Corri a Maratona de Porto Alegre no domingo cinzento de 25 de maio de 2008.
Foi um exercício de superação pessoal. Superei o medo, o desânimo e o despreparo. Superei aquela que havia me tornado e reencontrei aquela que sou.
Saí de casa às 6h, escuro ainda. Fui de carro. Cheguei às 6h30, em cima da hora. Parei meio longe, então carreguei meu mochilão vermelho comigo. Encontrei minha amiga Lena Stropper, e guardei o mochilão no carro dela. Falei que estava apavorada, e ela, minha maior incentivadora na empreitada, disse pra não me preocupar, que agora já estava lá mesmo, era só sair correndo e pronto.
Fiz um aquecimento ultrachinfrim de uns cinco minutos (bem de acordo com a chinelagem das duas semanas pré-prova), deixei meu casaco com Lena e fui pra largada. Encontrei Marcia Lima, outra amiga ponta-firme, e fiquei com ela.
Ali na largada comecei a sentir a transformação: o medo misturou-se a uma excitação e alegria que eu nunca mais havia sentido ao correr. Me senti incrivelmente feliz, alegre, leve, animada, uma genuína sensação de "right here, right now, there is no other place I wanna be" (e neste momento estou ouvindo Jesus Jones no i-Tunes - e esses eu vi ao vivo num Hollywood Rock em SP nas priscas eras). Me senti como sou: uma mulher muito disposta. E lá fui eu.
No início estranhei minha alegria e leveza por estar correndo, já estava acostumada com a sensação de peso e obrigação, o sofrimento, a uruca... E ali eu soube que ia dar tudo certo, que o movimento ascendente havia engrenado.
Fiz a primeira metade num ritmo bem bom, fechei em 1h39min. Mas quando cheguei nos 22km quebrei. Pensei em parar, já tinha feito a metade e tal... Mas parar por quê? Podia simplesmente seguir mais devagar. E fui. Caí de 4'45'' para algo tipo 5'05''.
No km 32 estava muito cansada, o quadríceps esquerdo doía, comecei a sentir a falta de polimento do treino, a musculatura retesando-se. Parei no posto de gatorade, peguei dois copos e bebi, caminhando até o posto de água logo depois, onde peguei dois copinhos e bebi caminhando. E voltei a trotar! Só mais 10km e deu. Aí baixei pra 5'30'' até 5'50'', e foi assim até o final. No km 36 caminhei de novo para beber mais dois copos de gatorade. Só pensava em comer uma maçã quando chegasse. E decidi que aquela tinha sido a última parada.
A virada foi no km 38, e eu já estava começando a me enervar, porque a porra não chegava nunca, e eu lá cada vez mais cansada. Logo depois de virar encontrei o que precisava para manter o ritmo: uma parceria. Encostei num cara que estava num passo idêntico ao meu. E naturalmente seguimos juntos. Eu terminaria a prova sozinha, mas creio que a passada ficaria ainda mais lenta. Juntos, mantivemos a cadência. Quando passamos a marca dos 40km, ele disse: "Mais um!" Eu disse que estava muito, muito cansada, e ele disse: "Eu também, mas vamos manter esse ritmo." E mantivemos. Foi bacana, porque um puxou o outro, às vezes ele avançava dois passos, depois eu. Pisamos juntos no tapete.
E eu me senti muito mais feliz e realizada do que na maratona de estréia no ano passado. Essa sim será inesquecível.Passo a passo com Marcelo, meu parceiro na finaleira
Nenhum comentário:
Postar um comentário