quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

domingo, 21 de dezembro de 2008

13:17

Meu aniversário astrológico foi hoje, às 13h17min. Comemorei os 45 anos correndo sob um sol tórrido. Na rua. Eu adoro o verão, o calor abrasador.
Nasci num domingo, dia de Oxalá, no Rio de Janeiro, no solstício de verão, no primeiro dia de verão, com o Sol a apenas 54 minutos em Capricórnio, o que faz de mim um Capricórnio em pele de Sagitário, ou vice-versa. Nasci num dia quente.
Hoje o solstício de verão foi às 10h04min, e o verão teve início às 13h05min, pouco antes do meu aníver.
Celebrei o solstício, a chegada do verão e meu ano novo correndo porque estar à solta pela rua, ao sol, no calor, me enche de vitalidade, de alegria, faz com que eu me sinta muito viva e conectada a esse corpo e esse plano. Às 13h17min eu estava na beira do Guaíba, das águas de Oxum.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Que beleza

Eu deveria fazer uma foto.
Estou dando um banho de creme no cabelo, então coloquei uma sacolinha amarela de plástico na cabeça para conservar o calor do meu corpo.
Aproveitei para fazer uma máscara de lama no rosto e pescoço. Essa lama tem uma cor cinza-esverdeada, algo como verde-lama talvez. Ao secar vai ficando mais clara e cinzenta. E rachando.

Não só deveria fazer uma foto, como fiz.
:)
Não posso rir, porque a máscara de lama iria se espatifar toda e fazer a maior sujeira em cima do meu teclado. Não dá nem pra falar. Mas estou quieta aqui, trabalhando e registrando essa sessão de cuidados corporais.
Um dia desses eu tinha acabado de aplicar a máscara de lama e o porteiro veio entregar alguma coisa. Avisei pra ele antes de abrir a porta, e ele conseguiu manter-se sério, sei lá eu como. Eu fiquei rindo por dentro, já que o rosto estava duro de lama.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Minha criança

No dia 8 levei minha mãe ao médico para uma revisão antes das férias. Faz oito meses que a levei ao médico pela primeira vez. Foi no dia 22 de abril. Ela morava sozinha, fazia todas suas compras, dirigia, geria seus gastos. Era independente.
Desde então tirei o carro. Tirei o cartão do banco. Na semana retrasada tirei o talão de cheques. Estou tirando tudo que fazia dela um ser autônomo para garantir sua segurança e conforto. E para ter um mínimo de tranqüilidade, para reduzir as chances de que algo ruim aconteça com ela, já que não moramos juntas (ainda).
Coloquei uma pessoa para cuidar dela de dia. Minha mãe não sai mais sozinha - felizmente ela não quer, porque eu não deixaria. Agora vou obrigá-la a sair para caminhar pelo menos três vezes por semana. Ela adorava caminhar, agora não mais. Ela era ágil, agora seus movimentos estão cada vez mais lentos e vacilantes. E isso e seu olhar são o que me causa um aperto indescritível cada vez que a contemplo. Vejo a doença avançando inexorável, insidiosa e velozmente, minando o corpo e a mente. Além disso ela está ficando velhinha e frágil.
Minha mãe era uma matraca, agora fica calada, às vezes ouvindo o que se fala, outras vezes perdida em si mesma, com o olhar fixo no vazio. E eu me indago sobre o que se passa em sua mente. E sinto algo que não posso descrever, algo como um desespero surdo, dor e tristeza veladas. Talvez ainda não esteja sentindo plenamente porque estou muito ocupada pensando, planejando e agindo. Mas espero ter méritos para que a serenidade com que estou passando por essa experiência seja genuína, e não um represamento de emoções. Que eu esteja realmente acolhendo e dissipando meu sofrimento naturalmente, sem ter chiliques por não estar me apegando a nada nem rejeitando coisa alguma.
Perguntei ao médico se ela é feliz, se esse conceito ainda é aplicável. Ele disse que o conceito cabível é conforto; ela pode se sentir confortável, e é isso que se pode proporcionar a ela.
Vou levar minha mãe pra praia depois do Ano Novo. Ela irá com uma acompanhante. Espero que se sinta confortável. Ela adorava ir pra praia. Talvez seja o último verão em que ela saiba que está em seu apartamento na praia. Pensar nisso evidentemente me causa um arrepio. Mas, dentro de minha serenidade e determinação para cuidar dela, não penso no que vai acontecer no futuro. Vou na onda.
No ano passado, minha mãe acordou no dia 22 de dezembro e não lembrou que era meu aniversário. Lembrou mais tarde - e chorou ao se dar conta de que não havia lembrado ao acordar. Agora ela aceita o esquecimento, de modo geral ela não sofre mais com isso - o que é um conforto para ela e para mim.
Às vezes brincamos com a situação, conseguimos dar umas risadinhas. Como hoje, ao falarmos sobre Neusa, que ficará com ela a partir de agora, no lugar da Clélia, que saiu porque não poderia ir pra praia. Neusa esteve na casa da minha mãe ontem. Foi hoje de novo, e minha mãe não lembrava quem era. Amanhã Neusa vai de novo, e ficamos comentando que periga ela ter esquecido outra vez, e sorrimos. Minha mãe anotou o nome de Neusa na geladeira pra não ter que perguntar a todo instante. Mas vai chamá-la de Clélia por um tempo.
Às vezes ela fica infeliz por ver o quanto está se tornando dependente. Mas isso dura pouco, graças a deus. Em certa ocasião ela chorou ao concluir que havia se tornado uma mala que só dava trabalho. Tive vontade de me atirar no chão aos gritos. Sheer dispair, full force. Sei lá de onde tirei nervos pra confortá-la. Espero que essa idéia não lhe volte à mente, esquecida de vez. Tudo menos isso.
Outras vezes ela se rebela com o cerceamento de sua liberdade, reclama e se irrita, diz que não está tão mal para ser tratada como abobada ou criança. Graças a deus isso também dura pouco. Ela esquece tudo.
De fato, minha mãe cada vez mais é tratada como criança. A diferença é que, ao contrário de uma criança, ela não pode ser ensinada. O que ela desaprender estará perdido. Mas, enquanto houver conceitos, que ela possa se sentir confortável, cuidada. Amada como uma criança.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Senhora Minha Mãe

8 de dezembro é dia de Oxum, senhora da água doce, das cachoeiras, do amor, do ouro, da fertilidade. A mais bela das orixás, essência da natureza feminina, dona da intuição e da magia.
Senhora minha mãe, que me ampara, apóia, protege, acolhe e cobre com seu manto dourado.

Imagem de Oxum carregada em procissão esta noite em Porto Alegre.

Estátua de Oxum em Ipanema, às margens do Lago Guaíba. Neste local há um orixá Oxum assentado.

Estátua de Oxum produzida pelo artista plástico baiano Tati Moreno.

domingo, 7 de dezembro de 2008

43'07

"Oi mi amor! Vai com tudo! Hj é uma prova 100% cabeça, não é para tempo e sim para colocação, ok? Gruda naquela corredora e no final confia em ti! Eu confio.. Bjo"
De: Edu Perfect Run
Enviado: 6:41


