas que eu costumo fazer.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sassarico samsárico

Minha prática budista deve merecer nota 3 em uma escala de 0 a 10. E olhe lá...
Não observo nenhuma prática formal. Meu lama compassivo sabiamente me instruiu a praticar apenas no cotidiano. Afinal, se ele prescrevesse uma prática formal, e eu não a seguisse, aumentaria minha portentosa lista de ações não virtuosas de corpo, fala e mente.
Estou no budismo básico sugerido por Sua Santidade o Dalai Lama: "Faça o bem sempre que possível. Se não puder fazer o bem, tente não fazer mal." Eu tento, eu tento, mas samsara é vasto... Afff.
Em todo caso, em meio ao meu frenético sassarico samsárico, tenho certeza de que nem tudo está perdido. Pelo contrário. As sementes do Dharma conseguem brotar no terreno inculto da minha mente, varrido constantemente pelo vendaval de apego e aversão, calcinado por emoções perturbadoras, inundado por aflições mentais.
É evidente que acumulei méritos em minhas vidas passadas. Afinal, nessa vida recebi a bênção de me conectar a meu lama, Padma Samten, meu professor perfeito, cuja compaixão, paciência e generosidade para comigo são imensas.
Meu lama me proporciona a imensa dádiva de trabalhar no Dharma, fazendo a edição de texto de seus livros. Ele publicou "Meditando a Vida", "A Jóia dos Desejos" e "Mandala do Lótus", e tive o prazer e a honra de fazer a edição dos três. Neste ano, ele produziu "O que pensam os budistas", a ser lançado em breve. Também participei. O trabalho de edição dessas obras me propiciou algumas das horas mais significativas de minha vida.
Meus méritos acumulados renderam outra bênção: traduzir livros de Sua Santidade o Dalai Lama. De momento, estou concluindo um desses. Todo dia, quanto sento para trabalhar, penso no quanto é extraordinário eu poder unir meu trabalho mundano com o Dharma. Nos últimos dois anos, traduzi ensinamentos extremamente profundos de Sua Santidade sobre Dzogchen, Lam Rim e Prajnaparamita.
Essa chuva de bênçãos nutre minha felicidade e alegria básicas, o otimismo com que eu costumo encarar todas as experiências. Como poderia ser diferente?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Os dispostos se atraem

O cara foi procurar comunidades do Chris Isaak no Orkut, teclou errado, e achou uma fã do artista: eu. Adicionou sem dizer nada, achou que não fosse dar em nada. Adicionei o cara por causa da foto dele com um gato sphynx. Aí começamos uma troca de e-mails, e vi que ele é tão ou mais disposto que eu para escrever. Foi a primeira coisa a nos aproximar.
Por escrevermos muito, em uns três e-mails sabíamos que gostamos de gatos, de musculação, de corrida, de comida árabe e vegetariana - e do Chris Isaak, é claro (jamais imaginaria que meu amado Chris Isaak, que já foi tema de abertura do meu computador e que é toque do meu celular, seria a ponte para uma conexão com outra pessoa). He's running from his past. I'm running for my future. E entre o passado e o futuro estamos no presente e temos inúmeras afinidades, inclusive profissionais.
Menos de uma semana depois do primeiro e-mail, ele conhece minha filha e meus gatos. Eu conheço os gatos dele. And we both love cadillacs.
Adoro essas conexões mágicas, essas amizades que surgem de forma totalmente inesperada e que se expandem rapidamente, impulsionadas pela disposição mútua.

Esse feriadão foi marcado pelas atividades com meus amigos dispostos.
Na quinta de noite, saí com uma nova amiga que a cada encontro, a cada conversa, mais me encanta pela sinceridade e franqueza. Nossa saída teve percalços, mas o saldo foi totalmente positivo, porque vimos o quanto gostamos uma da outra e nos preocupamos.
Na sexta, pedalei 50km com outro novo amigo que conheci justamente por causa de minha recém-iniciada atividade de biker.
No sábado fui passear de bike com uma querida amiga corredora com quem compartilho afinidades espirituais, e com mais um novo amigo biker (que conheci por intermédio do outro), com quem tenho uma camaradagem cada vez maior.
Na sexta, no sábado e no domingo, corri com meu parceiro para a maratona de revezamento da semana que vem. Nossa dupla chama-se "Pernalonga e Jacaré", mas bem que poderia ser "O Jacaré e A Pangaré"... Ele me acompanhou nos meus treinos, fazendo o pace. Ontem fizemos 2h10min, terminei inteira e faceira. Nunca havia corrido com ninguém que me coordenasse tanto.
Todas essas pessoas entraram em minha vida nesse ano. O que me leva a crer que eu me tornei uma pessoa mais disposta de um tempo para cá.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Um ano

