quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Fevereiro: 211km

A coisa está ficando boa.
Corri 211km em fevereiro. Em janeiro haviam sido 174km. Total de 385km em 2013. Minha doação pessoal pra campanha KM Solidário está em quatro pacotes de leite em pó. :)
E os treinos? Os treinos vão bem. Cada vez mais longos e exigentes. E eu cada vez mais encaixada, mais focada, cansando menos, sentindo menos. Mas hoje, enquanto fazia 7x 1.200m na pista (mais 5km soltos), tive um momento de amarelão: "Bah, não vou fazer a maratona... Imagina o que será o treino até lá... e 42km de uma vez só, não vou aguentar". Na mesma hora tratei de exterminar esse pensamento fraco. Estou superbem, mal comecei a treinar. Tenho três meses pela frente. Nada de pânico.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Assim eu gosto

Hehehe, assim eu consigo ouvir blues... Ouvir e gostar, hehehe...

Tou aqui traduzindo e ouvindo (há dias) toda a coleção do Café Del Mar, que eu amo. E essa música que tocou agora tem tudo a ver com meu mood matinal.
Deixei Lízia na escola e fui direto pro treino. Corridinha de 10km pela rua e depois musculação.
Voltei a correr no meu pace normal, de 4:50. Sem sofrimento, sem dor, sem esforço. Naturalmente. Meu corpo voltou a ser como era, e eu me sinto bem nele.
Os treinos de corrida estão começando a aumentar. Já a musculação continua - e continuará - leve. Manutenção. Não quero mais entrar na vibe de pegar pesado. Estou seca, trincadíssima, se hipertrofiar vou ficar excessivamente viril. E o peso vai aumentar, coisa que não quero. Está ótimo assim, estou leve, é a maior diferença na corrida.
A caminho da escola, eu e Lízia comentamos sobre a mudança do clima, já se nota o outono no ar frio e na luminosidade. Hoje de manhã a luz estava bem outonal, um tom mais dourado. E, quando ouvi essa música, com esse nome, veio de novo a percepção vívida da chegada do outono:

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Alívio

O que já estava péssimo piora mais e mais depressa a cada dia. Mas, enquanto o mundo desaba e se despedaça - para se refazer de uma nova forma na impermanência do samsara -, algumas coisas resplandecem com as facetas mais positivas e benéficas possíveis.
Minha filha hoje foi muito boa para mim. Foi ao supermercado comigo - coisa que eu odeio fazer, odeio, ainda não consegui superar essa aversão -, me ajudou nas compras, no caixa, ajudou a carregar e descarregar o carro. Depois ajudou a fazer o almoço. Isso me fez tão bem... O que seria apenas uma série de obrigações tornou-se prazeroso. Foi bom abastecer a casa e preparar o almoço pra nós.
Lízia está cada vez mais sofisticada em seus gostos. Fui abençoada por ter uma filha que possui bom gosto natural, aprimorado pelo acesso ao consumo e, acima de tudo, à informação. Ao mesmo tempo ela mantém a simplicidade que me encanta desde que era uma criancinha. Lízia adoraria vestir apenas Marc Jacobs, Chanel, Dior, mas usa feliz da vida as lingeries que comprei na Renner e as camisetas básicas de algodão da Sulfabril. Perto do guarda-roupa das amigas, Lízia parece uma mendiga. Ela tem menos da metade de tudo que as amigas possuem - e jamais reclama disso. Lízia curte as coisas que tem, contenta-se com elas, não é uma consumista obsessiva. Nunca foi.
Ela está feliz da vida com a cama nova que ganhou do pai. Achou que o quarto ficou maravilhoso da forma como foi reorganizado, apesar de ter um armário e uma cômoda bastante velhos.
Olhar para esses aspectos tão doces de minha filha me comove. E, embora ainda não haja alegria em mim, sinto-me feliz.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Há uma semana...

...eu estava em Capão pra Summer Night Run.





Quilometragem solidária

Embora a campanha tenha começado nessa semana, resolvi reatroagir minha contagem para 1º de janeiro.
No mês passado somei 174km de corrida.
Além da campanha do leite em pó, a brincadeira do Eduardo Saraiva me levou a fazer algo que nunca havia feito na vida: somar minha quilometragem. Eu não só não somava, como nem olhava as contas que vêm na planilha. Nunca dei a menor bola pra isso. Corro o que é pra correr e era isso.
Às vezes as pessoas me perguntam quanto eu corro por dia, por semana. A resposta de praxe é: "Aí vareia", hahahaha!!! Mas varia mesmo. Então explico que depende da fase do treinamento, que cada dia é uma coisa diferente, blablabla. Mas nunca tinha números muito precisos para citar. Agora terei, hehehe. Poderei inclusive acessar o blog ou a planilha da Winners pra citá-los, hohoho.
Estou me divertindo com a atividade matemática, mas também estou descobrindo um novo jeito de olhar para meu treinamento. Que venham os próximos quilômetros!


Worsening

What was already dire is getting worse. It always can worsen...
It's not a downward spiral anymore, it's a frantic downfall. Vertiginous.
Dementia.
Getting closer and closer to total loss.
And here I am doing whatever it takes to honour my promise and my duty. I can and I will take care. But who is gonna take care of me? No one. No one but me. So fucking all by myself.
Today I felt absolutely miserable. And weak. And a bit scared. Tidal wave of pain once again. Dragging me down. Drowning me in the sea of sorrows and suffering. Liquid emotional hell. My soul bled once more. Soul pain. So deeply hurt. There's no running away, there's no hiding. There's only one thing to do: stand still, hold on, endure and then let go.
My soul is still wounded. But it is healing. The wave has come and gone.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Corrida solidária



Até 9 de junho, terei muito chão pra rodar e muita volta pra dar na pista do CETE. Serão várias centenas de quilômetros, que dessa vez serão convertidos em um gesto solidário. A cada 100km percorridos, vou doar uma lata ou pacote de leite para uma creche carente. Minha contribuição individual não é muito expressiva, mas não estou sozinha nessa. Trata-se de uma mobilização dentro da Winners Assessoria de Corrida.
A ação solidária começou com uma brincadeira no Facebook. No Carnaval, o winner Eduardo Saraiva lançou um desafio: ver se o pessoal da equipe somaria 1.000km corridos entre o sábado e a Quarta-Feira de Cinzas. Somamos!
Veio então a meta de acumularmos 40.000km até o final do ano (a circunferência da Terra).
Aí o treinador Átila Viero de Conti lançou a primeira campanha, anunciando que a Winners doaria uma lata ou pacote de leite em pó para uma creche carente a cada 100km somados pelos winners até 28 de fevereiro. Foi quando me ocorreu transformar minha quilometragem pessoal em algo de benefício para outros seres (afinal, minha corrida até hoje foi uma atividade totalmente autocentrada), e me comprometi a fazer a mesma doação a cada 100km de treino até a maratona. (Manterei minha quilometragem atualizada aqui no blog.) Outros corredores decidiram fazer o mesmo. E a campanha da Winners também foi estendida até a Maratona de Porto Alegre.
O lema da equipe é "Juntos somos Winners". Juntos também somos solidários.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Celebration Day

Há exatamente um ano parei de correr. E somente agora, neste momento, ao escrever aqui, acabo de ver que voltei a trotar exatamente quatro meses depois, no dia 19 de junho de 2012. (Em todo esse tempo, nunca não havia reparado nisso...)
Hoje celebrei a triste data me sentindo plenamente recuperada, esfuziante e triunfante, na pista do Cete, dando início ao treinamento para a Maratona de Porto Alegre, dia 9 de junho. Vendo a coincidência das datas, posso dizer que celebrei também a minha espetacular recuperação, o sucesso total do trabalho de  reabilitação.
Exatamente oito meses após voltar a trotar pela primeira vez, fazendo um treino de 8x 30" de trote, com pausa de 1'30" de caminhada, hoje fiz  9x 700m, com pausa de 100m de trote.
Para encerrar esse dia de dupla celebração, uma aula de dança do ventre. A dança do ventre, aliás, foi o motivo de minha única transgressão no processo de reabilitação. O neurocirurgião queria que eu só voltasse a fazer dança três meses depois da cirurgia, ou seja, em agosto. Voltei em junho, escondida dos médicos e do treinador. Não prejudicou a coluna, e foi tudo de bom para a cabeça.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Prainha de novo

Sabadão em Capão. Cuidando pra não pegar sol no rosto. A ideia era trabalhar de dia e correr a Summer Night Run, mas tive que fazer uma pausa e ir pra praia com a mãe e Neuza. Fomos pra plataforma de Atlântida, meu local favorito por aqui. Neuza também curte. Ela vai passar todo o verão sozinha com minha mãe, direto. Quando venho visitar, tenho que dar uma força, porque a situação é difícil. Cada vez mais.
A paciência de Neuza para cuidar de minha mãe é espantosa. É um dom, um dom realmente divino. Porque minha mãe está totalmente demente. E em alguns momentos a agitação é de enlouquecer. Neuza tira de letra, segura a onda da minha mãe e a dela. E temos momentos mais leves, como esse.














