segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Vem, verão!

 

Elas estão começando a florescer. E eu a curtir o calor na rua. Pedalada ontem e hoje, aproveitando a cidade mais vazia.


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Histórias do Brasil

Primeiro evento desde o início da pandemia. Fui ao lançamento de Maria Quitéria - A soldada que conquistou o Império, da minha amiga Rosa Symanski (https://www.poligrafiaeditora.com.br/loja/produto/15/1/2/Maria_Quiteria-A_soldada_que_conquistou_o_Imperio-Rosa_Symanski), livro que tive o privilégio de ser a primeira pessoa a ler, quando ainda estava em redação. Conheci Rosa numa academia há décadas. Ela se tornou jornalista como eu, foi pra São Paulo, nos reencontramos no mundo virtual e depois em Porto Alegre, numa das vindas dela. Aí retomamos o contato. Esporádico, mas que flui naturalmente como toda amizade verdadeira.

Maria Quitéria é um romance histórico perfeito pra virar minissérie. Rosa fez um belo trabalho de pesquisa, que embasa um texto envolvente e bem articulado, que dá vontade de ler sem parar. Torço pra que o livro tenha o sucesso que merece por si e por Maria Quitéria, uma grande personagem do processo da Independência, cujo bicentenário será comemorado no ano que vem - infelizmente sob esse desgoverno miliciano e genocida, do qual nada de bom se pode esperar (a não ser o término).

O primeiro evento pós covid-19 teve um bônus inesperado: o lançamento de outro livro, Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, (https://www.editoracoragem.com.br/product-page/naz%C3%A1rio-e-a-rebeli%C3%A3o-escrava-na-aldeia-dos-anjos), do historiador Wagner de Azevedo Pedroso. Outro lindo trabalho de pesquisa que lança luz não apenas sobre a rebelião do título, mas também sobre a escravidão na região de Gravataí na segunda metade do século 19. Curti muito ouvir Wagner contar um pouco do que ele descobriu ao ler os autos do processo dos escravizados rebeldes e fiquei a fim de ler o livro dele.


A coisa que mais abomino no Brasil é o racismo. Tenho a sensação nauseante de viver na casa grande, cercada por uma gigantesca senzala desde que me dei conta de meus privilégios por simplesmente ter pele branca. Embora "branca" eu creio não ser, porque muito provavelmente tenho sangue indígena (fazer o teste de DNA pra pesquisar minhas origens étnicas é questão de tempo), o que me orgulha e de algum modo me consola e me conecta a essa pátria odiosa, mãe cruel com seus filhos originais e com os escravizados estrangeiros que a fizeram crescer com seu sangue. Solo encharcado de sangue indígena e africano. Pátria mestiça que não se reconhece como tal, que finge ser branca. As pessoas aqui se orgulham de sobrenomes alemães e italianos e parecem se considerar europeias. Que nojo de tanta ignorância, de tanto preconceito. Que vergonha do meu racismo estrutural, contra o qual luto todos os dias.

A desgraça da escravidão me deprimiu (o verbo "açoitar" me ocorreu, mas parece uma metáfora desrespeitosa) vivamente em Tiradentes (MG). Aquele casario, aquelas ruas de pedras irregulares, aquele monte de igrejas cristãs, tudo obra de negros escravizados. O horror encoberto como atração turística.


sábado, 6 de novembro de 2021

À mão

Aprendi a tricotar quando criança. Tricotei horrores na adolescência e juventude. Depois parei. A retomada começou a tomar forma ali por maio, quando resolvi customizar um poncho de lã natural que era da minha filha. Era um poncho infantil, feito em tear manual, que compramos em Mostardas (RS). Fiz um barrado de crochê para aumentar o poncho, também fechei as laterais. Uma coisa bem simples, mas que turbinou a peça e a tornou usável por mim (e mais bonita na minha opinião, embora a filha não tenha gostado). O poncho foi peça fixa no inverno passado. E colocou em prática o ditado de que há males que vem para o bem.

Acontece que comprei dois novelos que não precisei utilizar. Fui trocar na loja no dia seguinte - e para meu espanto e ranço absoluto, fui informada de que não faziam trocas. Decidi (1) jamais colocar os pés nessa loja outra vez e (2) usar os tais novelos em alguma coisa para não ser um prejuízo completo. Como tinha feito o barrado de crochê, resolvi seguir na técnica e aprender alguma coisa, pois nunca fiz nada de crochê a não ser acabamentos básicos.

Aí começaram a acontecer as coisas boas. Encontrei tutoriais de pantufas e acabei fazendo dois pares que consumiram os novelos do ranço, ficaram ótimos e aqueceram meus pés e minha mente de tricoteira, momentaneamente ocupada pelo crochê. Decidi que queria fazer uma calça. Mas calça de crochê e tricô não é algo comum. Vasculhei a internet, achei só um modelo em português no youtube, comprei a linha no mercado livre (porque não achei nas lojas locais, está fora de catálogo) e me joguei. A calça ficou excelente para um primeiro projeto de roupa em crochê. Usei direto antes do tempo esquentar por aqui.

Nesse meio-tempo, a decisão de não retornar à loja da vizinhança me fez descobrir uma lojinha ótima no Bom Fim, a Mãnus (https://instagram.com/manus.poa?utm_medium=copy_link), onde fui atendida com a maior gentileza e encontrei um fio de malha com o qual fiz dois pares de chinelos de crochê que agora são a única coisa que uso em casa.