"Só para lembrar... Amanhã faz um ano que nos conhecemos."
Recebi o sms às 23:15 de ontem.
O que poderia levar a pessoa a querer refrescar minha memória me fez perder o sono por umas duas horas. Depois de ter respondido no bate-pronto que eu sabia, perguntei por que estava me escrevendo isso àquela hora. Nenhuma resposta – o que poderia ser considerado uma das notáveis características de seu comportamento em relação a mim nesse um ano de conhecimento (conhecimento meu, especialmente autoconhecimento, e desconhecimento do outro, sobre mim e acima de tudo sobre si mesmo).
Nossa comunicação sempre foi mantida - e cortada – conforme seus interesses e venetas. Jamais vivi nada tão unilateral em minha vida – e essa é uma experiência que não pretendo repetir. Por outro lado, experienciei o amor incondicional – e espero um dia poder amar todos os seres dessa maneira.
Voltando ao sms: será que achou que eu teria esquecido a data? Improvável, porque a velha senhora aqui tem ótima memória.
Queria que eu soubesse que lembrou? Talvez. Mas para quê?
Na verdade, acho que, como sempre, não teve a menor preocupação com o impacto que sua veneta teria sobre mim. Mandou o sms apenas por impulso. Impulso egoísta, autocentrado – e doloroso. Mandou porque não há mais ninguém com quem se sinta à vontade para falar sobre mim a não ser eu mesma. E, principalmente, mandou porque, embora não queira amar, quer se sentir amado. Não quer perder a mulher que não quer ter. Afff... Samsara é vasto.
Ele acha que o problema era ficar comigo. O problema é não estar comigo.
O problema é não viver o presente pensando em um futuro que só existe na imaginação. Ignorar o que existe agora em função de algo que talvez jamais venha a existir.
Como disse meu lama a respeito dessa lambança, é uma pena que a pessoa se preocupe tanto com a identidade do relacionamento e deixe de viver a experiência.


Um ano depois de termos nos conhecido, só tenho a agradecer a meu jovem mestre informal.
Primeiro, porque sua presença reativou minha conexão com Samantabhadra – e só isso já é algo extraordinário.
Segundo, porque me possibilitou a experiência de amor incondicional, que agora estou tratando de expandir. Quero ter um bom coração falante – espalhar amor, alegria, felicidade.
Terceiro, porque, devido ao aspecto inusitado da nossa conexão, eu avancei muito na prática de não me apegar às aparências da realidade convencional. Fiquei muito mais livre.

sábado, 27 de outubro de 2007

Ventos

Os ventos da primavera sopram em mim como ventos de apego, revolvendo o passado.
Semana curiosa, lembrei muito de muita coisa, basicamente miudezas, aquelas pequenas coisas de enorme significado quando existe uma forte conexão kármica. A visita às velhas paisagens mentais, que estão se desvanecendo lentamente, foi isenta de sofrimento. Minha mente se desdobra em várias, e uma delas observa a mente que visita as paisagens, e esse distanciamento anula o sofrimento do apego.
A cada dia que passa, mais aumenta essa capacidade de observar minha mente experienciando todos os tipos de fenômenos. Perceber a luminosidade e a vacuidade de tudo me deixa livre, fluindo pelas experiências. All things must pass. And they pass - very swiftly indeed.
Mas preciso lembrar disso quando surto por causa do desconforto provocado pela reforma no apartamento do meu vizinho. Ou no trânsito, quando tanto me irrito com os motoristas lerdos. Ou quando fico furiosa com o comportamento invasivo, autocentrado, egoísta, infantil - e, por que não?, ridículo - de gente que projeta suas fantasias e entra numas de uma intimidade que jamais existiu ou existirá. Nessas horas a prática é fraca... Mas nem mesmo nesses momentos eu cedo aos ventos da ira. Mantenho-me fiel à promessa que fiz a mim mesma na virada do ano: nada de chiliques, nada de perder a cabeça. Sábio Justin Timberlake, que agora muito tenho ouvido, influenciada por minha filha: what goes around, comes around. Way back. Portanto, nada de baixo astral, nada de vibrar baixo. Afinal, quem planta vento colhe tempestade. Sabedoria popular. Eu amo ditados.

