sábado, 30 de dezembro de 2017

Comparação e engessamento

"Toda e cada coisa, toda e cada pessoa são totalmente singulares. Quando as comparamos com algo, já não as vemos mais como são." (Headspace)

Também não vemos as pessoas e coisas como elas são depois que as engessamos em um formato. Isso é assim, aquilo é assado, fulano é isso, sicrano é aquilo. Metemos coisas e pessoas dentro de moldes e de lá não tiramos.
Que em 2018 eu aprimore minha lucidez para evitar cada vez mais os moldes e engessamentos. E as comparações.

Dá-lhe malandra



Adoro a música. Adoro o clipe. Muito fã de Anitta depois de começar a ouvir. (Sim, já fiz parte do grupo patético do "nunca ouvi, mas não gosto".) A primeira vez que admirei Anitta foi ao ver a apresentação no Planeta Atlântida, pedindo respeito pras minas e lançando a frase de praxe: "Pensaram que eu não ia rebolar a minha bunda?". Sanfoninha pra galera. Gostei ainda mais depois de ver várias declarações contra preconceitos. E achei o máximo abrir o clipe maravilhoso de "Vai Malandra" com a bunda cheia de celulite. Dona de si. De seu corpo e da sua sexualidade. Brincando com o bumbum. E daí? A bunda é dela, a celulite é dela. Se está à vontade, se quer rebolar e embrasar, qual o problema?
Sexualização da mulher pra agradar macho? TUDO que se refere ao comportamento feminino é pautado pelo pensamento patriarcal e machista. Puta. Virtuosa. Vagabunda. Recatada. Que classificação é essa? Pro comportamento do homem não tem nada disso.
Qual o problema da mulher que livremente escolhe rebolar e provocar os homens, andar com pouca roupa, encher a cara, dar pra todo mundo que ELA está a fim? O problema é exercer a liberdade pessoal. Só isso. Não está de acordo com o que a sociedade patriarcal espera da mulher. A mulher livre é a mais vulnerável ao assédio e à violência porque a maioria da humanidade simplesmente não entende que o corpo de qualquer mulher é só dela. Pode olhar, mas não pode tocar, a não ser que ela consinta.
Ser recatada por quê? Pra quem? Se é porque gosta e se sente bem, beleza. Ótimo. Mas ser recatada para ser socialmente aceita, para se conformar ao pensamento machista? Pra ser "pra casar"?
Eu fiz a minha caminhada pra me livrar dos conceitos patriarcais e machistas. Antes disso, muito julguei outras mulheres. Muito chamei outras de puta, piranha e vagabunda. Como foi difícil perceber que isso é um absurdo, que qualquer mulher pode ser o que ela quiser, que não tem que se dar ao respeito, que tem que ser respeitada como qualquer indivíduo.
Puta, piranha e vagabunda por fazer o que eu quero, quando eu quero, com quem eu quero? Não creio. Isso é ser livre. Dona de mim e das minhas escolhas.
Humanidade a anos-luz da igualdade e do respeito elementar. Nisso e em tantas outras coisas.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Melhor de 2017



Tô de bobeira no Facebook e faz-se a luz: dou de cara com o clipe de "Love.", a música mais linda de 2017, das mais lindas da vida. Agora no loop, e eu arrepiada, viajando. Extasiada.
Como alguém produz uma coisa tão estupenda, um casamento tão perfeito de rap com um vocal e um arranjo melódico celestiais? 
Música é uma das coisas que mais me emociona. E as emoções que "Love." desperta em mim são mais bem definidas em inglês: bliss & exhilaration.
Kendrick Lamar é MUITO foda.
Kendrick Lamar rules.
There is nobody, no one to outrun Kendrick Lamar.

E eu morri com esse clipe que começa com uma cena à beira-mar em tons azulados e crepusculares. Porque essa música desde sempre me lembra água, água azul, luminosidade suave.
E ver uma cena de praia no clipe de minha música do ano na semana em que voltei no tempo e me vi numa praia do passado... À beira-mar em outra vida, vendo o crepúsculo de mãos dadas. Éramos muito jovens, talvez crianças. Bem, crianças pelos padrões de hoje, mas não pelos daquele tempo, talvez muito remoto. Não sei. Doze, treze anos? Maybe. Túnicas. Sandálias.
Vi nossos pequenos vultos de costas, apenas as silhuetas escuras recortadas contra o mar e o céu já escuro. De mãos dadas, de frente para o mar. Nenhuma palavra. O silêncio da plenitude. Presente perfeito. Talvez eu fosse um menino. Não sei, não deu para ver que espécie de par éramos naquela ocasião. Só senti o amor. Amor pacífico. Um amor que por algum motivo acabou. Acho que você morreu. E sua partida me despedaçou. Inconsolável, eu chorei uma dor que me consumiu inteira e me tirou a vontade de viver. Não havia desespero, só a dor pervasiva e devoradora (uma dor que eu conheço bem). E eu pensei em formas variadas de morrer. Porque senti o que Kendrick Lamar canta: "Don't got you, I got nothin'". For real. Got nothin', not even a life I would like to live. Mas não sei se morri. Isso não vi. Mas acho que sobrevivi, que aceitei a perda e o fim. Foi um flash, um vislumbre. Como um sonho, muitas informações numa fração de segundo. Outra dimensão de tempo. Só vi que viemos de outro tempo, coisa que por algum motivo nunca me ocorrera. Bem, isso não costuma me ocorrer, não penso em vidas passadas, embora algumas pessoas eu saiba que estou reencontrando no momento em que me conecto com elas. Mas não você. Não nós, as crianças num pôr do sol à beira-mar.
O karma e a vastidão do samsara.

Valei-me, ó gzuissss

Ambrosia, o alimento dos deuses. Essa maravilha divina foi preparada pela deusa aqui. Deusa e rainha da ambrosia, aliás.
Aprendi com a mãe, que aprendeu com minha vó. E ouso dizer que superei as mestras.
É pro Ano Novo. Vou mandar pra casa da minha irmã ou periga comer tudo antes, socorro!!!
Não me venham com cheesecake e esses doces sem açúcar e sem a mínima graça. Affff e argh. Doce tem que ser dooooooooce. Como essa ambrosia olímpica.


Receita
- 1 dúzia de ovos
- 3 litros de leite
- 1 quilo de açúcar (demerara ou mascavo)
- suco de 1 limão
- palitos de canela
- cravo (não usei, não tinha e não sou tão fã)
Bater os ovos no liquificador pra misturar bem gemas e claras. Colocar tudo na panela e cozinhar até ficar com pouca calda. Esse ponto vai do gosto de cada um. Eu prefiro deixar mais seca, com a calda mais grossinha.

Sossego

A paz que busco dentro de mim também busco fora.
Ano Novo em Porto Alegre, em família.
Cidade vazia. Adorável.
A folga no trabalho transformou a semana em um grande final de semana.
Repousar.
Repor energias.
Revitalizar.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dos vícios