Estava indo pra cama, depois de passar a noite dançando numa festa na casa de minha mãe-de-santo, quando recebi esse sms de mi amor de treinador. Estava decidida a não correr hoje, a etapa final do Circuito do Corpa. Ando cansada, tive uma semana difícil, passei a noite em claro. E achei que não precisava fazer essa corrida, que minha classificação em primeiro lugar na categoria 45-49 anos já estava garantida.
Mas aí Edu mandou esse sms, e eu não consegui dormir. Pensava: "Ah, deixa pra lá. Corrida não é a coisa mais importante, não tem por que me estressar." Mas sentia: "Pô, o Edu tá querendo ver meu resultado, tá achando que posso correr bem... E meus amigos vão se preocupar se eu não aparecer, falei pra todo mundo que eu ia, e vai ter o churrasco aqui depois, vão até pensar que não vai rolar, que papelão..."
Concluí que precisava ao menos ir lá e ver o que acontecia. Afinal, se eu estivesse tãããão cansada da festa e do resto, teria dormido. E eu não durmo de dia mesmo, ia só ficar deitada torrando a paciência, me cansando com o esforço pra tentar descansar e dormir. Saí da cama às 8:06, saí de casa às 8:25 (a corrida era às 9h).
Cheguei no Gasômetro, peguei meu kit, encontrei minha amiga Filó e fui trotar com ela. Depois com Marcia Lima. No início parecia que ia ter que me arrastar na corrida, mas depois fui ficando mais leve de corpo e especialmente de mente.
Na largada estávamos eu, Filó, Marcia e Cynthia, outra amiga muito querida. Na corrida de Gravataí, eu fui atrás da Cynthia e pela primeira vez cheguei na frente dela. Dessa vez foi a mesma coisa, ela saiu mais forte. E eu estava achando que ia só fazer uma corridinha de carnê. Mas comecei a correr e vi que meu corpo estava ok, que eu não estava sofrendo. Então decidi ir forte até onde desse. No km 2 encostei na Cynthia, e fui grudada nela por um tempo, até ultrapassá-la. Na verdade eu não ultrapassei, mantive o mesmo ritmo.
No km 3, pensei: "Agora só faltam mais 2 até a metade, depois é voltar. Vou tratar de ir ligeiro e voltar logo." Como é bom chegar na metade! "Beleza, já é." Quando cheguei no km 7, dei uma amarelada forte; senti o calor, percebi o esforço do meu corpo, os batimentos. E tive medo de desmaiar, cheguei a ter uma leve tontura - e pensei em parar na ambulância que estava por ali. Mas parar para que exatamente? Eu não estava desmaiando, só estava ficando cansada. Aí pensei: "Se eu desmaiar, vão ver, e alguém virá juntar. Não reduzir nada, vou é tratar de acabar logo essa corrida, isso sim." Tratei de me aprumar, e lá se foi a tontura. E lá fui eu pra linha de chegada.
Fui no carro trocar de roupa, e tinha outro sms do Edu:

"Mi amor de corredora deve ter chegado há pouco! Como será que ela foi? Bjooos, Edu".
De: Edu Perfect Run
Enviado: 9:43


Ela foi bem. E voltou melhor ainda. :)
Cheguei inteirinha, bem menos cansada do que em outras vezes.
E fiz meu melhor 10km até hoje: 43:07 líquido (43:13 bruto).
Fui correr por causa dos outros, basicamente por causa de mi amor de treinador, que parece confiar mais em mim do que eu. Seria lamentável não ir. Deixaria de fazer meu melhor tempo, não mostraria a mim mesma como estou hoje, não veria os resultados dos treinos, da dedicação, da disciplina. E o pior é que me arrependeria e ficaria mal comigo mesma, por ter desistido sem ao menos tentar.

domingo, 30 de novembro de 2008

Perfect Run

Perfect Run é o nome da assessoria de corrida de mi amor de treinador, Eduardo Schütz. Perfect Run foi o nosso programa de hoje: uma corrida-passeio/festivo reunindo a maioria do grupo.
Eu nunca fui muito chegada em esquemas réstia-de-cebola, de sair em penca pra qualquer coisa. E estou acostumada a correr sempre sozinha, fazendo meu treino, no meu ritmo, sem ter que acertar passo com ninguém. Mas, desde que Edu falou que teria essa corrida de confratermização, simpatizei com a idéia. E nos últimos dias estava aguardando ansiosamente o evento. Minha irmã veio passar o fíndi aqui, e tratei de convocá-la pra função.
Minhas expectativas (ops!, lá se foi pro brejo a prática budista - mas posso dizer que, em vez de expectativas, eram desejos auspiciosos, hehehe...) foram plenamente preenchidas.
Adorei trotar em alegre bando, de uniforme, com amigos, conhecidos e desconhecidos, foi muito confortável e natural me integrar na massa cor-de-laranja que saiu do Parcão, pegou a Goethe, Vasco, Sarmento Leite e seguiu até o Gasômetro, percorreu 1km pela orla do lago e voltou, fazendo uma parada rápida na Redenção pra beber água, e retornou ao Parcão, onde nossa barraca estava abastecida com frutas e gatorade.
Somos um grupo das mais variadas velocidades. Para nos mantermos unidos, fomos num passo bem leve. Pude conversar (sem parar, hehehe) com várias pessoas e desencanar do ritmo. Esqueci do relógio. Não foi treino, foi passeio. Foi um programa divertido entre amigos. Foi muito diferente do que faço todos os dias. Eu sigo uma planilha, então todo dia tenho alguma meta a atingir; por mais que eu goste de correr e treinar, e que isso pra mim seja passatempo e diversão, tem uma certa obrigação na minha rotina. Hoje a meta era simplesmente curtir. No início estranhei, mas depois fui relaxando.
O que mais gostei foi de me sentir identificada com o grupo e integrada a ele. Sempre fui um tipo periférico - Lena diz que eu sou de todo mundo e não sou de ninguém -, mas desde o ano passado comecei a me tornar mais gregária. É um fenômeno ligado à corrida, onde formei um grupo de amigos, um "nós", que se encontra na pista, nas provas e aqui em casa.
Treinando com Edu, a idéia do "nós" foi se firmando, porque ele sempre fala "nós". Quando chego na pista, ele diz: "Hoje nós vamos fazer isso e aquilo". E ele sempre se refere à Perfect Run como "nós".
Eu achava isso muito engraçado, mas agora entendi, porque não me vejo mais como "eu" junto com um grupo, vejo "o nosso grupo". E já estou começando a falar "nós" como mi amor de treinador. :)

sábado, 29 de novembro de 2008

Natal 2008


Montei a árvore essa semana, segunda e terça. Minha filha ajudou - e insistiu em bolinhas. No ano passado usei apenas fitas, coisa mais chique.
Até agora o gato Lelo já quebrou quatro bolinhas. Espero que a árvore chegue inteira ao Dia de Reis.
Adoro árvores de Natal. Sento na sala e deixo apenas as luzes do pinheiro acesas. E relaxo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Dois anos hoje

Meu lama disse em um ensinamento que o passado muda. E deu como exemplo olharmos para uma foto de alguém ou algo de que gostávamos mas que tenhamos deixado de gostar. Os fatos serão os mesmos, mas a percepção será totalmente diferente. No livro de B. Alan Wallace que estou traduzindo, ele fala disso em termos de física e ciência. Loucura.
Tenho a tendência de olhar para o passado pelo melhor ângulo, valorizando as coisas positivas - isso inclui ver o que aprendi com experiências dolorosas ou desagradáveis. Assim tudo se torna mais leve e valioso.
Certas experiências são bem mais propícias para uma lembrança positiva. Recordá-las traz basicamente uma sensação agradável.
O modo como algumas coisas acontecem é extraordinário. Também é extraordinário o modo como certos fragmentos de memória mantêm-se nítidos. A cor do céu, uma peça de roupa, a sensação que se teve ao ouvir uma música, coisas que em geral passam meio batidas, mas que, em algumas circunstâncias, são registradas de modo indelével.
Tenho inúmeras dessas recordações desde a infância. Às vezes elas brotam na mente como que do nada. E sempre me surpreendo com o frescor que elas retêm.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Outro tombo

Caí hoje literalmente no meio da rua (felizmente o sinal estava fechado), na esquina da Mostardeiro com Goethe, ao sair do Parcão rumo ao Cete. Estava cansada e pesada, arrastando os pés, suponho. Ao descer da calçada do parque perdi o equilíbrio, tropecei e me estatelei no asfalto. Mas foi um tombinho light, levantei e segui trotando até o Cete. E fiz todo o treino (e fiz bem), e voltei trotando.
Felizmente dessa vez fiz um esfolado pequeno no joelho esquerdo, em cima da cicatriz do tombo horrível de abril, quando realmente me detonei. Depois daquele de abril caí de novo e rasguei uma calça novinha no Gasômetro.
Sou uma pamonha, só pode. Enfim...

