Hoje mais que nunca a meditação mostrou a que veio na minha vida borderline.
Vou começar do começo.
Baixei o aplicativo Headspace (
https://www.headspace.com/) no dia 3 de dezembro passado, a versão gratuita, como mais uma tentativa de tornar a meditação uma prática diária. Comecei do básico mais básico - 3 minutos diários. Curti. Fiz uma assinatura mensal. Aumentei as sessões diárias para 20 minutos. Só isso.
Tenho feito as meditações temáticas, apresentadas em pacotes de 10 dias.
Hoje terminei a série de meditações sobre Aceitação. Levei 15 dias para concluir o pacote porque na metade do caminho percebi que não estava fluindo. Então recomecei.
Essa meditação consiste basicamente em se perguntar: "A quem ou a que você está resistindo?" Como toda meditação, não é para fazer nada além de observar seja o que for que apareça. Ao observar sem julgar, sem aceitar nem rejeitar as experiências, sem grudar e embarcar nelas, apenas reconhecê-las, cria-se um pequeno espaço mental de clareza. Aceita-se o fato de que a experiência existe, está passando pela mente. Essa aceitação não significa se conformar ou se submeter; pelo contrário: abre o espaço para a dissolução da experiência, para a percepção de sua vacuidade.
As minhas percepções nesses 15 dias foram impactantes. Vieram à mente resistências que eu já havia detectado no cotidiano, relacionadas a conteúdos emocionais e afetivos, ao trabalho e ao treino. Mas apareceram outras muito mais sutis e profundas.
A primeira foi a resistência à meditação em si. Depois que comecei a meditar sobre aceitação, as sessões ficaram menos prazerosas. Beeeem menos. Surgiram a falta de vontade, a má vontade e a impaciência, manifestadas antes e durante a prática. Procrastinação e um desejo de abortar a sessão em curso, uma onda de agitação mental e física.
Passei a meditar deitada - o que não é recomendado, pois induz ao embotamento mental, ao sono, ao apagão. E tudo isso aconteceu comigo ao longo desses 15 dias, é lógico.
Hoje, último dia, pelo menos resolvi meditar ao acordar. Deitada. Não que eu tenha tido vontade de meditar. O que eu tive foi a percepção de que estava vindo uma onda de instabilidade que poderia se transformar em um episódio de ansiedade e/ou depressão mais adiante. Essa onda havia brotado ontem no final da tarde, com a percepção de que me falta alguma coisa. Que coisa? Não faço ideia. Sinto apenas uma falta, uma carência. Não entender o que é isso e não saber de onde vem acarreta a instabilidade. Angústia.
A natureza subjacente dessa sensação manifestou-se na minha modesta sessão de 20 minutos desta manhã: é o vazio inerente à personalidade borderline.
Na sessão desta semana, conversei com meu psicoterapeuta sobre o que é TPB, diagnóstico, manifestação, prognóstico. Ele pontuou que uma das principais características dos borderliners é o vazio interior. As perdas e traumas que provocam a fratura da personalidade deixam os borderliners com uma sensação de vazio que tentamos preencher ou anular com os mais variados expedientes. É a esse vazio que tenho uma formidável resistência. Não quero sentir, resisto à experiência.
Ao meditar sobre a aceitação, abri um espaço mental para olhar o vazio e a resistência a ele.
O caminho budista é composto de três etapas: visão, meditação e ação. Visão é o ensinamento e a compreensão que se tem do assunto. Meditação é a contemplação do ensinamento para aprofundar a compreensão. Ação é a prática do que se aprendeu a partir da visão/meditação.
Minha prática com o auxílio do Headspace e da terapia está seguindo esse planejamento. No caso específico das meditações sobre aceitação funciona assim: eu tenho uma visão sobre resistência/aceitação; ao meditar a respeito, minha visão clareia; ao sair da meditação, devo integrar as percepções aprofundadas à minha maneira de agir, ou seja, observar quando a resistência surge, o que abre espaço para reconhecer e aceitá-la.
Que seja de benefício.