A busca de outros projetos de calça de crochê ou tricô me levou ao Ravelry e ao Drops, que têm milhares de postagens de todo tipo de projeto. Inclusive algumas calças. Essas pesquisas revelaram que hoje a técnica de tricô mais utilizada na Europa é a de tricô circular, que eu jamais havia utilizado. Quer dizer, fiz uma gola num blusão há mil anos. E foi só.

Achei alguns projetos de calça de tricô em inglês; além da técnica circular, os projetos utilizam carreiras encurtadas e aumentos e diminuições que eu não sabia fazer. Voltei na Mãnus pra fazer uma aula com a professora de tricô da casa. Ela me deu mil dicas úteis - inclusive de onde comprar agulhas circulares. Não pude começar a fazer as calças com ela porque não tinha as agulhas, mas selecionamos um fio de algodão.

 

Antes de embarcar na aventura das calças, fiz uma regata pra filha com uma linha ancestral (acho que eu havia comprado há mais de dez anos). Fiz uma outra regata pra mim com a mesma linha, já usando agulhas circulares. Foi um projeto autoral e deu supercerto. Eu não fazia tricô circular, mas não foi muito difícil adaptar o modelo da regata.

E então comecei as sonhadas calças de tricô. Traduzi uma receita do inglês, pesquisei todas as técnicas necessárias no youtube e fiz dezenas de ajustes no projeto. Comecei em 22 de outubro. Desmanchei tudo dias depois, quando havia chegado na parte de começar as pernas, porque o ponto estava ruim. Comprei um jogo de agulhas no aliexpress, são péssimas, não dá para usar.

Aí fui atrás de agulhas boas. Cheguei ao Alada Ateliê (https://instagram.com/aladaatelie?utm_medium=copy_link), outra loja excelente. Comprei um kit de agulhas de metal intercambiáveis da Knit Pro. Recomecei as calças. E agora só falta terminar uma perna.

Todo esse processo foi desencadeado pela customização de um poncho de lã e pela decepção com o atendimento de uma loja. Se tivesse devolvido as lãs ou trocado por alguma outra, é pouco provável que me abrisse para tantos novos conhecimentos.


sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Bring the noise

Um amigo virtual de anos mandou direct um dia desses dizendo pra eu voltar a escrever aqui. Ele me adicionou nas redes dele por causa deste blog, que eu abandonei. Escrever o dia inteiro a trabalho acaba me deixando sem tempo e sem vontade de escrever aleatoriamente aqui. O que é lamentável, porque a escrita aleatória é uma ferramenta para me manter afiada pro trabalho.

Desde a conversa com ele tive mil ideias pra registrar aqui. Hoje vim. Casualmente (ah tá...), motivada por outra retomada. Nesta semana estou dedicada aos clássicos do hip hop no Spotify. Sou obsessiva compulsiva em mil coisinhas, tipo música. Assim, no Spotify eu seleciono um artista e ouço toda a discografia, em geral primeiro os álbuns, depois os singles e EPs. Nessa tour pelos clássicos, comecei com Run-D.M.C., depois NWA. E desde ontem tô no meu favorito - Public Enemy. (Tupac, Ice-T e Notorious B.I.G. me ocuparam tempos atrás, também já percorri a discog de Kendrick Lamar, Gucci Mane e dos triste e lamentavelmente deceased Pop Smoke, Nipsey Hussle e XXXTentacion.)

Tive uma t-shirt com o logo deles, agora tô lamentando não ter mais. E querendo comprar outra.

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/43/Public_Enemy.png

Public Enemy está no meu DNA musical, com Prince, Hendrix e Led Zeppelin. Tô na maior viagem identificando dezenas de samplers deles que ouvi em outros artistas. Dois reconhecimentos swept me off my feet.

O primeiro foi o beat de "Security of the First World", usado como base de "Justify My Love", que é a única música de Madonna que gosto. Gosto não, adoro. Mas é a única. Basicamente por causa da batida hipnótica. Não gosto de Madonna, nunca gostei nem vou gostar, mas com Public Enemy até ela.

O segundo foi descobrir que "Black Steel", cuja letra me encantou em Maxinquaye, de Tricky, by the way um dos meus álbuns favoritos na vida, na verdade é uma cover de "Black Steel in the Hour of Chaos". 

I got a letter from the government the other day
Opened it and read it, it said they were suckers
They wanted me for their army or whatever
Picture me givin' a damn, I said, never
 
Here is a land that never gave a damn
About a brother like myself because I never did
I wasn't with it but just that very minute
It occurred to me, the suckers had authority

Levei um tempo pra fazer a sinapse, vasculhando a memória pra lembrar onde eu tinha ouvido esses versos antes. Fiz uma pausa na tour de Public Enemy pra ouvir a faixa de Maxinquaye. No desktop, embora esse CD eu tenha guardado, junto com alguns outros poucos.

Voltei para Public Enemy, tão bom, tão atual e tão original quanto há 35 anos.

Em breve (ou nem tanto) terei que me dedicar a Tricky e Massive Attack.

E só pelo próximo intervalo do Superbowl, com Dr. Dre, Snoop, Kendrick Lamar, Mary J. Blige e Eminem.