Mas sou uma pamonha cada vez mais disposta, treinada e focada.
No domingo passado, em Gravataí, fiz a melhor corrida de minha carreira, hehehe. :) Era um percurso ruim, sobe-e-desce contínuo, com sol e calor (e eu fui de calça e top grande, porque estava frio às 6h, quando acordei). No meu Garmin, fechei os 10km em 44'02, o chip marcou 44'32, mas todos meus amigos fizeram tempos mais altos e acham que o percurso estava mais longo. Naquelas ladeiras, vai saber...
Pra mim, o que interessa é que dessa vez não tive os pensamentos murrinhas de parar, de desistir, de afrouxar. Pelo contrário. A pamonha obediente fez o que o treinador mandou: largar forte, ir atrás de alguma mulher que corre mais, tentar ficar perto dela o tempo todo, ou até não agüentar mais. Ainda não foi perfeito: fui pra prova sem ânimo, larguei de má vontade, e tive uma noite péssima, acordando direto. Mas, como na maratona de revezamento no início do mês, foi largar pra encaixar a mente e me concentrar em fazer o meu melhor, fazer aquilo para o que treino.
Fui atrás da minha amiga Cynthia. E pela primeira vez passei e cheguei na frente dela, que acabou fazendo uma prova ruim, pois teve cãibras.
Fiz a minha melhor corrida sem reduzir treino durante a semana. E no sábado tinha feito 20km em 1h38min, que pra mim é um ritmo forte de rodagem.
Eu e mi amor de treinador estamos felizes da vida com esse resultado. Estou aprendendo a ir pras provas com objetivos - e a me manter focada neles. Como disse minha amiga Lena, antes eu ia por ir, só pra ver o que acontecia. E não acontecia nada muito interessante...

domingo, 23 de novembro de 2008

Elogios

Meu amigo Jaime comentou aqui que eu não pareço gostar de elogios a meus atributos físicos. Ele tem razão. Em geral fico constrangida com esses comentários. Aí ele observou que um dos meios hábeis das dakinis para estimular os praticantes é justamente atraí-los pela beleza. Isso me levou a matutar sobre meu comportamento.
Acho que o principal motivo para ficar sem graça é simplesmente não ter nada a dizer a não ser obrigada. O outro motivo é que isso sempre me leva a temer a superficialidade, é como se o outro só visse a minha aparência externa. E como se eu só fosse interessante por causa disso. E, aos 44 para 45, ser apreciada apenas pela beleza física seria realmente um perigo...
Há ainda um outro fator: quando ouço esses elogios, parece que as pessoas me acham muito mais bonita do que eu realmente sou (ou me acho).
Por fim, sempre que sou elogiada por qualquer coisa, costumo ficar meio encabulada. Depois de anos de terapia, desenvolvi a auto-estima, realmente gosto muito de mim, me aceito como sou e, quando há algo que me desagrada (por dentro ou por fora), simplesmente trato de mudar. Tenho um enorme orgulho da pessoa que me tornei, porque, assim como esculpi meu corpo, reconstruí minha identidade. Mas tomo cuidado para não ficar me achando a tal por causa dessas coisas, pra não me julgar melhor que os outros.
Quando ouço elogios, talvez eu puxe o freio de mão pra não me deixar levar por ventos de orgulho, vaidade e presunção. Porque minha meta nessa vida é desenvolver um bom coração falante. Ou seja, quero expandir minha capacidade de acolhimento, quero gostar de todo mundo e ver as boas qualidades e potencialidades de todos os seres de modo eqüânime - e expressar isso em atos e palavras.
Quanto à beleza e demais qualidades que possuo, desejo que funcionem como os atributos das dakinis: que sirvam de inspiração e que possam ser causas de felicidade. E, caso algo seja motivo de inveja, que essa possa tornar-se energia positiva para uma transformação pessoal.
Por fim, como não sou uma dakini, que meus defeitos possam servir de inspiração sobre o que evitar.

sábado, 22 de novembro de 2008

44 anos, 11 meses em 22/11

Daqui a um mês faço 45 anos.
Fiz essas fotos hoje ao chegar em casa da corrida de 20km. É que cheguei faceira, corri na boa, só senti o tranco mesmo no último quilômetro, mas não afrouxei porque estava doida pra terminar logo. Gostei dessa camiseta nova, gostei da corrida, gostei de tudo (estava tão na boa que nem me afligi muito com a ventania e com os chuviscos ocasionais) e resolvi registrar o momento.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

É tanta coisa

Fiz aula de yoga às 7h30. Levei Lízia comigo, como havia feito na terça. Estamos curtindo muito. Tiago querido, professor de musculação do clube, está fazendo a formação em yoga, e treinando para dar aulas. Somos apenas três alunos. Perfeito.
Mas estou impressionada com meus encurtamentos musculares. Tenho que começar a alongar. Agora quero fazer aula de yoga. Também quero fazer aula de dança do ventre. E pedalar. E, e, e, e... Minha disposição não cabe em 24h.
A trajetória pessoal/profissional do Tiago me enche de alegria. Tiago é daquelas pessoas bacanas, legais, de quem é muito fácil gostar. Em novembro de 2006 fomos correr em Bento Gonçalves, uma tremenda indiada. Frio pra cacete, chuvisco, e um percurso só de aclives, uma loucura. Quase tive um treco, odiei cada segundo daquela corrida, mas Tiago ficou me puxando-empurrando e me fez apertar o ritmo no final. Foi a primeira vez que ganhei dinheiro numa corrida, hehehe. Voltamos de Bento e passamos a tarde aqui em casa, ouvindo música e conversando. E foi quando eu vi o quanto Tiago é realmente legal. No verão de 2007 fiquei na casa dele depois da TTT, e conheci seus pais - e pude ver a quem ele puxou. Tenho um carinho especial por dona Mercedes, a mãe dele, muito, muito, muito fofa.
Treinei na pista sob o olhar de mi amor de treinador, Edu, que está me fazendo aprender muito sobre mim. Comecei a treinar com ele em junho, depois da maratona. Ele me faz treinar no limite, e está expandindo esse limite mês a mês. E me preparando aos poucos para entrar nas provas com objetivos de tempo, com mais determinação. Edu me transmite uma enorme tranqüilidade, segurança, confiança, foco. Se ele diz que eu tenho que fazer uma coisa, eu vou lá e faço. Se ele diz que eu posso fazer, eu vou e faço. Eu acredito que dá pra fazer porque ele diz que dá. Ele treina meu corpo e minha mente. Me ajuda na sincronização dos agregados.
Cheguei no Cete mais cedo e encontrei Lena & Soares e Cynthia, amigos queridos, que coisa boa. Domingo nós três e Marcia iremos pra outra indiada, uma corrida em Gravataí, outro percurso casca-grossa. Mas com amigos essas empreitadas são um barato.
Sábado Lena está de aniversário. E hoje comprei o presente dela na Adidas. E o do Soares, que fez aníver em agosto, e até agora eu não tinha comprado, porque não ia na Adidas desde antes da maratona.
Na Adidas sou sempre atendida por Oscar nem sei há quantos anos. Gosto de todo mundo naquela loja, todos me tratam bem. Mas Oscar se tornou especial pra mim, e agora ele já conhece meu gosto (o que é moleza, porque gosto de tudo lá, hehehe), já sabe meus tamanhos, o que vai ficar melhor e o que não vai servir, o tipo de tênis que pode me agradar. Hoje ele me contou que Letícia saiu da loja e está muitíssimo bem no novo trabalho. Ela me atendia quando Oscar não estava lá.
Depois da pista fiz musculação. Não conversei muito com Ice, ele estava ocupado. Ice é meu treinador há mais de cinco anos. Ele que ajudou a definir meu corpo, eu era muito diferente antes de seguir as planilhas dele. Pode-se dizer que meu corpo tem a assinatura dele, eu disse como queria ser, e ele bolou o roteiro da reforma. Foi um dos maiores incentivadores quando decidi colocar silicone, e é com certeza uma das pessoas que melhor me avalia em termos de estética. E ele não pode criticar meus excessos porque pega pesadíssimo também, e só não treina quando está que não consegue se mexer.
De tarde fiz pé e mão - as unhas das mãos estão azuis - e combinei um almoço com Ana e família aqui em casa pra breve. Depois irei no culto da igreja batista que eles freqüentam. Ana é minha manicure e minha amiga. Em dezembro vai fazer dois anos que nos vemos praticamente todas as semanas. Já fui atrás dela até na praia. E durante um tempo Ana me atendeu na casa dela. Ela tem uma prática espiritual muito firme e intensa, é muito atuante em sua igreja, a religião é tão importante pra ela quanto pra mim, é algo sempre presente. Admiro isso. Assim como admiro o capricho dela no trabalho. Admiro acima de tudo o modo como ela vive. Otimista. Produtivo.
Também fui na Teka, minha costureira e amiga. Conheci Teka através da mãe Dalva, ela faz meus axós (está lá com três deles pra bordar). E agora faz também minhas tchubas. E esses meus trajes são elogiados por todos, são muito bonitos mesmo. Teka faz todo tipo de costura pra mim, fez o traje romano da Lízia, um sucesso na escola, consertou minha saia de jeans que manchei com clorofina, uma calça de corrida que rasguei num de meus fabulosos tombos... Adoro ir na casa da Teka, ficamos horas conversando. Ela adora bichos e plantas. Me deu uns gerânios lindos, que estão aqui nos vasos, sempre floridos. E me deu também meu amado gato Lelo, filho da gata Chiquinha, irmão do Romeu e do Baby. Teka é outra batalhadora de coração de ouro.
Pra encerrar, fui me depilar na Odete, minha esteticista e amiga há mais de 20 anos. Odete gosta de gatos como eu; teve a Freddy, o Mitchie, a Mel, agora tem a Rebeca. Como eu, ela também é disciplinada na prática esportiva, malha diariamente com prazer. Também é reikiana como eu. E com uma espiritualidade sempre cultivada. E uma alimentação equilibrada. Conversamos muito sobre nossas vidas e nossas visões, que são parecidas. A excelência profissional de Odete também é enorme, tudo que ela faz é bem feito, é impecável.
Todas essas pessoas entraram em minha vida por vias profissionais e se tornaram queridas e importantes não só pelo que fazem, mas pelo que são. Vejo um bom coração em todas elas, é sempre bom encontrá-las. Elas fazem meu dia ficar melhor.
Meu dia de hoje teve um momento fraquíssimo em termos sociais/afetivos/emocionais, mas meus contatos com esses seres luminosos me mantiveram radiante, feliz e na paz. É a questão da paisagem. Em vez de ficar caída numa paisagem sombria de animosidade, distância e silêncio, me sentindo magoada e sozinha, instalei-me confortavelmente na paisagem das interações positivas que aquecem o coração. Cercada de gente querida por todos os lados.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Simplicidade profunda

