A partida de Lízia vinha mexendo comigo há tempos. Na última semana foi difícil. Na véspera fiquei atordoada, mas tive uma sessão de terapia cujos insights acabaram me trazendo paz na tarde de hoje, depois de Lízia já estar em São Paulo, feliz e bem instalada na casa dos dindos.
Lízia mudou minha vida ao nascer. E está mudando minha vida de novo ao sair de nossa casa. Pela primeira vez vou morar sozinha. Tão importante quanto isto é, que pela primeira vez também, não estou sentindo o afastamento físico e a distância como abandono. Eu estava sofrendo com a mesma reação infantil e inconsciente de sempre. Sentindo como, se ao ir para outra cidade, Lízia estivesse me deixando aqui abandonada, deixando para trás tudo que sou, tudo que somos e temos juntas. Pela primeira vez consegui ver que essa visão é distorcida, que isso não existe em lugar algum a não ser em minha mente - nem vou comentar o princípio budista de que a realidade de cada um é a visão criada em sua mente.
Lízia estará comigo e eu estarei com ela para sempre. Eu estarei com ela mesmo depois de morrer. Nosso vínculo e nosso amor permaneceriam mesmo que ela tivesse ido para outro planeta.
Para a maioria das pessoas, essa percepção é tão óbvia que parece ridículo ficar pensando nisso. Mas para mim nunca foi assim. O afastamento - e especialmente as separações e rompimentos - pareciam o fim de tudo.
No momento em que consegui sentir a percepção de que eu e Lízia seguimos juntas como sempre - e para sempre -, veio a paz, a tranquilidade, o alívio. E também um novo ímpeto.
Minha vida mudou com a chegada de minha filha preciosa. E mudou com sua partida.
A qualidade dessa mudança depende de mim.
Minha vida mudou para melhor quando Lízia nasceu.
E hoje senti que vai mudar para melhor de novo a partir de agora.
Já começou.
Na sessão de terapia de ontem, Letícia perguntou o que eu gostaria de mudar em meu relacionamento com Lízia. Não soube o que responder. Comentei apenas que gostaria de que fôssemos mais próximas.
Hoje entendi por que não soube o que responder. Não gostaria de mudar nada. Fui e sou a melhor mãe que pude e posso, Lízia é a melhor filha que eu poderia ter. Eu não gostaria de mudar nada no sentido de mudança radical, de sermos diferentes. O que eu gostaria de fazer é o que fiz nesses vinte anos: mudar apenas para ser cada vez melhor.
E a mudança física de Lízia abre a possibilidade para ficarmos mais próximas.