terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Mãos e língua

"Aprende a gravar na pedra os favores que receberes, os benefícios que te fizerem, as palavras de carinho, simpatia e estímulo que ouvires.
Aprende, porém, a escrever na areia as injúrias, as ingratidões, as perfídias e as ironias que te ferirem.
Aprende a gravar assim na pedra, aprende a escrever assim na areia e serás feliz."


Eu sou melhor escrevendo do que falando. Ao escrever, evito cair nos excessos e cretinices que me escapam impetuosamente pela boca. As mãos são mais comedidas que a língua. E mais compassivas. Ao escrever, eu naturalmente me volto para o que realmente interessa, para o lado positivo das experiências. E, ao abordar coisas ruins, não me entrego a acessos de fúria, queixa e lamentação.
Mas nem sempre foi assim. Durante anos eu mantive agendas em que anotava fragmentos de meus dias. Por muito tempo, essas anotações foram uma seleção dos piores momentos, alterando entre diatribes e arengas. O horror. É verdade que naquela época eu estava doente, me sentia infeliz e minha vida era mesmo miserável, minha paisagem mental era infernal. Porém, escrever a respeito daquela forma não ajudava em nada, apenas reforçava o que por si só já era péssimo.
Escrever tornou-se uma ferramenta de lucidez pra mim quando mudei minha visão e deixei de ser vítima (de mim mesma, dos outros e das circunstâncias) e me tornei responsável por mim e pelo que acontecia comigo para o bem e para o mal. Eu comecei a escrever no estilo em que comecei a pensar: refletindo sobre as coisas para tentar chegar a uma paisagem nítida. Buscando colocar os fragmentos em ordem.
Nem sempre os textos ficam redondinhos, muitas vezes caio em contradições, me perco, me desvio. Os pensamentos nem sempre são claros. Mas existe uma motivação de buscar a lucidez. É isso que importa.
A língua eu ainda preciso manejar melhor. Muuuuuito melhor. Ou seja, ainda tenho muito a aprimorar no campo das paisagens mentais.
Hoje ao amanhecer peguei todas as agendas e queimei na lareira. Não abri, não li nada.
Como eu havia decidido, esse é o ano de liquidar pendências.

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