A Lua cheia de ontem à noite foi um escândalo. Estava subindo a Anita Garibaldi de carro e dei de cara com ela, enorme, amarela, recém-nascida. Momento glorioso.

Can you make it hot for me?
Tell me which way you like it: do you like it like this, do you like it like that?

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Nomes & nicks

Quando eu tinha 8 anos e estava na segunda série no Daltro Filho, tive uma colega chamada Lísia. Eu nunca tinha ouvido esse nome, fiquei maravilhada e disse a mim mesma: "Quando eu tiver uma filha, vai se chamar Lísia." Eu sempre soube que teria uma filha, era uma certeza tão cristalina que jamais pensei em nome para um menino. No início da gravidez, por um breve momento achei que pudesse ser um menino, e fiquei desconcertada. Não que eu me importasse com o sexo do bebê ou quisesse ter uma menina, foi apenas a perplexidade pelo que seria totalmente inesperado. A ecografia logo confirmou minha certeza elementar.
Minha Lízia é com "z" porque, antes de registrar, consultei uma numeróloga, e segui sua orientação para o nome mais auspicioso. No início da gravidez fui morar na Mata Bacelar, e não levou muito tempo para eu descobrir que no prédio ao lado do meu morava a Lísia original, minha ex-colega, que eu não via há uns 20 anos!!! Fiquei muito feliz de poder dizer pra ela que minha filha tinha seu nome, e acho que ela curtiu muito, até porque gostava da pequena Lízia.
Lízia já teve vários apelidos. Um dos primeiros foi Guya-Guya de Pitibiriba, bem maior que o nome dela, um sucinto Lízia Bueno. Não sei de onde surgiu, acho que foi idéia do pai dela, e nós a chamamos assim por um tempão, com direito inclusive a um jingle que o pai cantava enquanto saltitava com ela pela casa. O bebê Guya adorava o canto e a dança.
Em casa Lízia já foi Jar-Jar, Jar-Jar Lilibar, Jar-Jar Lilibinks e Lilibins. Uma época ela se autodenominou Tarlen-Tarlen. Ela também se auto-identificava como Jar-Jar Maligno e Jar-Jar Benigno, dependendo do humor. Hoje para mim ela é basicamente Lilibel pão-de-mel. No começo protestou, porque não gosta de pão-de-mel, mas agora já me manda sms assinado com "Lilibel pão de mel".
Eu nunca tive apelido até o ano passado, quando algumas pessoas começaram a me chamar de Lu.
O mais prolífico em apelidos para mim é meu treinador, que jamais me chama de Lúcia. Para ele eu sou Lu, Luzinha, Bonita e Espertinha (que foi a origem do codinome Dakini Espertinha, criado por meu amigo dhármico "I and I"). Um amigo me chama de Sim-Sim, porque eu sempre falo "sim, sim". E minha filha me chama basicamente de Mâmi e Mamilhel (para rimar com Lilibel).
Eu gosto de usar termos afetuosos. Cada vez mais chamo minhas amigas pelo vocativo "querida". E quando digo "querida", I mean it. Chamo de querida aquelas a quem realmente quero bem. As queridas de meu coração.

A Base de Tudo

Samantabhadra, ou Kuntuzangpo, é o Buda Primordial, a base onde brotam e cessam todos os fenômenos, onde samsara e nirvana estão contidos.
A compreensão de Samantabhadra está além de minha capacidade, mas cada vez que olho essa imagem eu tenho um vislumbre da natureza última, da perfeição, do que é.
Minha conexão com Samantabhadra nessa vida manifestou-se de modo totalmente casual: um dia tive vontade de mandar uma imagem budista para um amigo, abri meu arquivo, e pof!, lá estavam Kuntuzangpo e sua consorte Kuntuzangmo, ou Samantabhadra e Samantabhadri. Desde então, meu encantamento por tudo que essa figura evoca só cresce.

Hoje faz um ano...

