Nunca gostei de Dia das Mães.
Agora odeio.
Fui visitar a minha hoje.
É pra acabar.
Não sinto dor.
Não sei o que sinto.
Horror.
Quem dera eu conseguisse chorar, gemer, qualquer coisa.
Me atirar no chão.
Gritar.
Arrancar os cabelos.
Rasgar as roupas.
Espernear.
Eu não consigo manifestar nada.
Fico lá parada, assistindo o espetáculo dantesco.
O corpo cada vez mais frágil. Ela pesa menos de 40kg. Toda enrugada. Cheia de escoriações de se coçar sem parar. Agora babando. Os olhos perdidos.
E eu? Petrificada. É como se estivesse sob o efeito de uma droga que me deixa incapacitada de me mover, mas consciente. Isso deve ser o inferno gelado do budismo. Congelada no meu horror.
Eu digo que desejo que ela morra de uma vez. Mas nem isso. Porque quando penso na morte dela me dá um nervoso. Eu não estou pronta pra isso.
Eu não estou pronta pra nada.
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