domingo, 17 de fevereiro de 2013

As voltas que o mundo dá



No dia 18 de fevereiro de 2012, sábado, corri pela última vez antes da cirurgia realizada em 2 de maio para retirar a hérnia de disco em L5-S1. Eu teria um treino de 14km, fiz 8km, me arrastando e sofrendo tanto que parei e voltei o resto caminhando (e para eu parar no meio de um treino, é porque era extremo).
No dia seguinte, domingo, 19, me arrumei toda pra correr. Lembro com total clareza que fui até a porta, abri e pensei: "Não vou. Não dá". E só depois de abortar o treino é que caiu a ficha: eu estava quase manca. Não conseguia mais correr porque estava com dor - dor que até então eu não havia notado porque meu limiar é altíssimo, e eu sou muito persistente e disciplinada, treino dado é treino feito, e sempre acho que não é nada sério e que vai passar. Dessa vez era sério, dessa vez não passou. E na planilha de treino eu anotei: "DOR. Dor o tempo todo. Acho que preciso de médico agora".
Era uma crise da hérnia de disco. Eu tive a primeira em novembro de 2009, foi quando descobri a hérnia. Na verdade, a protrusão tornou-se hérnia no dia 1º de novembro. Fui levantar de um sofá e caí sentada, com uma dor que nunca havia sentido. Uma fisgada. Tive a segunda crise em agosto de 2010. Em maio de 2011, treinando com altos e baixos, fiz minha melhor maratona, 3h25min. Agora era a terceira crise. Eu sabia que isso ocorreria volta e meia. E sabia que teria que fazer fisioterapia e pegar leve no treinamento até a crise passar. Tudo bem. Eu podia conviver com isso. E com o desconforto crônico na lombar. Porque, mesmo quando não doía, a hérnia se fazia lembrar por uma sensação desconfortável, uma pressão, um aperto. Eu vinha sentindo mais pressão desde setembro, e não estava conseguindo treinar bem. Estava perdendo a velocidade, simplesmente não conseguia evoluir. E a corrida estava se tornando muito difícil, um sofrimento. A TTT 2012 foi um exercício de total superação. E foi também o golpe decisivo para a hérnia.
No dia 23 de fevereiro, fiz uma ressonância que mostrou que minha hérnia estava imensa, pressionando as raízes do ciático pelo lado esquerdo - por isso eu sentia cada vez mais dor na perna esquerda, dor que primeiro era só na nádega, depois desceu pra lateral do joelho e foi parar no pé como dormência nos dedos. Levei a ressonância para um traumatologista olhar naquela semana. Ele me disse que meu caso era cirúrgico. E propôs, com a maior naturalidade, fazer uma artrodese, ou seja, remover o disco entre L5-S1, colocar um espaçador entre as vértebras e fixar uma na outra com pinos. "Você vai perder apenas 5% do movimento da coluna, não tem problema", disse esse médico.
Enquanto ele falava, eu me encolhia na cadeira, horrorizada. Saí de lá quase correndo e quase chorando, na verdade só não chorei porque estava no meio da rua. Também saí decidida a não me deixar mutilar de maneira alguma. O médico não falou, mas eu soube que, se fizesse essa cirurgia, minha vida nunca mais seria a mesma. Adeus corrida, adeus dança do ventre, adeus minha vida normal.
Conversei com meu treinador, Átila Viero de Conti, e optamos pela fisioterapia. Comecei no dia 28 de fevereiro. Em março eu parecia estar melhorando, embora a dor jamais cessasse, só diminuísse. Eu não corria, mas fazia musculação leve e dança do ventre.
No dia 1º de abril, eu soube que estava ferrada quando acordei. Fui sair da cama e não consegui. A dor tinha atingido um outro nível. Doía o tempo inteiro. Doía tanto que eu mal conseguia me mexer. Dali em diante, eu saía da cama me virando de bruços (o que doía horrores - qualquer movimento à noite me fazia acordar; depois disso, passei a dormir como uma múmia, deitava e ficava imóvel para só sentir a dor "básica") e escorregando pra fora da cama. Primeiro um pé no chão, depois o outro. E aí vinha um dos piores momentos do dia: erguer o tronco. Com os pés no chão, eu me empurrava para a vertical com os antebraços no colchão, depois as mãos. Era um suplício. Que prosseguia na ida para o banheiro, arrastando os pés. Sentar na privada e levantar eram manobras insuportavelmente dolorosas. Inclinar-me na pia para escovar os dentes e lavar o rosto, outro tormento. E aí tinha que me vestir. Calcinhas e meias exigiam malabarismos. Amarrar os tênis também. Tudo ficou difícil. E tudo provocava uma dor alucinante. O meu maior terror era a possibilidade de ficar resfriada. Espirrar levava a dor ao ponto máximo. Até hoje eu ainda tenho medo de espirrar, sempre me contraio involuntariamente.
Tive então a brilhante ideia de consultar com meu neurologista clínico, Francisco Rotta. Ele propôs a última tentativa conservadora: gabapentina, uma droga neurológica para tentar reverter a ciatalgia. Lembro exatamente da sensação quando tomei a primeira dose: logo que a gabapentina começou a fazer efeito, eu senti uma vertigem, uma perda de lucidez. Uma tremenda chapação. Cheguei a tomar 1,8 GRAMA de gabapentina por dia, mais 300mg de tramadol, um opioide. Eu passava os dias meio zonza. E a dor maldita não passava nunca. Diminuía um pouco, mas pouco.