Uma Vida Humana Preciosa

Pense todo dia ao acordar:

"Sou afortunado por ter acordado.
Estou vivo, tenho uma vida humana preciosa.
Não vou desperdiçá-la.
Vou usar toda minha energia para me desenvolver, para expandir meu coração para os outros, para obter a iluminação para o benefício de todos os seres.
Terei pensamentos bondosos em relação aos outros.
Não vou ficar zangado, ou pensar mal dos outros.
Vou beneficiar todos os seres tanto quanto puder."

Sua Santidade o Dalai Lama.



Esse pequeno texto está no marcador de livros que Gui me deu no sábado, no Cebb, porque esqueci de levar um dos meus.
Agora estava aqui trabalhando e li o texto de novo, e tive que postar. Porque meu coração transborda quando penso em Sua Santidade o Dalai Lama, e em tudo que ele significa para mim e milhões de pessoas. Oceano de Sabedoria. Kundun, A Presença. Yeshe Norbu, A Jóia que Realiza Desejos.
Avalokiteshvara/Chenrezig, o Buda da Compaixão, que vai até os seres e se comunica com todos eles, conforme seus níveis de entendimento. Sua Santidade é capaz de transmitir a visão budista com a simplicidade do texto acima, ou com ensinamentos de complexidade extrema sobre Dzogchen e práticas tântricas como o Kalachakra Tantra.
Chenrezig de Mil Braços acolhendo todos os seres para mitigar seus sofrimentos e lhes trazer a felicidade temporária e definitiva.

57,4kg

Meu peso atual está por aí.
Me pesei ontem, depois que Ice, meu treinador de musculação, me olhou e disse que estou sumindo.
Quando falei o número, ele disse o mesmo que pensei: "Mas como você é pesada!" Sou a legítima falsa magra, hahaha.
Bem, são os outros que me acham magra atualmente. Eu me acho normal. O que noto é que meus braços estão fininhos, e creio que é isso que dá essa impressão (falsa) de magreza.
Ou será que antes eu estava na fófis-season, que nem diz o Newton, fisiculturista, quando está na temporada de aumentar a massa antes de iniciar a dieta pra competir? Hehehe, não creio.
Bem, bem, bem, creio é que meus devaneios de pesar entre 54kg e no máximo 56kg vão ficar só em devaneios mesmo.
Porque toda essa diferença visual de agora refere-se a apenas 2kg. No ano passado, perto da maratona, eu estava na faixa dos 59kg. Gostaria de baixar mais, o máximo possível, porque meus joelhos e tornozelos agradecem. É uma enorme diferença em termos de conforto ao correr. Mas não sei se consigo baixar mais. Ainda mais comendo brigadeiro na sobremesa, que nem fiz hoje, na casa da minha mãe. Affff...

domingo, 16 de novembro de 2008

Cebb

Mais um fim de semana de retiro. Ouvi meu lama ensinar sobre o Vajracchedika, o Sutra do Diamante. De pirar o cabeção. A budista relaxada aqui nunca havia lido o Vajracchedika e ficou embasbacada. Nada de Caminho do Ouvinte, nem Sutrayana, nem Tantrayana. O lance é Guru Yoga, só assim pra realizar a sabedoria da vacuidade. Tem que pensar como um buda, ter a mente de buda. Tudo o mais é conceitualização.
Enfim, mesmo com minha limitadíssima capacidade, tive vislumbres que me fizeram sorrir e brilhar.
Forma é vazio. Vazio é forma. Mas forma é forma. E vazio é vazio. É e não é. Nada para afirmar, nada para negar, porque é tudo conceitualização dual. É igual, é diferente, não é igual, não é diferente. É inexprimível e inescrutável.
Minha primeira percepção disso foi no retiro com monge Gabriel. A teoria, o conhecimento cognitivo, começa a adquirir um outro sabor.
E cada vez mais Samantabhadra me atrai.

Eu sou um fenômeno. Não sou capaz de citar as Quatro Nobres Verdades. Não sei de memória o Nobre Caminho Óctuplo. Há pouco aprendi a ordem das Quatro Qualidades Incomensuráveis, e só neste fim de semana enfim consegui reter as Seis Perfeições em ordem. Também neste findi, finalmente a anta budista integrou o significado dos 3 venenos representados pelo javali, a cobra e o galo. As dez ações não-virtuosas (que muito cometo) também não sei citar de memória. Nem vou comentar o que sei sobre os 12 Elos do Surgimento Dependente... (Esse é um tema traumático; o primeiro livro de Sua Santidade o Dalai Lama que traduzi foi O Sentido da Vida, sobre os 12 elos. Eu mal havia me aproximado do budismo, não sabia nada e deparei com um ensinamento do Dalai Lama editado por Jeffrey Hopkins, erudito cujo estilo não me atrai, se é que você me entende...)
Em resumo, sou uma vergonha no básico.
Mas é falar em Samantabhadra/Vajradhara, Prajnaparamita, Dzogchen, Mahamudra, sabedoria da vacuidade, verdade absoluta e relativa, e eu me assanho toda. Não é por acaso que me conectei ao lama Padma Samten, que se concentra no estudo do Prajnaparamita e do Vajracchedika.
Mas vou tratar de estudar mais os fundamentos. E recitar mantras. E meditar.
Essa é minha idéia de aproveitar a vida.
:)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Kashmir

Adoro essa música, cuja letra foi escrita no Sahara, embora refira-se a Kashmir, que fica na Índia. E adoro ainda mais o deserto.
Não há paisagem terrena que me fascine como o deserto. Deve ser em função de minhas inúmeras vidas em regiões áridas. Percorri centenas de quilômetros de carro através do Atacama chileno. E jamais me senti tão em casa quanto lá.
Minhas paisagens preferidas são amplas e áridas: deserto, mar aberto com extensa praia de areia, geleiras. Gosto de vastidão. Gosto de paisagens que se estendem desobstruídas e desnudas a perder de vista, com o céu escancarado acima delas.
The Sheltering Sky. Outra obra ligada ao deserto.

Oh let the sun beat down upon my face, stars to fill my dream
I am a traveler of both time and space, to be where I have been
To sit with elders of the gentle race, this world has seldom seen
They talk of days for which they sit and wait and all will be revealed

Talk and song from tongues of lilting grace, whose sounds caress my ear
But not a word I heard could I relate, the story was quite clear
Oh, oh.

Oh, I've been flying... mama, there aint no denyin
I've been flying, aint no denyin, no denyin

All I see turns to brown, as the sun burns the ground
And my eyes fill with sand, as I scan this wasted land
Trying to find, trying to find where I've been.

Oh, pilot of the storm who leaves no trace, like thoughts inside a dream
Heed the path that led me to that place, yellow desert stream
My Shangri-La beneath the summer moon, I will return again
Sure as the dust that floats high and true, when movin through Kashmir.

Oh, father of the four winds, fill my sails, across the sea of years
With no provision but an open face, along the straits of fear
Ohh.

When I'm on, when I'm on my way, yeah
When I see, when I see the way, you stay-yeah

Ooh, yeah-yeah, ooh, yeah-yeah, when I'm down...
Ooh, yeah-yeah, ooh, yeah-yeah, well I'm down, so down
Ooh, my baby, oooh, my baby, let me take you there

Let me take you there, let me take you there

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lilibel

Lízia e eu levantamos hoje às 6h30 pra fazer essa produção à romana. Uma patrícia romana a minha linda patricinha. Trabalho da escola, que rendeu bastante trabalho pra mim também, entre pesquisa de época, compra de tecido, costureira, compra e confecção de adereços e, pra completar, serviços de cabeleireira. Pra fazer o penteadinho simples tive que ensaiar duas vezes antes, mas até que ficou bem bacana, dada a minha inépcia. Também estou ficando mais habilidosa com a escova e grampos porque terças e quintas tenho que fazer o coque pra aula de ballet; quem fazia antes era nossa ex-empregada.
O traje rendeu ainda um tremendo perrengue, porque Lízia, como várias colegas, queria fazer uma roupa em estilo grego. Aqui em casa não. Fui pesquisar na internet e fiz uma roupa mais assemelhada às originais - e muito diferente daqueles trajinhos que se via nos filmes sobre Roma.
Saímos da cama às 6h30, mas não dormimos quase nada antes. Às 4h15, Lízia me chamou pedindo pra vir pra minha cama porque não conseguia dormir. Veio, e aí quem também não dormiu mais fui eu... Bateu o nervoso na minha pré-adolescente, que, como disse nossa terapeuta, está brincando de ser adulta, ensaiando... Nossa, que fase. Felizmente passa. :)
Minha pré-adolescente de momento quer o melhor de dois mundos. É mocinha pra sair de noite, usar salto alto, maquiar-se, escolher as roupas, ter celular sofisticado e sonhar com um notebook (o desktop é tosco). Mas é criança para levar a roupa suja pra área de serviço, guardar a roupa limpa, manter o quarto minimamente em ordem, lembrar de fazer o tema (e lembrar de qualquer coisa em geral) e aquecer uma comida no microondas (que eu comprei porque antes o problema era usar o fogão). Afffff. E tem as venetas, uns ataques súbitos de mau humor, ou de impaciência, ou de pura chatice, que vêm do nada e em seguida cessam.
Como ela tem 12 anos, estou tratando de manter a paciência. Ainda tem muito pela frente, hehehe. Além do mais, seria absurdo eu achar que Lízia dá muita incomodação apenas por ser relaxada e negligente com coisas que evidentemente eu também um acho porre de fazer. Entendo perfeitamente que ela ache melhor fazer qualquer coisa (inclusive não fazer nada) do que arrumar, guardar, limpar. Mas quero que ela perceba a importância dessas atividades na organização não só da casa, do espaço externo, mas da própria vida, do espaço interior. Uma coisa reflete a outra. Ambas se influenciam.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Coisa bem boa


Ontem corri uma maratona de revezamento num quarteto.
Foi a primeira competição desde que mi amor de treinador iniciou um trabalho voltado à minha educação para tolerar melhor o esforço e não afrouxar o ritmo quando bate o cansaço. E foi a primeira vez em que me senti melhor na volta que na ida.
As competições haviam se tornado um enorme sofrimento pra mim. Já no primeiro quilômetro eu começava a odiar estar lá, me indagando por que afinal me submetia a uma experiência tão desagradável. Pensava em parar, em caminhar, em nunca mais competir, em trotar - e seguia correndo nesse (mau) humor contraproducente, de má vontade - como se eu corresse por obrigação e não por prazer. Claro que terminava as provas mal. Os nervos tão retesados quanto meus músculos e articulações.
Desde a maratona de maio, que foi um turning point na minha relação com a corrida (e com a vida em geral), eu voltei a ter muito prazer em treinar, basicalmente na pista. Mas as rodagens na rua não me animavam tanto (e eu andei falhando os treinos), e as competições eram um total desgaste.
Conversei com Edu sobre isso depois da meia-maratona no mês passado, que foi um verdadeiro suplício. E desde então estou treinando a resistência - física e emocional - na pista, em tiros médios e curtos combinados, com intervalos curtos, e em fartleks. Nos primeiros treinos eu achei que jamais fosse conseguir agüentar aquilo - e sequer aprender a fazer. Claro que agüentei. Errei todos os ritmos no início, mas depois fui encaixando. Na semana passada, a terceira disso, fiz tudo direitinho. E o cansaço físico e o sofrimento mental diminuíram muito. O corpo e a mente se ajustaram. Prática. Disciplina. Concentração. Como sentar para meditar.
E ontem foi a mesma coisa. Foi curioso observar the workings of my mind. And body.
Antes de largar eu estava ultranervosa. Mas assim que comecei a correr dei a primeira encaixada: não havia por que estar nervosa, estava treinada e tinha total condição de fazer aquilo.
Pra variar, saí feito uma doida, e logo senti os antebraços formigando, sinal de que estava num ritmo insustentável. Aí encaixei de novo.
Ali pelo km 2, tive um surto das idéias fracas de sempre, de que não ia agüentar, de que era pesado demais e tal, mas o corpo não acompanhou a mente, eu percebi claramente que estava numa ótima, e encaixei outra vez.
Antes da virada nos 5,25km, lembrei do que Edu me disse, de que eu precisava aprender a segurar o ritmo na volta, não afrouxar na virada - pelo contrário, pensar que a partir dali era o fim e que tinha que dar tudo e até tentar negativar. Não negativei, mas não afrouxei.
Fiz minha corrida mais constante. E nos metros finais consegui abrir um pouco a passada, ao contrário do que sempre acontecia; quando avistava a chegada eu muitas vezes afrouxava.
Cheguei inteira, bem. Corri no tempo que estou treinada pra fazer. E não senti o calor que castigou muita gente. (Eu gosto de calor, tenho uma boa resistência a altas temperaturas, passo mais trabalho no frio.) Dei duro, me puxei, não estava lá passeando, não teve nada de moleza. Mas estava confortável porque estava preparada para e disposta a passar por aquele esforço. E uma coisa é esforço, outra é sofrimento. Havia uma motivação e um foco. E não havia motivo para sofrer. Nunca houve. Simplesmente criei uma paisagem mental de sofrimento nas corridas e me meti lá dentro.
Não consegui sustentar a paisagem mental de conforto o tempo todo. Houve vários momentos de sofrimento, a mente oscilou bastante. Mas foi como uma prática de shamatha: a mente se desviava do objeto de concentração e era trazida de volta.
Quando Paulão massageou minhas pernas, notei que elas estavam soltas, relaxadas. Como minha mente.
:)
Tudo em minha vida serve pra praticar aquilo em que acredito.
:)

domingo, 9 de novembro de 2008

Família

Laura, Lízia, Maria Helena e Lúcia.
Domingo, 9 de novembro de 2008.


