Que final de semana incrível. Quanta, mas quanta gratidão.
Depois de meses de relutância em ir à clínica, fui ontem e hoje. Estava indo raramente. Muito raramente. Atopetada de trabalho, muito envolvida com muitas coisas. E acima de tudo sem vontade de encarar a piora constante da mãe.
Ontem cheguei lá, ela me viu e me chamou com sinais. Ela praticamente não fala mais. Não lembra mais as palavras. E também não consegue articular os sons. Mas ela ainda sabe quem eu sou. Ela não consegue mais dizer meu nome. Mas ela me reconhece. Eu vi nos olhos dela. Vi ontem e vi hoje.
Eu vejo uma outra coisa nos olhos dela. Que é a coisa que me manteve relutante e esquiva. Que é o que me causa uma sensação que não sei definir. Desespero é o mais próximo. Mas não é exato. Impotência. Desassossego. Angústia. Aflição. Martírio. Suplício. Agonia. Sofrimento puro e absoluto. Horror. Tudo isso serve para definir essa sensação, que não é quente, nem fria, nem agita, nem paralisa. Ou quem sabe provoca tudo isso ao mesmo tempo, em tamanha intensidade e de tal forma misturado que se torna insondável.
Vi isso ontem. Vi hoje de novo. Mas o que aconteceu foi que não sucumbi mais à minha sensação de horror por só me restar assistir o avanço da doença. Eu vi os lampejos de sofrimento nos olhos de minha mãe, os estilhaços de lucidez em meio à demência, mas não afundei no meu turbilhão emocional. Fiquei calma. Sentada com ela.
Ontem estava passando um filme na TV. Ela ficava olhando pra tela. Eu estava de frente pra mãe, de costas para a TV. Ouvi a mulher dizer para o homem do filme: "Mas até que você é bonito". E aí em seguida minha mãe disse: "Não é bonito não". Naquela fração ela conseguiu ver, ouvir, entender e emitir um comentário.
Eu vejo uma outra coisa nos olhos dela. Que é a coisa que me manteve relutante e esquiva. Que é o que me causa uma sensação que não sei definir. Desespero é o mais próximo. Mas não é exato. Impotência. Desassossego. Angústia. Aflição. Martírio. Suplício. Agonia. Sofrimento puro e absoluto. Horror. Tudo isso serve para definir essa sensação, que não é quente, nem fria, nem agita, nem paralisa. Ou quem sabe provoca tudo isso ao mesmo tempo, em tamanha intensidade e de tal forma misturado que se torna insondável.
Vi isso ontem. Vi hoje de novo. Mas o que aconteceu foi que não sucumbi mais à minha sensação de horror por só me restar assistir o avanço da doença. Eu vi os lampejos de sofrimento nos olhos de minha mãe, os estilhaços de lucidez em meio à demência, mas não afundei no meu turbilhão emocional. Fiquei calma. Sentada com ela.
Ontem estava passando um filme na TV. Ela ficava olhando pra tela. Eu estava de frente pra mãe, de costas para a TV. Ouvi a mulher dizer para o homem do filme: "Mas até que você é bonito". E aí em seguida minha mãe disse: "Não é bonito não". Naquela fração ela conseguiu ver, ouvir, entender e emitir um comentário.
Hoje sentamos no pátio. Fiquei ao lado dela, conversando pelo whatsapp com um amigo cuja irmã sofre de demência e está em desintegração mental acelarada, cada vez mais agressiva e exigente. Minha mãe observava a tela do smartphone.
Coloquei a mão esquerda na perna dela. De repente ela me deu a mão. E ali ficamos de mãos dadas.
Eu não tento mais conversar com ela. Não há mais necessidade. Falo umas poucas coisas, às vezes ela entende, às vezes não. Se ela está mais conectada, falo mais um pouco. Senão ficamos em silêncio. E apenas fico ali. Presente. No presente. A presença.
Aprendi a relaxar na situação. Simplesmente estar. O meu sofrimento cessou.
Se correr o bicho pega.Se ficar o bicho come.
Se meditar o bicho some.
Sumiu.
Foi o fim de semana de resgatar minha mãe. De resgatar o feminino. O arquétipo da mãe. A imagem da mãe projetada em outra mulher. A repetição de meu relacionamento com minha mãe.
Um insight impressionante.
A mudança mental e emocional refletida no corpo.
Soma.