quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dos vícios

Há alguns anos, ouvi de uma pessoa que eu era o vício dela. Na hora rebati: "Não sou teu vício, sou teu amor". Hoje compreendi que era as duas coisas. E que era recíproco. Ela era meu amor e meu vício. Na verdade, ela era a droga que alimentava meu vício, justamente por causa de meu imenso amor por ela.
Nesta vida, aprendi a amar com "temperos" nada saudáveis. Na verdade, insalubres, negativos, nefastos. Eu só reconhecia como amor uma combinação explosiva de emoções. Quando fui amada por pessoas que não tinham o mesmo drive que eu, não deu certo. Eu achava que não amava, que faltava uma coisa. E tratava de estragar tudo e de me afastar, criando situações intoleráveis. Quando sentia o amor intensamente, era em relações com bastante tempero, claro. Com pessoas que tinham os mesmos impulsos. Banquete bombástico preparado a quatro mãos. Uma tremenda perturbação mútua. Felicidade insustentável, sempre fugidia, basicamente inatingível.
Sempre usei os "temperos" nos relacionamentos. Inclusive nas amizades bem próximas. Em algumas mais, em outras menos, mas estavam ali. Até com minha filha! E foi com minha filha que comecei a me dar conta disso - e a me esforçar para mudar. Mudar para algo até então desconhecido. O amor tranquilo, pacífico. Com ela está sendo fácil e rápido.
Nesta manhã, percebi o quanto minha mente viciada se esforça para continuar ativa. Como qualquer viciado, tenho que manter a vigilância diária, contínua. Jamais ceder ao impulso de "ah, só um pouquinho, não tem problema".
Além de manter a mente viciada fora de ação, preciso aprender a reconhecer e saborear o amor como amor. Como uma experiência de grande simplicidade. A analogia com temperos me agrada muito porque é como na alimentação mesmo: quanto mais sal, mais açúcar, mais pimenta, mais gordura, mais difícil é apreciar os alimentos puros, os pratos não condimentados. Estou refinando meu paladar.



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