sábado, 6 de novembro de 2021

À mão

Aprendi a tricotar quando criança. Tricotei horrores na adolescência e juventude. Depois parei. A retomada começou a tomar forma ali por maio, quando resolvi customizar um poncho de lã natural que era da minha filha. Era um poncho infantil, feito em tear manual, que compramos em Mostardas (RS). Fiz um barrado de crochê para aumentar o poncho, também fechei as laterais. Uma coisa bem simples, mas que turbinou a peça e a tornou usável por mim (e mais bonita na minha opinião, embora a filha não tenha gostado). O poncho foi peça fixa no inverno passado. E colocou em prática o ditado de que há males que vem para o bem.

Acontece que comprei dois novelos que não precisei utilizar. Fui trocar na loja no dia seguinte - e para meu espanto e ranço absoluto, fui informada de que não faziam trocas. Decidi (1) jamais colocar os pés nessa loja outra vez e (2) usar os tais novelos em alguma coisa para não ser um prejuízo completo. Como tinha feito o barrado de crochê, resolvi seguir na técnica e aprender alguma coisa, pois nunca fiz nada de crochê a não ser acabamentos básicos.

Aí começaram a acontecer as coisas boas. Encontrei tutoriais de pantufas e acabei fazendo dois pares que consumiram os novelos do ranço, ficaram ótimos e aqueceram meus pés e minha mente de tricoteira, momentaneamente ocupada pelo crochê. Decidi que queria fazer uma calça. Mas calça de crochê e tricô não é algo comum. Vasculhei a internet, achei só um modelo em português no youtube, comprei a linha no mercado livre (porque não achei nas lojas locais, está fora de catálogo) e me joguei. A calça ficou excelente para um primeiro projeto de roupa em crochê. Usei direto antes do tempo esquentar por aqui.

Nesse meio-tempo, a decisão de não retornar à loja da vizinhança me fez descobrir uma lojinha ótima no Bom Fim, a Mãnus (https://instagram.com/manus.poa?utm_medium=copy_link), onde fui atendida com a maior gentileza e encontrei um fio de malha com o qual fiz dois pares de chinelos de crochê que agora são a única coisa que uso em casa.

A busca de outros projetos de calça de crochê ou tricô me levou ao Ravelry e ao Drops, que têm milhares de postagens de todo tipo de projeto. Inclusive algumas calças. Essas pesquisas revelaram que hoje a técnica de tricô mais utilizada na Europa é a de tricô circular, que eu jamais havia utilizado. Quer dizer, fiz uma gola num blusão há mil anos. E foi só.

Achei alguns projetos de calça de tricô em inglês; além da técnica circular, os projetos utilizam carreiras encurtadas e aumentos e diminuições que eu não sabia fazer. Voltei na Mãnus pra fazer uma aula com a professora de tricô da casa. Ela me deu mil dicas úteis - inclusive de onde comprar agulhas circulares. Não pude começar a fazer as calças com ela porque não tinha as agulhas, mas selecionamos um fio de algodão.

 

Antes de embarcar na aventura das calças, fiz uma regata pra filha com uma linha ancestral (acho que eu havia comprado há mais de dez anos). Fiz uma outra regata pra mim com a mesma linha, já usando agulhas circulares. Foi um projeto autoral e deu supercerto. Eu não fazia tricô circular, mas não foi muito difícil adaptar o modelo da regata.

E então comecei as sonhadas calças de tricô. Traduzi uma receita do inglês, pesquisei todas as técnicas necessárias no youtube e fiz dezenas de ajustes no projeto. Comecei em 22 de outubro. Desmanchei tudo dias depois, quando havia chegado na parte de começar as pernas, porque o ponto estava ruim. Comprei um jogo de agulhas no aliexpress, são péssimas, não dá para usar.

Aí fui atrás de agulhas boas. Cheguei ao Alada Ateliê (https://instagram.com/aladaatelie?utm_medium=copy_link), outra loja excelente. Comprei um kit de agulhas de metal intercambiáveis da Knit Pro. Recomecei as calças. E agora só falta terminar uma perna.

Todo esse processo foi desencadeado pela customização de um poncho de lã e pela decepção com o atendimento de uma loja. Se tivesse devolvido as lãs ou trocado por alguma outra, é pouco provável que me abrisse para tantos novos conhecimentos.


2 comentários: