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Corri a maratona basicamente por insistência de minha amiga Lena Stropper. Ela não pôde correr porque está com uma dolorosa fascite plantar, teve que desistir duas semanas antes da prova, depois de ter ralado o treino todo. Em meio à sua imensa frustração, dor e tristeza, minha amiga achou tempo e disposição para longas conversas, me animando e consolando na minha fase de uruca geral. E ainda fez o meio de campo para eu me reconciliar com outro amigo.
Esse nosso amigo diz que eu sou mal-educada, geniosa e trato ele mal, e aí me pune com afastamento e silêncio. Eu digo que ele é marrento comigo e muito mais genioso que eu, e teimoso, mal-humorado, temperamental e ranzinza. Mas temos uma conexão linda. No sábado nos encontramos e conversamos, e fizemos as pazes. E me senti incrivelmente confortada quando ele me abraçou e disse que estaria por perto caso eu precisasse, que me ajudaria no que fosse possível. Foi maravilhoso ter ficado de bem com ele na véspera da corrida.
Ainda no sábado encontrei meu amigão Barbosa, que não pôde correr por ter lesionado o joelho. Como Lena, ele também se machucou depois de ter feito todo o treino. Como Lena, ele me disse para tentar, ir lá e correr numa boa, só na alegria, sem me preocupar com tempo.
Barbosa e Lena estavam lá na largada da prova para a qual treinaram duríssimo e da qual não puderam participar. E muito da minha força para agüentar o tranco e não desistir veio do meu desejo de correr por eles, para eles. Barbosa foi de bike e me encontrou no árduo trecho da Ipiranga, na ida. E na Ipiranga, na volta, quando pensei em parar no km 22, lembrei dele e Lena, e de que eles ficariam decepcionados e preocupados caso eu parasse.
Também na volta da Ipiranga dei de cara com um vento contra e um chuvisco. E não senti a repulsa que costumo sentir ao correr no vento. Pedi a Iansã, senhora do vento, que soprasse embora a uruca e o cansaço e que me desse sua energia de guerreira. Pedi a Oxum, senhora minha mãe, que me mantivesse leve, graciosa e alegre como sua filha que sou. E lembrei do que me disse pai Adilson de Ossanha: que eu deveria correr porque isso me dava prazer e me faria bem. E que eu conseguiria.
Meu boné voou, pensei em voltar pra pegar, mas seria ruim. Senti que aconteceria o que de fato aconteceu: pouco depois, um corredor chegou ao meu lado e estendeu o boné pra mim, sem uma palavra, ele estava em ritmo forte e concentrado, mas mesmo assim deu-se ao trabalho da gentileza. Não vi seu número, não sei quem era, mas serei eternamente grata.
Também sou grata a todos amigos e estranhos que me incentivaram durante a corrida. Muita gente bacana. E o que dizer de todos aqueles que me animaram antes...
Após a corrida, meio zonza e louca de frio, fui auxiliada pela querida Edna a encontrar Lena. E Soares foi comigo até o carro deles e esperou pacientemente que eu trocasse de roupa. E sorriu feliz quando depois eu disse pra ele e Lena o quanto estava me sentindo bem por ter corrido, o quanto aquilo tinha mudado o meu astral, tão em baixa nos últimos tempos. Que eu finalmente gostava de correr de novo!
Do pódio vi Filó, a pessoa que me trouxe pro mundo das corridas de rua, abanando e sorrindo pra mim. Ela não me viu correr, mas sabia que eu tinha completado, e sei o quanto ela se alegrou por mim.
Meu amigo Perna me viu passar na Ipiranga, aí telefonou e foi lá me dar um abraço. Giovani, que havia me adicionado no orkut há poucos dias, foi me conhecer pessoalmente. Newton, outro amigo que saiu do orkut pro mundo real, mandou sms cedinho da tarde pra saber como eu tinha ido. Na semana que vem, farei uns treinos de musculação com ele, que já me passou as dicas para secar e definir.
Jacaré telefonou no fim do dia pra saber como eu estava. E hoje estava comigo no trote de 30 minutos lá no Cete.
Com tanta gente que me quer bem só posso me sentir feliz e amparada. Mas a felicidade essencial está dentro. Ela andou meio embaçada, mas no domingo voltou a brilhar e fluir mais livremente. De dentro para fora, irradiando-se luminosa, fazendo com que eu veja claramente o quanto sou afortunada e as belas possibilidades de que disponho.
Mude seus pensamentos, e você muda o mundo.