Na manhã de 23 de abril de 2012, segunda-feira, ligaram do consultório do neurocirurgião Albert Brasil, com quem eu tinha horário marcado para junho, propondo uma consulta para o dia seguinte, terça-feira, 23. Agendei. E em seguida liguei para o Rotta para passar o boletim da semana anterior. Quando eu disse que a dor seguia praticamente igual, ele falou o que eu temia: o tratamento conservador havia fracassado. A gabapentina não tinha funcionado e não iria funcionar. E eu iria para a cirurgia. E logo. Contei para ele da consulta com Albert Brasil, e Rotta achou ótimo, disse que, se Albert pudesse me operar, que eu fizesse com ele, porque seria um dos médicos que ele iria me sugerir.
Aí foi tudo muito rápido. Fui para o hospital no dia 1º de maio. Fiz uma ressonância naquela noite (e a hérnia tinha ficado maior ainda desde 23 de fevereiro, num dos cortes da ressonância ela simplesmente estrangulava o ciático, que nem aparecia na imagem). Na quarta-feira, dia 2, Albert Brasil removeu a hérnia. E a dor que me devastava física e mentalmente (porque eu já estava fora de mim pela medicação pesada e por pensar que talvez passasse o resto da vida com dor crônica - coisa que Albert disse que poderia acontecer, caso a cirurgia não desse certo).
De 18 de fevereiro a 2 de maio de 2012, eu senti dor constante e cada vez maior. Dor neural, uma coisa enlouquecedora, pois não passa nunca. Mesmo assim, continuei tentando levar a vida mais normal possível. Fiz aula de dança do ventre até a véspera da internação, porque era um momento de felicidade. Dor eu sentia de qualquer jeito, então pelo menos podia me alegrar nas aulas. Dirigia (na finaleira, entrar e sair do carro me fazia suar de tanta dor, trocar marchas era horrível, e eu ficava economizando, hehehe), ia ao supermercado (e tinha que carregar as sacolas e guardar as coisas), toda a função doméstica básica (um dia fui varrer o terraço, e essa foi uma experiência inesquecível - vassoura e hérnia não combinam). Trabalhava, o que era um martírio, pois o pior de tudo era ficar sentada. Todo dia eu acordava pensando: "Vou melhorar", e dormia pensando: "Amanhã estarei melhor". Houve alguns momentos de dúvida e desespero, mas foram poucos. Eu sou otimista. E resiliente. E isso faz uma enorme diferença.
Eu mal lembro da internação porque no hospital realmente pegaram pesado nos painkillers. Tramadol na veia, gabapentina, calmante para dormir. Muito de tudo. Na manhã antes da cirurgia, eu mal parava em pé de tão doidona. E ria, faceira e animada. Eu não tinha mais nada a perder, se não operasse, ficaria aleijada porque a hérnia ia destroçar o ciático. Era tudo ou nada. Fui pro bloco na maca, e lembro de uma enfermeira me olhar e dizer: "Que bonita essa mulher", o que foi um momento de glória. Bonita de camisolão, cara de drogada e com o cabelo lavado com desinfetante pré-operatório! Cheguei na sala, o anestesista veio conversar, disse que iria começar a injetar alguma coisa. Não lembro se já tinham me tirado da maca, acho que não.
Acordei na sala de recuperação, meu tio estava lá, minha filha e meu ex-marido. Vi Albert e disse: "Quero ir pro quarto!" Ele riu, perguntou como eu estava. "Ótima, não sinto nada. Quero ir pro quarto. Por favor, por favor. Não me deixa aqui essa noite." Eu só poderia ir depois de fazer xixi, disse ele. E me fez jurar que eu não sairia da cama, nem faria nada até ele vir me ver de manhã. Prometi. Mas eu não conseguia fazer xixi. Fiquei lá pedindo pra ir embora, as enfermeiras de início ficaram putas, mas logo viram que eu era uma paciente boazinha e estava bem, e só queria ir pro meu quarto. Uma delas disse: "Posso botar uma sonda". "Sim! Sim! Por favor, qualquer coisa, só quero dormir no meu quarto." Ela colocou a sonda, fiz xixi e me despacharam. Minha filha ficou comigo naquela noite. E eu passei chamando o enfermeiro de hora em hora - pra fazer xixi, hahaha! Porque não parou mais a vontade. E eu tinha prometido ficar na cama.
Na quinta-feira, 3, Albert Brasil chegou no meu quarto de manhã e, conforme o combinado, me tirou da cama. E eu me mexi pela primeira vez sem dor nenhuma, nada. Nem conseguia acreditar. Foi um dos momentos mais felizes de minha vida. Não posso descrever a dor que eu sentia, também não posso descrever o que senti ao perceber que não sentia mais dor.
Saí do hospital no sábado, 5 de maio. E não tomei mais remédio nenhum. E aí tive uma síndrome de abstinência. Não dormi duas noites, ficava inquieta, me remexendo na cama, ligada, esquisita. E tinha umas sensações estranhas durante o dia também, agitação. Disseram para eu tomar remédio se sentisse dor. Eu não sentia nada, não tomei. Mas era óbvio que eu deveria ter retirado a gabapentina aos poucos.