Há alguns anos, ouvi de uma pessoa que eu era o vício dela. Na hora rebati: "Não sou teu vício, sou teu amor". Hoje compreendi que era as duas coisas. E que era recíproco. Ela era meu amor e meu vício. Na verdade, ela era a droga que alimentava meu vício, justamente por causa de meu imenso amor por ela.
Nesta vida, aprendi a amar com "temperos" nada saudáveis. Na verdade, insalubres, negativos, nefastos. Eu só reconhecia como amor uma combinação explosiva de emoções. Quando fui amada por pessoas que não tinham o mesmo drive que eu, não deu certo. Eu achava que não amava, que faltava uma coisa. E tratava de estragar tudo e de me afastar, criando situações intoleráveis. Quando sentia o amor intensamente, era em relações com bastante tempero, claro. Com pessoas que tinham os mesmos impulsos. Banquete bombástico preparado a quatro mãos. Uma tremenda perturbação mútua. Felicidade insustentável, sempre fugidia, basicamente inatingível.
Sempre usei os "temperos" nos relacionamentos. Inclusive nas amizades bem próximas. Em algumas mais, em outras menos, mas estavam ali. Até com minha filha! E foi com minha filha que comecei a me dar conta disso - e a me esforçar para mudar. Mudar para algo até então desconhecido. O amor tranquilo, pacífico. Com ela está sendo fácil e rápido.
Nesta manhã, percebi o quanto minha mente viciada se esforça para continuar ativa. Como qualquer viciado, tenho que manter a vigilância diária, contínua. Jamais ceder ao impulso de "ah, só um pouquinho, não tem problema".
Além de manter a mente viciada fora de ação, preciso aprender a reconhecer e saborear o amor como amor. Como uma experiência de grande simplicidade. A analogia com temperos me agrada muito porque é como na alimentação mesmo: quanto mais sal, mais açúcar, mais pimenta, mais gordura, mais difícil é apreciar os alimentos puros, os pratos não condimentados. Estou refinando meu paladar.



terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Headspace

Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez?
Agora.

Acabo de fazer a assinatura pro Headspace. Muitas, muitas meditações guiadas para os mais diversos propósitos.
Minha relação com o budismo está passando por uma profunda reavaliação. Estou questionando pontos fundamentais da doutrina e da prática. Basicamente o machismo, a misoginia e o consumo de animais.
Por outro lado, meu apreço pelas técnicas budistas de meditação só aumenta. O Headspace me conquistou por oferecer práticas destituídas dos aspectos religiosos. Tem até uma série de meditações para a prática esportiva!
Como as meditações são curtas, de momento vou me dedicar a duas práticas. Básico 2 e Motivação, esta voltada para os esportes.
Neste estágio de minha jornada, estou mais para arhat do que para bodhisattva.

Mestrezinho


Com ele muito aprendi e muito aprendo sobre amor incondicional. Ele me dá todo o amor possível, todos os dias, o tempo todo. Pequeno mestre compassivo.
Animais são excelentes ajudantes para a prática de boas qualidades: amor, compaixão, tolerância, paciência, generosidade, sabedoria. Cuidar deles é cultivar essas qualidades. Cuidar de si mesmo.

