domingo, 24 de dezembro de 2017

Sem resperidona

Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?
Na terça-feira passada, comuniquei pra psicoterapeuta que larguei a resperidona. Surtei ao perceber um salto no meu peso. Eu sabia que resperidona aumenta o apetite. Notei. E fiquei atenta, não cedendo à vontade de comer mais. Mesmo assim o peso disparou, chegando a bater nos 60kg. Surtei. Inaceitável para mim. Fui pesquisar, vi que o aumento de peso não é apenas por aumento do apetite, mas por alteração no metabolismo, que pode inclusive acarretar aumento do colesterol e diabetes. Evidentemente muitos usuários de resperidona não podem suspender o uso. Eu posso porque meu transtorno não é tão intenso, nem tão debilitante.
Suspendi na quinta-feira retrasada. Apertei a dieta, o peso recuou em dois dias. E em dois dias também senti o efeito da retirada. Veio a tristeza, a dor.
Até aí, nada de novo. Não é a primeira vez que paro de tomar remédios psiquiátricos. E eu sei bem o que sinto.
O que houve de novo foi o olhar.
Pela primeira vez tive a clara percepção dos meus mecanismos de fuga da dor que me flagela desde a primeira infância. O recalque. E a retaliação com ressentimento/raiva. Em vez de sentir a dor na hora, acolher e dissipar, eu a suprimia. E depois extravasava com atitudes vingativas. Inclusive com minha filha. (Um incidente trivial com ela me fez ver isso - e a possibilidade de agir diferente, de ser diferente, até de sentir diferente.)
A retirada da resperidona teve o efeito da exacerbação do meu aspecto sombrio. Mas teve um saldo amplamente positivo: parei de fugir disso. E vi que não quero mais o antigo padrão de resposta, que tanta dor causou a mim e a outros.
Talvez minhas reações a acontecimentos sejam exageradas, talvez eu jamais consiga mudar isso. Mas sem dúvida comecei a mudar o que acontece em função disso. O que vem depois.
A coisa que fiz pela primeira vez foi pensar em novas formas de reagir - e colocá-las em prática.

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