No dia 10 comecei a fisioterapia. Para total espanto da fisioterapeuta, cheguei lá pra avaliação caminhando. Sozinha. Eu não podia dirigir. Então fui a pé (escondida). Mas voltei de táxi.
Estava tudo indo muito bem, mas aí voltei a sentir uma dorzinha na lateral do joelho esquerdo. Surtei. Total. Liguei pro Albert, que disse que era normal, que era dor residual. Nada de pânico. E uma dose de ataque cavalar de Decadron (corticoide) por dois dias apenas. E depois um Naproxeno (antiinflamatório) pegado por mais uns dias. Sem fisioterapia. Falei com Rotta também, ele disse a mesma coisa. E explicou que eu poderia sentir dor ou desconforto por uns três meses, até seis (e os dedinhos do pé ficaram dormentes por bastante tempo mesmo). Mas era normal, e eu ficaria bem.
Voltei pra fisioterapia. Mas eu queria voltar a treinar. E agora? Eu era uma batata quente, ninguém sabia o que fazer comigo. Albert Brasil disse que não existe protocolo pra gente que nem eu, porque meu corpo é diferente, minha recuperação é diferente, minha ideia de vida normal é diferente, minhas expectativas são diferentes. Falei com Átila, perguntei se ele faria a reabilitação. Ele disse que sim. Rotta achou ótima a ideia do meu treinador assumir o processo (não sei por que, ele não confia muito em mim...), conversou com Átila (e ambos parecem ter uma ideia muito semelhante a meu respeito, afff) e no dia 29 de maio eu voltei a ter planilha da Winners! De caminhadas e bike... Mas eu não tinha nem 30 dias de cirurgia e já estava treinando. E era isso que importava.
No dia 19 de junho, fiz meu primeiro trote!!! Na esteira. Foram 8x 30 segundos, com pausa ativa de 1 minuto e 30 segundos. No dia 21 de junho, voltei a fazer musculação. Tudo de leve. Mas tudo voltando.
No dia 4 de outubro, voltei a treinar na pista do CETE. Foi bom, mas estranho. Eu estava tão, tão, tão lerda... Parecia que nunca mais voltaria a correr como antes. Eu tinha acabado de completar quatro meses de cirurgia.
Por essa época, fui ver Rotta, que me deu alta oficialmente. Disse que eu estava curada, que minha recuperação tinha sido ótima. E que, caso eu tenha algum problema de coluna no futuro, será uma coisa nova, não um problema causado por má recuperação. Maratona? Sim, poderia fazer - se eu não sentir dor. "Você sabe que não é saudável, mas tem coisa bem menos saudável", disse ele. Por isso eu amo esse médico. Ele me entende, ele sabe que fiz a cirurgia pra ter minha vida normal de volta. E minha vida normal inclui a maratona e muitas outras atividades. Talvez eu não tivesse tido que operar se, com a primeira crise, tivesse mudado de vida, ido pra natação, sei lá. Não sei e não me interessa. Eu adoro me esbaldar. E vou continuar enquanto puder.
Eu senti que voltaria a correr no dia 1º de dezembro, na Corrida Monumental do Grêmio. Fui pra fazer os 9km pensando que, se fechasse em 45 minutos, seria uma beleza. Completei 8,6km (conforme meu GPS) em 39:20, média de 4:34, conforme já registrei aqui no blog. No dia seguinte, completei sete meses da cirurgia. No dia 16, corri 10,6km na Meia Maratona do SESC em 45:28.
Falei com Rotta e Átila, e ambos concordaram que eu poderia antecipar a volta pra maratona, inicialmente prevista para o segundo semestre de 2013, para o primeiro semestre. Assim poderei correr de novo em Porto Alegre, dia 9 junho. Vou começar a treinar na próxima terça-feira.
E ontem, sábado, 16 de fevereiro, aqui em Capão da Canoa, um ano depois de ter corrido pela última vez antes de todo esse calvário, fiz os melhores 5km de minha vida, em 21:19. De noite, na areia fofa e esburacada, no escuro, com um pouco de vento. (Enquanto me esfalfava no percurso ingrato, lembrei que na Summer Night Run de 2012, no dia 11 de fevereiro, eu estava mal, só fui assistir.)
Meu treinador estava aqui ontem. Assim como esteve na minha melhor maratona, quando nem era meu treinador ainda, e eu passei nos 21km, e ele gritou: "Vamos, Lúcia, vamos! Tá muito bom!" E esteve enquanto eu tentava sair da última crise de hérnia. E esteve lá no hospital. E esteve durante a reabilitação. O lema da Winners Assessoria de Corrida é "Juntos somos Winners". Eu sou uma prova viva - e muito ativa - disso.
Existe risco de eu ter problema na coluna de novo? Sim. Eu tenho uma protrusão em L4-L5. Tenho 49 anos. E tenho sentido um pouco de pressão na lombar (hoje, por exemplo, estou sentindo - correr na areia é punitivo para mim, e é algo a evitar cada vez mais, assim como ladeiras e piso irregular). Minha coluna não é mais a mesma. Então por que eu continuo treinando tanto? Porque eu gosto. Tem gente que gosta de comer, de beber, de fumar, de ir a shopping, de viajar, de ler, de ver TV. Eu gosto de treinar. E é o que vou continuar fazendo enquanto minha saúde permitir - e espero ser uma velha coroca maratonista.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Tem que ter cara