...que corri minha primeira meia-maratona.
Será que vou começar todos meus textos com título com reticências, seguindo pra primeira frase? Não creio... Reticências são abominadas em textos jornalísticos, e eu continuo jornalista, em termos. Mas gosto de reticências. Nas frases, ao escrever, porque na minha vida não costumo deixar espaço pra reticências. É tudo com ponto. Period. Tudo às claras. Nada por dizer.
Enfim, em 15 de outubro de 2006, domingo, eu e uma galera do União 100% Corrida participamos da 4a Meia-Maratona de Porto Alegre. Fiquei em primeiro lugar na minha categoria, a R, feminino 40-44 anos. Eu nunca tinha corrido uma distância tão grande antes. E tinha participado apenas de três outras competições do circuito do Corpa, a primeira delas em 10 de setembro, quando estava recém me recuperando do rotavírus que me pegou no dia 30 de agosto e me deixou uma semana de cama, de onde me levantei esquálida e fraca. Essa doença na verdade foi uma faxina, meu corpo passou por uma desintoxicação geral, eliminei uma quantidade massiva de energia inadequada. Passei muito mal, mas fiquei muito bem.

Eu corro desde os 18 anos, mas sempre foi uma coisa puramente recreativa, totalmente descompromissada, tinha épocas em que corria todos os dias, depois ficava meses sem correr, ia e vinha.
Em junho do ano passado, quando meu casamento entrava na reta final, aderi ao grupo de corrida, conheci mais gente que gostava de correr, passei a ter companhia, e aí fui me entusiasmando.
Em julho o casamento finalmente foi encerrado, e eu saí por aí, livre e solta – correndo.
Tive a felicidade de conhecer duas pessoas que me puseram a pilha certa: Filó e Márcio. Eles participavam das corridas do Corpa, que eu nem sabia que existiam. Aí me disseram pra ir lá, eu fui, achei um barato, e pela primeira vez percebi que poderia treinar para correr melhor. Até ali, a única coisa que eu treinava com objetivos era a musculação.
No meio de outubro, Filó me disse que ia treinar no Cete com o Paulo Silva, me convidou pra ir lá ver qual era, e começamos a treinar com ele. E eu fui me tornando uma adepta da corrida e uma agregada do casal Filó e Márcio, que hoje são amigos essenciais, parte da minha vida. As conexões kármicas são curiosas: eu praticamente só conhecia a Filó de vista quando contei que estava me separando – foi a primeira pessoa do grupo pra quem eu falei, e uma das primeiras no geral...
Minha meia-maratona de estréia foi bacana. Eu corri solta, despreocupada e curiosa pra ver como me sairia. Estava um dia nublado, quente, úmido e abafado – eu gosto assim. Terminei a corrida inteira e faceira. Descobri que podia correr essa distância numa boa. Hoje, 20km é um longão moderado; há um ano meu longão era de no máximo 17km.
Um tempo depois, ficaria sabendo que na meia-maratona eu atraí a atenção de uma pessoa que se tornaria muito importante nessa minha vida, outra das minhas conexões kármicas reativadas.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Resolvi criar...

...esse espaço depois de ler o blog de um amigo há pouco.
Encontrei com ele na sexta passada, no clube, e ele me contou que tinha sido atropelado de bike, sofrido um seqüestro-relâmpago e estava com uma lesão no joelho. Mas ele também havia se dado bem em uma prova de meio-ironman em Brasília, felizmente! Em todo caso, sugeri um tratamento com galinha preta pra tirar a uruca. Aí ele me disse que estava tudo registrado no blog e me deu o endereço: Prettexto.
Encontrei com ele de novo no domingo, na EcoRun, no Gasômetro ensolarado, dia bacana. Ele perguntou se eu tinha lido, e eu não tinha... Mas pô, eu passo o dia lendo as traduções que faço, aí fica difícil às vezes. Mas resolvi que não podia passar de hoje, porque quero falar com ele até o fim da semana de novo, e ia parecer desinteresse – e o caso não era esse. Então, fui lá, li tudo, curti e pensei: "Por que não?"
Assim surge Dakini Espertinha – que é o codinome que recebi de um amigo especialíssimo, praticante budista como eu. Nos conhecemos pelo orkut, ele me achou e me visitou umas vezes sem deixar recado. Mas eu vi que ele conhecia amigos meus e tinha uma conexão com o Dharma, mandei um scrap, e um tempo depois começamos a falar. Foi em uma noite, entramos no msn e surtamos um com o outro, e foi realmente mágico, nos reencontramos nessa vida. O espertinho e a espertinha aqui (agora Dakini Espertinha) são "I and I", nos refletimos como espelhos, completamos os pensamentos e frases um do outro.
Encontros ao vivo? Não chegam a cinco! Mas nossa conexão não precisa disso. É o Dharma em ação.