Tudo à tona

Veio o aniversário, passou o inferno astral. E veio outra coisa ontem.
Uma onda de ansiedade como as que senti há dezenove anos, quando comecei minha caminhada de cura. Ansiedade de ficar tonta, pontas dos dedos dormentes, pernas moles, respiração difícil. Medo de morrer, medo de enlouquecer. A mente totalmente desorganizada.
De onde exatamente veio isso não sei. De algum recanto até então sombrio da mente/coração. Por que veio eu imagino saber: veio pra ser liberado. Matéria densa que estou acessando com a terapia e a meditação - e com o daime. O negócio é o medo que dá. Afffff. Tipo o medo que senti quando o daime bateu. Medo de não voltar ao estado mental habitual. Quem sofre de ansiedade, depressão e pânico sabe como é. Quem experimenta uma viagem ruim com algum alucinógeno também.
O que fazer quando bate o pavor? Respirar. E buscar ajuda. O socorro veio por intermédio de minha amiga amada Libra, a Brisa. Contei pra ela que estava em surto, nos conectamos, e o tsunami começou a baixar. Fui ver minha irmã. Depois busquei minha filha e viemos pra casa. Na tranquilidade de casa, ao lado da filha, o mar recuou.
Hoje de manhã veio outra onda enorme. Meditei em meio à agitação. Conversei com Libra e Lízia. (O acolhimento de minha filha e suas sábias palavras foram uma das coisas mais lindas desta minha vida, pra lembrar pra sempre. Minha filha cada vez mais maravilhosa comigo e para mim.) E fiquei observando o maremoto, tentando entender o motivo. Que finalmente se revelou quando mar serenou de novo. Acessei uma outra camada emocional. Essa uma delícia. Uma camada de amor. O meu infinito reservatório de amor. Amor que nunca fluiu livremente, que sempre escoou com dificuldade e, o pior, misturado a outros sentimentos nada nobres (medo, desconfiança, raiva, ciúme, mágoa, indiferença, desprezo, sabe-se lá o que mais).
Hoje o amor veio sozinho.
Amor por mim. Amor por minha vida preciosa.
Amor por minha filha, meu amor maior, minha razão de viver, sol da minha vida, luz dos meus olhos.
Amor por aquela que me amou como nunca amou ninguém. A quem eu teria tanto a dizer sobre o meu amor, sobre o que aprendi com o meu amor com ela, por ela e para ela.
Amor por todas as pessoas próximas e queridas. Minha irmã. Minha amiga Brisa.
Amor que eu agora quero deixar transbordar, jorrar, fluir por tudo e para todos. Sem os antigos acompanhamentos.
Olho para minha filha, e meus olhos cintilam, minha mente/coração se expande. E eu sinto o amor por ela de uma forma que nunca senti antes. Sem medo. Sem hesitação. Sem dúvidas sobre o que eu sinto. (Porque sempre fui aterrorizada pela suspeita de que talvez não amasse minha filha.)
O desamor na minha infância aleijou minha capacidade de experimentar o amor, fosse dando ou recebendo. Inclusive com minha filha, talvez até especialmente com ela, dada a experiência com minha mãe.
Tudo isso já foi visto em bastante detalhe na terapia, mas agora começa a ser sentido e a fazer sentido emocionalmente. E agora eu começo a agir diferente porque penso e sinto diferente.
Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez?
Hoje. Outra novidade. Esse fluxo de amor, o arco-íris num céu límpido depois da borrasca.

Como eu, existem milhares de pessoas que sofrem com crises de ansiedade. A todas eu recomendaria a busca do autoconhecimento. Terapia, meditação e se necessário medicação. Prática espiritual para quem aprecia. Pelo menos um amigo para compartilhar o desespero quando a onda quebra, alguém que fique junto, solidário, empático, para ajudar a acalmar e apoiar. Um amigo é essencial. É a ponte com o mundo externo, a boia salva-vida. Por pior que seja, a crise passa. Por pior que seja, é preciso olhar pro medo, deixar ele vir. Só assim ele pode ser dissipado.
Não desejo para ninguém o que senti ontem/hoje e inúmeras vezes antes. Mas tenho a mais cristalina certeza de que, sem passar por essas experiências, eu nunca me libertaria das emoções que sabotavam a minha felicidade e a minha vida no geral.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Natal no que interessa


Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez?
Ontem.
Festa de Natal em microfamília.
Dessa vez reuniram-se apenas os que queriam estar juntos.
Cedo. No meio da tarde, porque não curtimos o esquema de jantar tarde.
Sem bebida, exceto um brinde com espumante moscatel.
Mesa farta, coisa de Natal, mas sem excessos.
E o grande sem: sem um único momento que não fosse agradável. Meu natal com espírito mais natalino até hoje. Conversa leve, risos. Confraternização. Tudo que os encontros familiares festivos deveriam ser sempre. A intimidade no seu aspecto mais amoroso e benéfico.

domingo, 24 de dezembro de 2017

De novo?

Ainda assimilando a experiência do daime.
No banho, me preparando para um Natal em família simples e aconchegante, como deve ser (para mim), lembrei do que Nelson me disse ontem: "O daime leva, o daime traz". Não tem risco de ficar perdido pelo caminho, por mais dura que seja a experiência.
Também lembrei de muitas coisas que Maria Conga me falou. Que, caso aconteça de querer sair correndo porta afora, tudo bem. Porque depois passa. Ela também comentou sobre as imagens escuras e o medo infundado.
Processando informações. Ainda hesitando em afirmar categoricamente que sim, que vou tomar daime de novo. O ego esperneia loucamente contra a ideia. Mas uma outra parte, clara e lúcida, vê essa experiência como a possibilidade de sondar o que há por baixo da superfície, trazer à tona e liberar. Limpeza dos entulhos mentais. Acompanhada da meditação, é claro.
O que causa a dúvida (e o medo) é a possibilidade de ter sessões realmente ruins, de coisas muito densas. Mas o daime leva, o daime traz. E não acontecerá nada que eu seja incapaz de encarar, suportar e superar.

Meditação

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Meditação!
Baby-steps constantes e consistentes.
Dez minutos por dia, por dez dias consecutivos. (Antes disso, 3 minutos por dia, durante dez dias, mas com algumas falhas...)
Acostumando a mente muito aos poucos. Com as meditações guiadas do app Headspace. Fiz o Basic 1. Amanhã começarei o Basic 2.
Todos os dias de manhã cedo, o mais perto possível da hora em que acordo.
Exatamente como ensinam os mestres desde sempre. Meditar ao acordar, quando a mente está mais calma e, portanto, receptiva. E ir aos poucos, sem pressa. Sem forçar nada.
Minha mente já está curtindo a prática. O pequeno espaço já está garantido.

Sem resperidona

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Na terça-feira passada, comuniquei pra psicoterapeuta que larguei a resperidona. Surtei ao perceber um salto no meu peso. Eu sabia que resperidona aumenta o apetite. Notei. E fiquei atenta, não cedendo à vontade de comer mais. Mesmo assim o peso disparou, chegando a bater nos 60kg. Surtei. Inaceitável para mim. Fui pesquisar, vi que o aumento de peso não é apenas por aumento do apetite, mas por alteração no metabolismo, que pode inclusive acarretar aumento do colesterol e diabetes. Evidentemente muitos usuários de resperidona não podem suspender o uso. Eu posso porque meu transtorno não é tão intenso, nem tão debilitante.
Suspendi na quinta-feira retrasada. Apertei a dieta, o peso recuou em dois dias. E em dois dias também senti o efeito da retirada. Veio a tristeza, a dor.
Até aí, nada de novo. Não é a primeira vez que paro de tomar remédios psiquiátricos. E eu sei bem o que sinto.
O que houve de novo foi o olhar.
Pela primeira vez tive a clara percepção dos meus mecanismos de fuga da dor que me flagela desde a primeira infância. O recalque. E a retaliação com ressentimento/raiva. Em vez de sentir a dor na hora, acolher e dissipar, eu a suprimia. E depois extravasava com atitudes vingativas. Inclusive com minha filha. (Um incidente trivial com ela me fez ver isso - e a possibilidade de agir diferente, de ser diferente, até de sentir diferente.)
A retirada da resperidona teve o efeito da exacerbação do meu aspecto sombrio. Mas teve um saldo amplamente positivo: parei de fugir disso. E vi que não quero mais o antigo padrão de resposta, que tanta dor causou a mim e a outros.
Talvez minhas reações a acontecimentos sejam exageradas, talvez eu jamais consiga mudar isso. Mas sem dúvida comecei a mudar o que acontece em função disso. O que vem depois.
A coisa que fiz pela primeira vez foi pensar em novas formas de reagir - e colocá-las em prática.