Bonitona, não?
Pois foi assim que saí do consultório de minha cosmetóloga, Cíntia Ivaniski, em plena Padre Chagas ao meio-dia de sexta-feira, peguei o carro e fui pra casa. Atraindo vários olhares, é claro. Assim saí e assim fiquei até as 17h, quando finalmente removi esse reboco. Trata-se de um peeling para clarear minha castigada pele de corredora de rua. Estou com umas manchas de sol, ainda leves, mas já visíveis. Resolvi tratar antes de ficar marrom assim, hehehe.
Pois então, fiz o peeling e agora estou usando um clareador que me deixa com uma cobertura que parece gelatina alaranjada. Para disfarçar, passo um pó quando vou sair.
Fiz o peeling na sexta-feira porque a previsão era de chuva no final de semana. Vim pra Capão, e o sábado foi de sol... Afff.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Almoço em família

Lízia voltou da praia ontem. Hoje eu e Eduardo fomos almoçar com ela.
Fiquei sabendo por acaso que do almoço ela ia pro ensaio da banda de um amigo.
"Que amigo?", perguntei.
"Você não conhece." Afff, odeio essa resposta, que é um hit aqui em casa.
"E como é nome?"
"Yuri", responde ela com uma cara torta.
"E você conhece ele de onde?"
Cara mais torta ainda e silêncio emburrado.
"Não vai responder?", pergunta Eduardo.
"Ai, que saco! Pra que isso?"
"Tá pensando que a gente vai te deixar sair assim, sem saber com quem?", Eduardo já se envaretando - com toda razão.
"Conhece de onde?", pergunto de novo.
"Ah, é amigo de uns amigos."
"Não estuda no Monteiro, então?"
"Não."
"Quantos anos tem?"
"Dezessete. Ai, parem com isso, vocês estão parecendo pais normais."

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Tudo. Sempre.

"Screwdriver", nova música de Prince, muito guitarrista nessa.

You're my driver, I'm your screw. :)

Following, flowing

Depois de ficar até as tantas assistindo o Grammy insuportável apenas pra ver Prince por uns segundos, tou aqui traduzindo e ouvindo a trilha sonora de "Nip Tuck". Como eu gosto desse álbum. Há anos. Faz parte da trilha de minha vida, pontuando momentos bem específicos desde 2008. Lembro do que senti ao ouvir determinadas faixas em certas ocasiões. Lembro que gravei duas delas em um CD que dei de presente - e que ouvi em dias lindos do verão de 2011, na beira da piscina.
E adoro a série. Estou há anos pra pegar todos os DVDs na locadora e assistir. Mas haja tempo pra isso. Com o que tenho de trabalho pela frente, só mais adiante.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

