terça-feira, 9 de novembro de 2021

Histórias do Brasil

Primeiro evento desde o início da pandemia. Fui ao lançamento de Maria Quitéria - A soldada que conquistou o Império, da minha amiga Rosa Symanski (https://www.poligrafiaeditora.com.br/loja/produto/15/1/2/Maria_Quiteria-A_soldada_que_conquistou_o_Imperio-Rosa_Symanski), livro que tive o privilégio de ser a primeira pessoa a ler, quando ainda estava em redação. Conheci Rosa numa academia há décadas. Ela se tornou jornalista como eu, foi pra São Paulo, nos reencontramos no mundo virtual e depois em Porto Alegre, numa das vindas dela. Aí retomamos o contato. Esporádico, mas que flui naturalmente como toda amizade verdadeira.

Maria Quitéria é um romance histórico perfeito pra virar minissérie. Rosa fez um belo trabalho de pesquisa, que embasa um texto envolvente e bem articulado, que dá vontade de ler sem parar. Torço pra que o livro tenha o sucesso que merece por si e por Maria Quitéria, uma grande personagem do processo da Independência, cujo bicentenário será comemorado no ano que vem - infelizmente sob esse desgoverno miliciano e genocida, do qual nada de bom se pode esperar (a não ser o término).

O primeiro evento pós covid-19 teve um bônus inesperado: o lançamento de outro livro, Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, (https://www.editoracoragem.com.br/product-page/naz%C3%A1rio-e-a-rebeli%C3%A3o-escrava-na-aldeia-dos-anjos), do historiador Wagner de Azevedo Pedroso. Outro lindo trabalho de pesquisa que lança luz não apenas sobre a rebelião do título, mas também sobre a escravidão na região de Gravataí na segunda metade do século 19. Curti muito ouvir Wagner contar um pouco do que ele descobriu ao ler os autos do processo dos escravizados rebeldes e fiquei a fim de ler o livro dele.


A coisa que mais abomino no Brasil é o racismo. Tenho a sensação nauseante de viver na casa grande, cercada por uma gigantesca senzala desde que me dei conta de meus privilégios por simplesmente ter pele branca. Embora "branca" eu creio não ser, porque muito provavelmente tenho sangue indígena (fazer o teste de DNA pra pesquisar minhas origens étnicas é questão de tempo), o que me orgulha e de algum modo me consola e me conecta a essa pátria odiosa, mãe cruel com seus filhos originais e com os escravizados estrangeiros que a fizeram crescer com seu sangue. Solo encharcado de sangue indígena e africano. Pátria mestiça que não se reconhece como tal, que finge ser branca. As pessoas aqui se orgulham de sobrenomes alemães e italianos e parecem se considerar europeias. Que nojo de tanta ignorância, de tanto preconceito. Que vergonha do meu racismo estrutural, contra o qual luto todos os dias.

A desgraça da escravidão me deprimiu (o verbo "açoitar" me ocorreu, mas parece uma metáfora desrespeitosa) vivamente em Tiradentes (MG). Aquele casario, aquelas ruas de pedras irregulares, aquele monte de igrejas cristãs, tudo obra de negros escravizados. O horror encoberto como atração turística.


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