Santo Daime

Ano novo, novas experiências.
Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez? Ontem.
Fui conhecer o Centro Espírito Barca do Luar - São Francisco das Chagas pela manhã. (Indicação de uma amiga, claro. Que indicação!) Fiz atendimento com um médico espiritual e, o melhor, atendimento fraterno com uma mulher incrível, uma filha de Oxum, com quem senti afinidade e me conectei imediatamente. Reencontro. (Vou desenvolver um trabalho de autoconhecimento com ela, mais uma futura aventura inédita na expansão da mente.)
Fiquei sabendo que à noite haveria um evento com bailado e passes de Oxum e Iansã e atendimento e bênçãos de pretos velhos. Linha branca. Tipo umbanda. E fiquei sabendo também que nesse evento os interessados poderiam tomar daime.
Fiquei hesitando o resto do dia inteiro. Ir ou não ir? Fui. Minha intuição dizia pra ir, meu ego enumerava razões para não ir (o ego jamais quer qualquer experiência que possa abalar seu poder). Saí de casa tarde, mas cheguei lá e estava longe de começar. Me inscrevi pra tomar o Daime, expliquei que nunca havia experimentado, que uso medicação psiquiátrica, que tenho transtorno borderline. Um dos integrantes da casa, ao me ver meio perdida, me chamou pra conversar, explicou a origem do Santo Daime, culto que utiliza a ahayuasca, bebida tradicional das práticas religiosas dos índios latino-americanos. A Barca do Luar segue a tradição que, além dos elementos da religião cristã, incorporou a umbanda. Sensacional. Ele me instruiu a não ter medo, ficar de olhos fechados e em silêncio, não cantar, ouvir apenas. Enfatizou que eu estaria num ambiente seguro, amparada espiritualmente (e em termos práticos também - várias pessoas cuidam dos presentes).
Tomei. Confiante, mas claro que com uma ponta de medo. Começou o ritual, eu lá sentada, numa boa, sentindo nada. Até que senti (creio que uns 90 minutos depois - o tempo para fazer efeito varia de pessoa para pessoa). Senti a alteração da visão e da percepção espacial e corporal. De olhos fechados o processo foi intenso. Imagens assombrosas, muito em tons de lilás escuro, roxo, tipo uns fractais, ideias pesadas. Vieram os pensamentos e sensações de medo ("Nossa, tô doidona, e agora? Quando isso vai passar? Ai, o que são essas imagens? Por que tudo tão escuro e intimidante? O que eu tenho dentro de mim?"). Quando a coisa apertava muito, eu abria os olhos; ao fechar, era como se as imagens que eu tinha visto do salão e das pessoas se derretessem. Tem um relógio no salão, eu olhava pra ele, perdida na noção de tempo. Tive uma certa ansiedade, pedi para uma menina me acompanhar ao banheiro, saí caminhando bem zonza, meio grogue, rindo um pouco nervosa, ela dizendo que tudo bem, que era normal. A circulada e arejada me fizeram bem. Voltei, retomei o processo. Tinha vontade de me deitar em vários momentos, ficar mais acomodada. Pena que não tinha como.
Quando o ritual encerrou eu ainda estava meio fora, mas já sem medo e sem ansiedade, apenas sentindo uma leve alteração nas percepções sensoriais. Antes do bailado, ofereceram mais daime, e o preto velho que servia me disse para tomar mais um pouquinho, sem medo. Antes, uma menina havia me dito que a segunda dose deixava mais animado e ligado. Então tá. Mais meia dose. Essa realmente não teve o efeito anterior.
Cantos da para Iansã e Oxum, médiuns incorporadas, passes.
Para completar a grande noite, uma longa conversa com a preta velha Maria Conga (recebida pela mulher a quem já estou conectada), que me orientou mais sobre a experiência do daime. E me aconselhou a me entregar mais nos rituais, ser menos mental e dar passagem para as entidades, pois tenho o dom. Desde os 18 anos me dizem isso, mas nunca aconteceu. Maria Conga deu sugestões de como proceder nas próximas ocasiões. Quem sabe seja essa mais uma coisa  fazer pela primeira vez?