It's life, and life only

Retomando pequenos prazeres da vida simples.
Gosto de cozinhar, mas sempre achei um saco preparar refeições apenas pra mim. Aí acabo não comendo, ou comendo qualquer coisa. Nos últimos meses, andei à base de pão (mas pão feito por mim, pelo menos) e massa com atum e iogurte.
Ontem vi figos lindos no supermercado, e meu almoço acabou sendo figos levemente assados com gorgonzola. À tardinha rolou a baixaria: comi 240g de doce leite (!!!). Claro que não jantei depois dessa esbórnia, mas ainda tive a cara de tomar uma weiss bier da Bohemia.
Hoje tive que ir ao supermercado de novo, e aí deu a veneta. Comprei salmão e batatas. Seria o almoço de hoje e amanhã, mas ia demorar. Resolvi fazer uma saladinha, e lembrei do couzcouz pré-cozido que ganhei de Lízia numa cesta de Natal. Turbinei a salada de alho-poró, pepino, cenoura e queijo minas com o couzs-couzs. Coisa bem boa que ficou.
Enquanto temperava o salmão e cozia as batatas (que serão almoço de amanhã e segunda-feira), e fazia a salada, tomei uma taça de Casal Garcia, meu vinho favorito desde o ano passado. Fiquei grogue, hahaha. Almocei a salada, comi um pouco de doce de leite de sobremesa (pra fazer uma glicose e tirar a borracheira do vinho) e agora vou saborear minha nova mania: chá de alecrim. Tenho tomado diariamente, vi que é bom pra tudo. E eu acho o gosto uma delícia.
Meu Carnaval sozinha em casa será mais ou menos assim: treino, trabalho e refeições mais caprichadas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Quatro meses

Hoje. Lembrei há pouco. Do nada.
Vida que segue, que se transforma.
Eu sigo me transformando. Por dentro e por fora.
Hoje foi o dia de ficar mais bonita por fora. Fiz um peeling no rosto e uma selagem térmica no cabelo. Adorei o resultado.
E por dentro... Por dentro sim está rolando uma verdadeira transformação. E um indício (entre inúmeros outros) foi essa vontade súbita de caprichar na aparência externa. Que o exterior reflita o interior.


Ai, ai, ai, lá se foi meu Ricci Ricci, presente da filha amada. Dei as últimas borrifadas antes de sairmos pra jantar um burrito gostoso.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Never my friend

Amo essa música. Gosto da letra. Estava lá nas areias de Capão de Canoa, sábado, ralando no vento contra, e tocou no iPod. Oh my... Tão a ver com o mar prateado, com o sol da manhã. Tão a ver comigo.
Tenho essa música nas coletâneas do Café Del Mar. E esse som tem tudo a ver com mar para mim. Chill out chique. Muito Ibiza. Mas funcionou perfeitamente na (bem) menos glamourosa  praia gaúcha, hahaha.
Eu gosto de qualquer praia, de qualquer mar. Se puder correr na beira d'água, numa areia dura e plana por quilômetros, gosto mais ainda. Por isso - e pelo fato de ser o mar da minha infância - adoro essas praias medonhas daqui. Gosto desse mar aberto, desse horizonte amplo pra todos os lados. Gosto de espaço. Praia de enseada não é bem a minha.


Calling, you're calling

I have dialed your number on the telephone
I've been waiting for hours just to hear your voice
I've had your dad, your dog, your sisters and your mom
But you were never there, never available

I started looking for you in a crowded street
I thought you were a joke, that there was a trick
And I now realize you were never my friend
And all you wanted for me was rather insane

I won't call you again,
Now I know

I probably would

Estava traduzindo, deparei com "left to my own devices" no texto e lembrei dessa música. Foi na semana passada. Tem a ver comigo, com a que fui um dia.


I get out of bed at half past ten
Phone up a friend, who's a party animal
Turn on the news and drink some tea
Maybe if you're with me we'll do some shopping

One day I'll read, or learn to drive a car
If you pass the test, you can beat the rest
But I don't like to compete, or talk street, street, street
I can pick up the best from the party animal

I could leave you, say goodbye
Or I could love you, if I try
And I could
And left to my own devices, I probably would

Pick up a brochure about the sun
Learn to ignore what the photographer saw
I was always told that you should join a club
Stick with the gang, if you want to belong

I was a lonely boy, no strength, no joy
In a world of my own at the back of the garden
I didn't want to compete, or play out on the street
For in a secret life I was a round head general

I could leave you, say goodbye
Or I could love you, if I try
And I could
And left to my own devices, I probably would
Left to my own devices, I probably would
Oh, I would

I was faced with a choice at a difficult age
Would I write a book? Or should I take to the stage?
But in the back of my head I heard distant feet
Che Guevara and Debussy to a disco beat