Hoje participei de uma corrida de revezamento. E minha irmã levou nossa mãe e minha filha pra conferirem o agito. Foi um tremendo programa de índio no fim das contas, estava uma megamuvuca e quente pra caramba. Então elas ficaram lá por um tempo e depois foram embora - meu ex-marido fez a mão e foi buscá-las.
Minha irmã passou trabalho pra fazer a mãe sair. Ela está cada vez menos disposta a fazer coisas, quer apenas ficar em casa. E fica muito quieta, com o olhar fixo no vazio. Onde está a mente dela?
Olhar para esse processo de desintegração é muito doloroso e perturbador. Estou perdendo a pessoa que cuidou de mim, e isso gera medo, e sensação de desamparo e solidão extrema. E uma perda de referencial, de identidade, porque os papéis de mãe e filha se inverteram. Mas ao mesmo tempo estou desenvolvendo uma enorme aceitação, e isso me pacifica. Ao aceitar tudo que está acontecendo, liberto-me das sensações negativas. E de apegos a identidades e paisagens.
Meu olhar para o passar do tempo está mudando. Vivo o hoje, o agora. Um dia de cada vez. Valorizo cada momento, cada experiência. E me abro para miríades de possibilidades.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Espelho, espelho meu

Todo mundo tem me dito que estou mais magra.
Mi amor de treinador (Edu), meu ex-treinador (Clóvis querido, que eu agora só chamo de "gordáquilo", porque ele surtou com esse apelido, que originalmente é do meu gatânlio Ted Boy Marino), amigos. Hoje encontrei um corredor que não me via desde a maratona, e ele comentou a mesma coisa.
Como não faço mais musculação regularmente por falta de tempo, acredito que estou menor por ter perdido massa magra. Gordura eu não tenho muita, e a que tenho é daquele tipo insuportável que só sairia com dieta de fome (coisa que nunca fiz, nem farei) ou com alguma cirurgia mirabolante (que nenhum médico decente faria).
O que tenho agora, me parece, é um distúrbio visual (pra não dizer mental), porque me olho e sempre me acho meio grandona, hehehe. Lógico que não me acho gorda, mas acho que a buzanfa e as pernas deveriam ter vários centímetros a menos. Gosto de osso, pele e músculo. Nada a ver com corpo esquálido de modelo, mas não gosto de volume. Aí sempre acho que eu poderia ser menor, ter menos enchimento entre o osso e a pele. Mas é um achismo que não se traduz em nenhuma ação, porque sempre concluo que está tudo bem do jeito que está. É mais aquela coisa de ficar vendo pêlo em ovo, mosquito na lua... Ou talvez a permanente insatisfação do samsara.

Acho que preciso me pesar pra ver o que dizem os números. A última vez que me pesei foi um tempo antes antes da maratona, eu estava com 59,5kg. Nunca me peso pra não ficar alimentando idéias fracas sobre a necessidade de perder peso. Já tenho bastante coisa pra ocupar a mente - entre o que é útil e as bobagens -, só me faltava entrar numas com a balança.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

OBA!!!

Que bom estar viva para assistir a eleição de Barak Obama.
Como é emocionante ver gente no mundo inteiro feliz e esperançosa por causa de um homem e tudo que ele simboliza. Ver uma pessoa criar uma onda gigante de mobilização e união. Ver uma pessoa realizar um sonho e ir além de tudo que a visão limitada convencional considerava possível.
Vida humana preciosa.

domingo, 2 de novembro de 2008

No Dharma

Cheguei há pouco do Cebb - Centro de Estudos Budistas Bodisatva. Passei o fim de semana lá, em retiro, ouvindo ensinamentos sobre bodhicitta, a mente que busca a iluminação para o benefício de todos os seres. O professor foi monge Gabriel, que estuda na universidade monástica Dzongsar Shedra, na Índia, perto de Dharamsala, sede do governo tibetano no exílio e residência oficial de Sua Santidade o Dalai Lama.
Freqüento o Cebb há dez anos, e esse foi apenas o segundo retiro que fiz. O primeiro foi no ano passado, com o lama Padma Samten. Sou uma praticante budista muito relapsa, mas estou tentando melhorar. E já vi que para isso é fundamental manter contato com a Sangha. Essa coisa de praticar apenas no dia-a-dia fica muito solta. O simples fato de estar freqüentando pelo menos um evento do Cebb por semana já me deixou muito mais conectada.
Tenho a bênção de traduzir obras budistas com freqüência, e isso mantém minha conexão. Mas está na hora de praticar mais. Especialmente o sentar. Acalmar o corpo e a mente. No retiro, meu corpo pareceu causar mais agitação do que a mente. Não consigo ficar muito tempo sentada em meio-lótus, meus joelhos doem, parece que minha consciência transfere-se pra eles. Afffff.. Sem falar que os joelhos ficam tão altos que tenho que sentar em cima de duas almofadas para mantê-los baixos como devem ficar. Eta dureza!
O caminho para a iluminação assenta-se sobre o binômio sabedoria e compaixão. Preciso estudar mais, mas preciso especialmente praticar mais. Ou vou acabar sendo uma budista teórica. E todo mundo sabe que, na prática, a teoria é outra...

Esse é monge Gabriel. Tenho enorme carinho e admiração por ele. Monge Gabriel tem grande interesse pela tradução de textos. Temos em comum o desejo de aprimorar a linguagem do Dharma em português. Monge Gabriel está trabalhando para concretizar meu sonho de tradutora e estudante budista: a criação de um dicionário em português que ofereça sinônimos para termos tibetanos e sânscritos e, mais que isso, verbetes com a explicação aprofundada dos termos originais. Porque simplesmente não há como traduzir termos do tibetano e do sânscrito para palavras dos idiomas ocidentais. Os termos originais exprimem conceitos profundos, sofisticados, complexos e extremamente sutis. Então, nos idiomas ocidentais, o que se pode fazer é usar uma palavra a grosso modo, como uma sigla ou abreviatura, ou uma sinalização. Se ao menos usarmos essas palavras de forma padronizada já será muito bom. Hoje em dia, cada um traduz como acha melhor.

O hábito não faz o monge. E eu não quero ser monja - por enquanto. Mas sinto que elementos da tradição podem sim ajudar muito a gerar e manter a motivação. Por isso, peguei uma tchuba e uma meia-tchuba emprestadas de minha amiga Regina, e levei para minha querida costureira Teka. Um dos resultados é essa tchuba da foto. Teka fez mais uma assim, em azul, e uma meia-tchuba, que é apenas a saia, na cor denominada de "beringela" pela funcionária simpática que me atendeu no Empório das Sedas. Pra mim é roxo, outra cor que eu muito aprecio (minhas unhas, aliás, estão pintadas de roxo essa semana).
De tchuba, de axó ou de saree não me sinto fantasiada. Tenho identidades ligadas a essas culturas. Identidades ligadas basicamente à espiritualidade.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Krishna controla