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

15:46

Meu aniversário astrológico, pouco depois do solstício de verão.
Meu ex-marido fez uma observação preciosa: é muito provável que há 54 anos, nessa hora, minha mãe estivesse caminhando por Copacabana. Porque no dia 21 de dezembro ela saiu pra uma longa caminhada pensando em antecipar o parto, temendo que eu nascesse no Natal (e que ela tivesse que passar a data no hospital).
Mais um verão. Ano novo. Agora com Saturno em Capricórnio.
Que seja lindo e pleno. Que as metas sejam alcançadas.

Vem, verão!

sábado, 16 de dezembro de 2017

Sempre azul


Não deu pra ser campeão do mundo, mas foi um ano lindo como gremista. É um esporte corrupto, acho a maioria dos times e muitos jogadores e dirigentes desprezíveis, acho absurdo o volume de dinheiro que esse setor movimenta enquanto o resto dos esportes morre à míngua; por tudo isso mantenho uma certa distância.
Mas... mas eu realmente gosto do Grêmio. Gosto muito. Tipo um parente que não vejo seguidamente, mas por quem tenho um enorme afeto; a cada encontro, a cada contato, sinto uma enorme felicidade. Quando vou ao estádio, nossa! Fico quieta, discreta, mas por dentro tenho uma selvagem, por ela ficaria pulando e berrando sem parar. (Eis aqui uma situação em que tenho enorme freio social, talvez por achar meio ridículo ir à loucura por um time.)
Não gosto de futebol, acho o jogo meio besta (bem besta na verdade, lento). Eu gosto de futebol americano. E gosto do Grêmio. Só do Grêmio. De modo geral, odeio todos os outros times, alguns ferozmente. Abomino a seleção brasileira, jamais consegui torcer. Lembro que não torcia nem quando criança, não via a menor graça, não entendia aquela comoção. Zero identificação. Gosto da Argentina e da Alemanha há anos.
Com tanto ódio no coração pelos times em geral, por incrível que pareça o rival local não me desperta grande emoção. Sou basicamente indiferente. Sério. Nem lembro que esse time daqui existe, de modo geral ignoro suas derrotas e suas conquistas. Não sei como pode ser isso. Será que é porque tenho muitos colorados de quem gosto muito? Só vejo essa explicação. Para mim é inaceitável brigar com alguém por causa de um time de futebol. Mesmo assim, fiquei muito feliz com o rebaixamento e com a patética subida em segundo lugar. Mas só porque a agressividade de alguns torcedores rivais me irrita muito. Esses merecem derrotas e fracassos, são uns insuportáveis. Por esses sinto um imenso desprezo. Tamanho desprezo que me recuso a bater boca. Ignoro olimpicamente.
Também não suporto os gremistas agressivos. Não suporto nenhum torcedor que pareça odiar mais o adversário do que amar o seu time. Eu curto torcer, não secar. Imagina ficar um segundo vendo jogo de outro time pra secar. Mas nem em mil anos.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Despertar na madrugada

Alguns dias (e noites) são marcados pelo sono, pela vontade (e capacidade) de dormir horas e horas. Outros, pela mente desperta, alerta e perfeitamente repousada com poucas horas de sono. Como hoje.
Ao contrário dos últimos dias, não deitei tão cedo ontem e não estava exausta. Dormi bem e acordei cedíssimo. Como o sono não voltou, aproveitei para fazer reiki e meditar (um combo dos melhores, não tenho tempo para fazer uma coisa depois a outra, junto tudo, e a prática está sendo revelando eficiente e prazerosa).
Levantei às 5h30, queria correr, mas estava noite e muito úmido. Quando clareou e o tempo abriu, já estava tarde. Bom horário pra traduzir. Mente limpa, fresca.

