quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Silêncio de ouro

Hoje de manhã, enquanto montava a lasanha do almoço, fiquei mais uma vez muito satisfeita comigo. Em meio ao turbilhão dos últimos dias, não tive acessos de raiva ou perda de controle. O que realmente me deixou feliz foi ver que não tive que me controlar pra segurar a língua nem mesmo quando sofri um ataque verbal do mais baixo nível. Não tive que pensar "não vou dizer isso e aquilo", eu simplesmente não tive a menor vontade de retrucar. Ocorreram-me algumas coisas extremamente maldosas para dizer, mas não veio um impulso de raiva que me levasse a manifestá-las. Olhei meus pensamentos, e me pareceram totalmente tolos, um exercício mental inútil que não seria de benefício para ninguém. A pessoa que me agrediu apenas sentiria ainda mais raiva de mim, e eu cometeria uma ação não virtuosa.
Tudo isso numa fração de segundos.

Agora, passada a tormenta, vejo outros desdobramentos positivos de manter a boca fechada. Lembrei do vaso emborcado das alegorias budistas - o ouvinte que não aprende simplesmente porque está fechado, não é receptivo, rejeita o ensinamento. Na vidinha ordinária também tem vaso emborcado quando rejeitamos o que nos dizem sem concedermos sequer o benefício da dúvida. Fui agredida por um vaso emborcado; não há nada que eu possa dizer para a pessoa, ela rejeita categoricamente tudo que eu penso, sinto e faço. Em resumo, rejeita tudo que eu sou. Quanto mais eu falar, pior vai ficar. Nesses casos a sabedoria consiste em fazer o que eu fiz: ficar calada.

13 comentários:

  1. HAHAHAHAHAHAHA!!!
    Jaume malvado!!!
    Mas é verdade: eu (quase) nunca fico calada. Ou melhor, não ficava. Eu estou evoluindo. Lentamente, mas estou. Um passo pra frente, dois pra trás às vezes, mas estou avançando.

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  2. Si sigues así, llegará un momento en que no será del todo peligroso acercarse a tí. No. Bueno, en serio, enhorabuena.

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  3. Hããã? E desde quando seria perigoso aproximar-se de mim? Por quê? Eu sou basicamente uma boa pessoa. E há muitos anos não cometo maldades graves.
    Me diga uma coisa: em que língua vc escreveu no seu facebook um dia desses? Catalão? Basco? Parece espanhol com francês.

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  4. Es en catalán. Cuando me escribe mi hija o personas conocidas de por aquí, si lo hacen en catalán, yo contesto igual. Sobre lo otro, aunque tenga buen corazón, una fiera es una fiera.

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  5. Hohoho, nem vou comentar mais isso. Prefiro pensar em mim mesma como uma dakini, hihihi.
    Você é catalão, pois? Como funciona? Foi alfabetizado nos dois e fala os dois idiomas?

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  6. Es en broma. Pero incluso las dakinis tienen dientes puntiagudos -- por lo menos Buddha Vajrayogini los tiene.

    Yo estudié sólo en español (castellano) pero unos años después ya se empezaron a utilizar las dos lenguas.

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  7. Sim, sim, as dakinis são consideradas deidades iradas, né? Bem, pacíficas é que não são. Se elas não são, por que haveria eu de sê-lo? HAHAHAHA!!!
    Bem, presumo então que vc more na Catalunha... Minha geografia é uma vergonha.

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  8. Exactamente. A unos cien km. de Barcelona, hacia el interior, en un pueblo pequeño. Si un día vas a Barcelona, no dejes de avisar.

    Claro. Esto es lo que digo yo. ¿Por qué deberías? Cada uno es como Dios lo hizo,..."y a veces, peor", como decía Sancho Panza. A mí me gusta pensar que eres feroz, no es nada malo, yo no tengo miedo -- de esto.

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  9. Bem, você tem uma imagem bastante acurada de mim. Eu creio que seja mesmo feroz. Não no sentido de ser má e atacar, mas de ser selvagem, livre, indomável, solta. Isso implica uma dose de agressividade, por supoesto. Mas, como as feras, eu vivo na minha e não ataco ninguém desde que me deixem em paz, solta no meu espaço.

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  10. Es perfecto. No todos tenemos por qué ser Blancanieves. Yo mismo, si rascas un poco por debajo de la superficie, encontrarás que soy de lo más agreste, y que estoy en la sociedad civilizada como un buey atado al poste por el hocico.

    Me despido momentáneamente.

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  11. Hahaha! Eu não esperaria outra coisa de um catalão. :)
    E o fato é que as feras - mesmo que disfarçadas - procuram e acham seus semelhantes. Eu não tenho paciência e não estabeleço conexões com gente muito civilizada, hohoho!
    Boa noite!
    PS: sempre achei que eu estivesse muito bem disfarçada, hahaha!

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  12. Querida Lucia, adorei seu comentário e lembrei-me de uma máxima que diz: Quando alguém nos oferece um "presente" e o rejeitamos, com quem fica o "presente"? Resposta: Com a pessoa que ofereceu...
    O seu silêncio fez com que essa pessoa ficasse com toda raiva, toda maledicência, todos maus fluídos com ela. Só ela arcará com as consequências e.. quanto ao voce.. voce continuará livre, leve e solta! Bjssss

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