Fiz essa foto (e outras) ontem à noite, ao voltar do centro budista.
Eu havia prometido isso há meses para um amigo indiano do orkut, e decidi honrar minha palavra. Não poderia ter escolhido momento mais apropriado, as fotos acabaram sendo um presente de Diwali para ele, que rezou uma prece para minha mãe durante o festival. Uma coisa tão simples causou grande (e singela) felicidade para outra pessoa.
Fazia anos que eu não vestia um saree. Tenho vários, dos tempos em que freqüentei o templo do movimento Hare Krishna.
Krishna é outra deidade com a qual tenho uma linda conexão. E tenho esse recanto dedicado a ele na minha sala. E tenho quadros de Krishna, Shiva e Vishnu espalhados. E ainda na minha sala tenho um recanto budista em cima da TV. E um outro recanto com deidades variadas, indianas e cristãs. Sou uma adepta do Rime por natureza. Respeito e reverencio todas as manifestações de fé, embora não tenha conexão com tradições monoteístas.
Dois episódios mágicos de minha vida aconteceram na conexão com Krishna.
Fui pra Miami e fiquei num flat em Coconut Groove. Mal cheguei já fui passear. Entrei num mall, vi uma loja com camisetas e fui comprar uma pra minha filha. A atendente estava conversando com um devoto de Krishna. Aí já aproveitei pra engatar um assunto com ele. Saí falando em inglês, disse que era amiga de Krishna, perguntei onde ficava o templo de Miami, se tinha restaurante Govinda. Tinha, e era pertíssimo de onde eu estava. Aí o devoto me perguntou de onde eu era. "Brasil". E ele começou a falar em espanhol, era argentino. E o mais notável é que havia morado em Porto Alegre e Caxias, e conhecia vários de meus amigos devotos. Foi demais! Fui ao templo, almocei no restaurante, e foi tudo bem bom.
Em outra ocasião fui pra Buenos Aires. Como sempre, larguei as coisas no hotel e fui pra rua. Eu estava no centro, aí fui pra La Florida. Caminhei toda a rua até a praça San Martin. Estava morta de fome, e só via lugares altamente carnívoros. Aí na galeria diante da praça vi uma loja que vendia mel e própolis. Entrei e perguntei pra senhora atendente se ela conhecia algum restaurante vegetariano. Ela disse que sim, que tinha um logo ali. Mas eu não conseguia atinar a direção, porque não entendia o que ela falava (sou um fiasco em espanhol - consigo entender se falam devagar, e consigo ler, mas falar... em Buenos Aires cheguei a ter que falar em inglês, que vergonha...). A senhora cansou de tentar explicar, me pegou pelo braço, saiu da loja, andou uns metros comigo e me largou na porta do restaurante, na mesma galeria. E era o restaurante de um devoto de Krishna! Fui lá todos os dias da estada em BsAs, fiquei amiga do dono e da mãe dele.
Na época em que essas coisas aconteceram eu era lacto-vegetariana, não comia nem peixe, nem frango, ao contrário de agora. Os devotos dizem: "Krishna controla." E realmente ele controlou e cuidou de mim nitidamente nessas duas ocasiões.
Fui vegetariana de 82 a 98. O fato de ter incluído animais em minha dieta outra vez obscureceu minha conexão com Krishna, e isso me entristece. Sinto vontade de parar, mas me habituei com a praticidade de ingerir esse tipo de proteína. É prático inclusive em termos sociais, ser vegetariana causa um transtorno pras outras pessoas, que nunca sabem bem o que oferecer. E meu corpo se habituou com a proteína animal de novo. E, com meu volume de treino, se cortar a proteína animal terei que caprichar na dieta e na suplementação - e eu não tenho a menor disposição pra fazer isso, não sou de ficar matutando cardápios mirabolantes. Minha alimentação, aliás, é cada vez mais simples.

Mérito

Saí pra correr 20km hoje, porque não tinha feito no fíndi, porque choveu sem parar, e quando parou eu estava com minha mãe e minha filha e afim de ficar em casa com elas. No domingo eu estava cansada, tinha ido deitar às 7h30, hora em que costumo levantar, depois de passar a noite dançando.
Fiz os 20km em 1:40. Na boa, sem cansaço e sem baixo astral. Cheguei e fui tomar um banho (correndo), queria levar a mãe ao dentista. Enquanto me preparava para entrar no chuveiro, me veio (de novo) a percepção do quanto sou afortunada por ter um corpo tão funcional. Quantas pessoas no mundo têm condições de sair pra correr 20km assim, tão casualmente? Me alegro imensamente por ser capaz de fazer isso, por ter saúde e disposição. Vejo isso como um mérito e transbordo de alegria. Porque me faz bem, me faz feliz, e posso dedicar essa alegria e felicidade a todos os seres.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Meu altar

Essa é uma parte muito especial de minha casa.
Meu altar reúne imagens budistas de grande significado para mim - Samantabhadra, Vajradhara, Prajnaparamita, Sua Santidade o Dalai Lama, Padmapani e meu lama Padma Samten, além do Buda Shakyamuni - e é enfeitado com cristais e rochas. Faço prostrações diariamente, ao acordar e antes de deitar, e recito as preces de refúgio e de bodhicitta. Às vezes faço de má vontade, que vergonha, mas faço.
Houve períodos em que não fiz, em que deixava o altar fechado, às moscas. Mas espero que essa fase de relaxamento espiritual não volte a acontecer - até porque ela sempre acarreta oscilações em todo o resto de minha vida. Me sinto muito mais estável em meu estado natural de felicidade e alegria quando estou bem conectada à atividade espiritual. Tudo flui melhor - mesmo quando dá tudo errado, hehehe.
Mudei meu altar de lugar há cerca de dois meses. Antes ele ficava espremido em uma prateleira de uma estante de metal. Aí tive a brilhante idéia de espalhar tudo em cima da lareira.
No recuo da lateral esquerda, há duas estátuas de gatos, e um armarinho com pequenas estátuas de egípcios. Não fazem parte do altar, mas estão por ali, e me parece natural, tendo em vista o quanto gosto de gatos e o quanto fui egípcia (e ainda sou).
À direita, tenho o que um amigo denominou de "Reino da Mãe Oxum". Porque sou uma budista batuqueira, tenho uma forte conexão com a Nação e com os orixás, especialmente com Oxum, senhora minha mãe. No recanto dedicado à Senhora Mãe coloquei uma fonte. Adoro fontes, gosto do som e do movimento da água. Ver a água correr, até no chuveiro, me conecta instantaneamente ao presente e à impermanência do samsara, à impossibilidade de se agarrar a qualquer experiência. A fonte tem tudo a ver com Oxum, dona da água doce, das cachoeiras. O som dessa fonte me faz lembrar do riso de Oxum numa cachoeira e do tilintar de suas muitas pulseiras enquanto ela dança, se penteia e se olha no espelho.
Meu altar fica no ambiente onde estão minha cama e meu escritório. Durmo e trabalho com essa energia.

sábado, 25 de outubro de 2008

Chove chuva

Outro sabadão chuvoso. Da última vez que postei aqui estava mais ou menos a mesma coisa.
E eu estava mais ou menos no mesmo mood preguiçoso, marcha-lenta.
Mas aconteceram montes de coisinhas desde então.
Uma delas foi a geral médica a que me submeti depois de uns dias me muito mal-estar, iniciados exatamente na semana do post anterior. Fiquei ultra-indisposta, não corri durante uma semana inteira, trabalhei pouco, estava me arrastando. Os exames mostraram que meu corpo estava apenas refletindo um surto de instabilidade emocional/espiritual.
No emocional, a doença de minha mãe estava taxando meus nervos severamente. Desde abril/maio eu estive tão ocupada tratando de questões práticas que nunca me permiti sentir a dor e o medo que a situação me causa. A pessoa que cuidou de mim nessa vida não vai mais cuidar, agora eu cuido dela. Houve a inversão de papéis, me tornei a mãe de minha mãe. Isso desencadeou uma espécie de síndrome de pânico. Mas o medo de morte não era do ego em si, era o medo da morte de minha mãe. Medo infantil de ficar sozinha, desamparada. Além do medo adulto de ter que dar conta de cada vez mais coisas. Em uma única sessão com minha ex-terapeuta consegui integrar tudo isso e dissipar a enorme pressão interna. Foi olhar pra dentro de mim e tudo clareou.
No espiritual foi a mesma coisa. Olhar pra dentro. Ouvir meu coração e minha intuição.

sábado, 11 de outubro de 2008

O original

Uma coisa leva a outra.
De Chris Isaak, me atirei nos posts de Roy Orbison no youtube. Isso sim é cantar.
Sim, sim, eu gosto de coisas muito duvidosas, umas cantorias que estão mais pra miado, mugido, latido, cacarejo, grasnado. Mas tenho noção pra discernir uma coisa da outra. :)

The devastatingly handsome

Saí da cama nesse sábado chuvoso em que tenho 18km para fazer sem a presença de mi amor de treinador, que foi pro Rio de Janeiro acompanhar parte de sua equipe na meia-maratona, e fiz minhas prostrações com "Piece of Me", de Britney Spears, ao fundo (estou num surto com essa música). Estava no i-Tunes, na minha coleção de pop, e logo depois veio "Primeiro Instante", de Jimi Joe, que ouvi duas vezes direto, amo, amo. Enquanto esquentava o leite em minha nova e fabulosa aquisição - um microondas!!!, coisa que nunca havia tido até segunda-feira passada - ouvi "The Only One I Know", dos Charlants", e "Would I Lie to You Baby", de Charles & Eddie.
E aí veio ele, um de meus favoritos ever. "Ladies and gentlemen, the devastatingly handsome Chris Isaak!" Foi como ele foi anunciado num show em homenagem a Smokey Robinson, onde cantou "My Girl". Devastadoramente bonito, de fato. E devastadoramente adorável. "My Girl" eu vi no youtube há pouco, no i-tunes ouvi a preciosa "One Day", do álbum "Always Got Tonight", que só tenho no computador, e que fiquei ouvindo até entrar no youtube pra pegar um vídeo pra postar aqui.
Meu ex-marido sempre diz que não tenho o direito de gostar de Chris Isaak e Roy Orbison porque de modo geral abomino o rock, o folk e whatever dos anos 60/70, com exceção de Led Zeppelin e Jimi Hendrix, e sou muito mais ligada em música negra e eletrônica. Mas a questão é que sou apaixonada pela música americana dos anos 50 pra trás. E Chris Isaak é muito anos 50.
Gosto de Chris Isaak e Roy Orbison pelos mesmos motivos: a simplicidade, a suavidade com que cantam, parece uma coisa tão natural pra eles. Eles têm um jeito singelo, meigo, doce, cantam suas músicas de corações partidos e amores perdidos com uma voz que vem da alma. Soam sinceros, verdadeiros.
Essas duas canções de Roy Orbison cantadas por Chris Isaak ilustram exatamente o que eu admiro em ambos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Macaco louco

Fiz o post sobre shamata hoje de manhã, após ter sentado (em tentativa de meditação) por uns 15 minutos. A tradução do texto de Kalu Rinpoche eu havia feito ontem à noite.
Depois fui treinar. E lá na pista o macaco começou a saltitar loucamente, carregando o elefante. O treino foi pesadíssimo - o mais pesado que fiz até hoje, 10 x 600m + 200m. E ali pela metade a mente começou a surtar. Ficava achando que não ia dar, pensava: "Bem, vou fazer mais lento." Mas fiz tudo dentro, não quebrei nenhum tiro, apesar das micagens mentais. A mente elaborava uma paisagem, mas o corpo estava noutra. E o corpo não ficaria tão exausto se a mente não se agitasse tanto e não desperdiçasse tanta energia jogando contra.
Depois dessa performance mental, entendi por que minha atenção havia se voltado para o diagrama de shamata há uns dias. É exatamente do que estou precisando.

Shamatha

As imagens e o texto abaixo descrevem a meditação shamatha, ou permanência serena, que consiste basicamente em liberar a mente da agitação e da obtusidade, trazendo-a para um estado de repouso pacífico e alerta. O texto é do livro de Kalu Rinpoche.
Estou numa fase de domar a mente, seja ela um elefante ou um cavalo. :)


Essa ilustração é a reprodução de um desenho tibetano que representa nove cenas, os nove estágios do caminho de shamatha.
Há dois personagens: o homem, ou sujeito meditante, o observador; e o elefante, que representa sua mente. Para desenvolver shamatha, a mente usa duas ferramentas: a atenção e a recordação. A machadinha afiada representa a acuidade da atenção vigilante, e a corda com um gancho é a lembrança da prática. Visto que muitas distrações interrompem seu estado alerta e vigilante, o meditante deve retornar a ele por meio de lembranças constantes. A vigilância é a acuidade na base da meditação, e a recordação assegura sua continuidade. O estado de shamatha tem dois obstáculos principais: o primeiro é a agitação ou dispersão criada pela fixação em pensamentos e emoções passageiros; o segundo é o torpor ou moleza, a obtusidade mental. O torpor é representado pela cor preta do elefante, e a agitação pelo macaco. O fogo que diminui ao longo do caminho representa a energia da meditação. Conforme avançamos, a prática requer menos e menos esforço.
As seis curvas ou voltas no caminho marcam seis platôs sucessivamente dominados pelas seis forças da prática: ouvir as instruções, assimilá-las, lembrar-se delas, vigilância, perseverança e hábito perfeito. Ao lado da estrada há diferentes objetos: um lenço, algumas frutas, uma concha cheia de água perfumada, pequenos címbalos e um espelho, representado os objetos dos sentidos: objetos tangíveis, sabores, odores, sons e formas visuais que distraem o meditante, que se desvia do caminho de shamata ao ir atrás deles.

(1) Na base da ilustração, no primeiro estágio, há uma distância bem grande entre o meditante e sua mente. O elefante da mente é guiado pelo macaco, ou sua agitação. O grande fogo mostra que a meditação requer um monte de energia. Os obstáculos são os piores possíveis; tudo está preto.

(2) No segundo estágio, o meditante chega mais próximo do elefante devido à atenção. O macaco — a agitação — ainda conduz a mente, mas o ritmo diminui. A obtusidade e a agitação diminuem; algum branco infiltra-se no preto do elefante e do macaco.

(3) No terceiro estágio, o meditante não mais caça a sua mente: agora estão cara a cara. O macaco ainda está à frente, mas não conduz mais o elefante. O contato entre o meditante e a mente é estabelecido pela corda da recordação. Ocorre uma forma sutil de obtusidade, representada pelo coelhinho. A escuridão da obtusidade e da agitação diminui.

(4) No quarto estágio, o progresso torna-se mais claro, e o meditante chega ainda mais perto do elefante. A brancura do macaco, do elefante e do coelho aumenta. A cena torna-se mais calma.

(5) No quinto estágio, a situação inverte-se. O meditante conduz o elefante da mente com a atenção e recordação contínuas. O macaco não conduz mais, porém o coelho ainda está lá. A cena adquire ainda mais clareza. Em uma árvore próxima, um macaco branco pega uma fruta branca. Isso representa a atividade da mente de se engajar em ações positivas. Apesar de essas ações normalmente precisarem ser cultivadas, ainda há distrações no contexto da prática de shamata; é por isso que a árvore é preta e está fora do caminho.

(6) No sexto estágio, o progresso está mais definido. O meditante conduz, e a recordação é constante; ele não tem mais que colocar sua atenção na mente. O coelho se foi, e a situação torna-se cada vez mais clara.

(7) No sétimo estágio, a cena torna-se muito pacífica. A caminhada não mais requer direção. A cena torna-se quase que completamente transparente. Umas poucas manchas pretas indicam pontos de dificuldade.
(8) No oitavo estágio, o elefante anda domado com o meditante. Não há virtualmente mais nenhum preto, e a chama do esforço desapareceu. A meditação tornou-se natural e contínua.
(9) No nono estágio, mente e meditante estão completamente em repouso. São como velhos amigos acostumados a estar juntos calmamente. Os obstáculos desapareceram, e shamatha é perfeita.
As cenas seguintes, sustentadas pelo raio de luz que emana do coração do meditante, representam a evolução da prática no coração desse estágio de shamatha. A realização de shamatha é caracterizada pela experiência de alegria e radiância, ilustrada pelo meditante voando ou cavalgando sobre as costas do elefante.
A última cena refere-se às práticas combinadas de shamatha e vipashyana. A direção é invertida. Mente e meditação estão unidas; o meditante senta-se escarranchado na mente. O fogo revela uma nova energia, a da sabedoria, representada pela espada flamejante da sabedoria transcendente, que corta os dois raios negros das aflições mentais e da dualidade.

Kalu Rinpoche, Luminous Mind: The Way of the Buddha (Mente Luminosa: O Caminho do Buda)