Tenho buscado trazer a atenção para o corpo e a mente ao longo do dia. Ver os pensamentos, as emoções e as sensações físicas. Estar presente no presente como observadora. Para isso estou usando um aplicativo desenvolvido pela Plum Village (https://plumvillage.org/mindfulness-practice/mindfulness-software/), o MindBell. Usava o MindBell há meses no PC, mas tornou-se incompatível com a nova versão do Firefox, o Firefox Quantum. (Até meu navegador agora é Quantum, no momento mais quântico de minha existência, em que mais do que nunca estou unindo os ensinamentos budistas sobre a mente e a realidade à visão da física quântica.) Descobri o MindBell para Android; então o sino toca no telefone (para espanto inicial das colegas na editora, que agora já sabem que meu alerta para a atenção plena toca de meia em meia hora e se acostumaram com o som). Simplesmente parar por 10 segundos, respirar e tomar contato com a mente e o corpo.
Além do MindBell, estou usando o Headspace: Guided Meditation & Mindfulness, um app para cultivar as habilidades de meditação. Comecei pelo básico do básico, um programa de 10 dias, com meditações de meros 3 minutos, só para começar a observar os pensamentos, tentando manter a atenção na respiração. Impressionante o que acontece em 3 minutos.
No todo, o site do Plum Village, organização criada pelo magnífico mestre budista vietnamita Thich Nhat Hahn, é precioso. Uma fonte de informações e ensinamentos sobre atenção plena.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Hábito quebrado, pele curada

Enquanto trabalhava (arduamente) na retradução e preparação de um livro a ser lançado com o título de Quebrando o hábito de ser você mesmo (Breaking the Habit of Being Yourself, de Joe Dispenza), quebrei um hábito e criei uma nova realidade. Parei de morder os dedos graças a um protocolo de TCC (terapia cognitiva comportamental) desenvolvido por psiquiatras e aplicado em um grupo do qual fiz parte durante oito semanas, nos meses de outubro e novembro.
Sucesso total.
Não é apenas não morder os dedos. É não ter mais vontade de mexer nos dedos, de puxar as peles. Hoje fui tirar uma pele saliente apenas porque estava incomodando. Ao puxar, fiz um pequeno machucado. Fiquei de cara. Meus dedos não têm mais nenhum machucado, e não quero que tenham. Isso simplesmente não é mais aceitável.
Aproveitei uma ida ao centro e fiz as unhas. Fiz as unhas como qualquer pessoa faz. Cheguei no salão e me informei se havia alguma manicure disponível. Pronto. Antes, dadas as condições terríveis dos meus dedos, eu tinha que ir sempre numa mesma profissional que conseguisse limpar os estragos e que não se perturbasse com os sangramentos que ocorriam praticamente em todas as sessões. Agora qualquer boa manicure pode trabalhar nos meus dedos e produzir um ótimo resultado. Como a Daiane, do Mix Hair (https://www.mixhair.com.br/). Esse salão eu descobri no sábado, quando estava atrás de um profissional para fazer relaxamento no cabelo com tioglicolato de amônia. Encontrei lá, fui quando o salão já ia fechar e acabei (muito bem) atendida pelo Alex Silvarkei, que já havia me conquistado via telefone.
Então a semana começa com cabelo e unhas arrumados e mais um livro encaminhado. Quebrando o hábito de ser você mesmo está no estágio final da produção (revisão ortográfica e design gráfico). Ficou anos na lista de obras a serem lançadas pela CDG/Citadel; era pra eu ter traduzido há mais de dois anos. Eu queria muito ter feito essa tradução, não deu por causa dos prazos. Acabei retraduzindo. E, como já imaginava desde que botei os olhos no livro pela primeira vez, aprendi muita coisa. Estou firme na prática dos ensinamentos do autor. Conectando com o campo quântico, colapsando novas probabilidades. Deixando de reagir automaticamente com base no passado para criar uma nova realidade. "Mude!" é a voz que estou habituando minha mente e meu corpo a ouvir quando engrenam nas reações habituais disparadas pelas conexões neurais que estou desmantelando.