It's not a crime when you look the way you do
The way I like to picture you
When I get home, it's late at night
I pour a drink and watch the fight
Turn off the TV, look at a book
Pick up the phone, fix some food
Maybe I'll sit up all night and day
Waiting for the minute I hear you say

I could leave you, say goodbye
Or I could love you, if I try
And I could
And left to my own devices, I probably would
Come on, baby, say goodbye
I could love you, if I try
And I could
And left to my own devices, I probably would
Left to my own devices, I probably would

Out of bed, at half past ten
The party animal phones a friend
Picks up news about the sun
And the working day has just begun
Sticks with the gang - at the back of the street
Pass the test - and you don't compete
Drive the car, if you're with me
Che Guevara's drinking tea
He reads about a new device
And takes to the stage in a secret life

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Guardiãs de Cleópatra


Foi bom, mas foi ruim. Foi ruim, mas foi bom.
Afff, pensei que fosse morrer de tão nervosa com essa espada. Que puta desafio pra mim, que tenho tantos problemas de equilíbrio e que, como dançarina, sou uma ótima corredora.

Omio odo yá

Vim pra praia sexta à noite, maior trânsito na estrada, mas queria entregar uma bandeja pra Yemanjá. Cheguei perto da meia-noite e fui pra beira-mar. Pretendia arriar o ebó no pé de uma imagem na praia, pela qual costumo passar correndo - e que sempre saúdo, o que fiz inclusive durante a Summer Day Run. Mas o universo tinha um plano melhor. Fui na direção da estátua, avistei uma movimentação, desci do carro e fui lá. Não era a estátua (ela fica mais longe), era uma cerimônia de uma casa de Canoas, o Centro Energético Reino de Oxalá, do Pai Jaime de Ogum. Perguntei se podia entregar a bandeja ali. As pessoas simpáticas e receptivas concordaram numa ótima.
Ogum estava na terra. Veio me receber e disse onde eu podia montar minha bandeja. Ogum é Ogum. Enquanto eu preparava, veio ele mesmo me ajudar, agachou-se ao meu lado e segurou o papel que forrava a bandeja para eu poder colocar a canjica, mel, merengues e cocadas. Me ajudou e rezou por mim e para mim. E ainda me deu uma rosa branca e uma amarela pra eu enfeitar a oferenda. Eu disse ao Pai que sou da Oxum e de Xangô, mas que havia sonhado com ele um dia desses. Sonhei mesmo. Um sonho muito interessante. Ogum chegou em mim no apartamento de minha mãe, eu senti ele se aproximar e me ocupar. Foi uma possessão consciente, eu estava lúcida, mas sabia que Ogum estava em mim. E, na mesma hora que tomou meu corpo, ele me tirou do chão, fiquei flutuando a uns 30 centímetros de altura, enquanto ele dizia que tinha vindo abrir meus caminhos. Já sonhei com os orixás várias vezes, eles  vêm a mim na rua ou no quarto de santo. Sempre para me cuidar e remover obstáculos. Dessa vez, curti muito andar flutuando conduzida por Ogum.
Foi muito auspicioso entregar minha bandeja para Yemanjá numa festa regida por Ogum, tendo ele me aparecido em sonho há tão pouco tempo. O dono da rua está comigo por causa do filho dele. Para reparar danos e abrir os caminhos.
Para completar, enquanto eu preparava o ebó, ajoelhada na frente do altar montado na praia, os filhos da casa cantaram os pontos da Senhora Minha Mãe Oxum. Tudo em sincronia.
Depois de montar a bandeja, recebi o axé de uma Yemanjá que me disse coisas lindas, que levaria com ela todas as minhas preocupações pro fundo do mar. E fui pedir a bênção do Pai Ogum, que me rezou e chamou Oxum. Os cantores começaram outro ponto dela, e a Senhora Mãe encostou, meu corpo afrouxou e balançou, Ogum me segurou pelos braços e falou com ela, e Oxum começou a sorrir com meus lábios. Ogum fechou meus punhos e cruzou meus braços pra Senhora Mãe subir. Sei que ele falou do sorriso dela, de seu espelho e muitas outras coisas, mas não lembro.
Pouco depois, entregaram o barco no mar. Ogum me trouxe a bandeja que preparei para eu mesma levá-la. E lá fui eu pra dentro d'água junto com os filhos da casa, e entreguei a bandeja junto com o barco. Com ela entreguei meus pedidos de luz, clareza e paz pra senhora que é dona da cabeça. E entreguei todas as minhas aflições pra dona do mar transmutar em suas águas salgadas. Na hora de entregar não pedi nada, não pensei em nada. Estava tudo rezado por Yemanjá e Ogum. Só fui no fluxo.