sábado, 10 de agosto de 2013

O sutra do meu coração

Eu sou muito afortunada.
Traduzi essa versão resumida do Sutra do Coração pela primeira vez em 2006, em um livro de Sua Santidade o Dalai Lama, A Essência do Sutra do Coração. Agora traduzi de novo, para A Lua no Espelho, de Sua Eminência Gyalwa Dokhampa, a ser lançado em breve, por ocasião da visita de Rinpoche ao Brasil.
Só hoje resolvi olhar a tradução anterior para comparar com a atual. Fiquei satisfeita, pois são praticamente idênticas. Em 2006 meu modestíssimo conhecimento de budismo era ainda mais limitado. Marpa deve aproximar-se de mim quando traduzo o Dharma para evitar que eu cometa erros crassos.
Traduzir o Dharma faz meus olhos e minha mente brilharem. Felicidade maior só sinto quando trabalho nos livros do Lama Padma Samten. Também, que honra maior eu poderia ter do que fazer a preparação de texto e a edição dos livros de meu professor perfeito?
A tradução de A Lua no Espelho proporcionou o mesmo tipo de felicidade, pois me aproximou de Lama Jigme Lhawang, que me convidou para esse trabalho e me elucidou algumas dúvidas. Lama Jigme Lhawang, que junto com o budismo estuda tibetano e sânscrito, tem profundo interesse pela tradução do Dharma para o português, e para mim é uma alegria poder trocar algumas ideias com ele a respeito disso.



Sutra do Coração

Bhagavati Prajna Paramita Hridaya Sutra
(Sutra da Mãe Abençoada,
o Coração da Perfeição da Sabedoria)

Assim eu ouvi certa vez:
O Abençoado estava em Rajagriha, no Pico do Abutre, junto com uma grande comunidade de monges e uma grande comunidade de bodhisattvas, e, naquela ocasião, o Abençoado entrou em absorção meditativa sobre a variedade de fenômenos chamada de aparência do profundo. Naquele momento também, o nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o grande ser, contemplou claramente a prática da profunda perfeição da sabedoria e viu que até mesmo os cinco agregados são vazios de existência intrínseca.
Então, por meio de inspiração do Buda, o venerável Shariputra falou ao nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o grande ser, e disse: “Como deve treinar qualquer nobre filho ou nobre filha que deseje se empenhar na prática da profunda perfeição da sabedoria?”.
Quando isso foi dito, o nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o grande ser, falou ao venerável Shariputra e disse: “Shariputra, qualquer nobre filho ou nobre filha que deseje se empenhar na prática da profunda perfeição da sabedoria deve ver claramente dessa maneira: deve ver perfeitamente que até mesmo os cinco agregados são vazios de existência intrínseca. Forma é vacuidade, vacuidade é forma; vacuidade não é outra coisa senão forma, forma também não é outra coisa senão vacuidade. Do mesmo modo, sensações, percepções, formações mentais e consciência são todas vazias.
“Portanto, Shariputra, todos os fenômenos são vacuidade; não têm características definidoras; não nascem, não cessam; não são maculados, não são imaculados; não são deficientes e não são completos.
“Portanto, Shariputra, na vacuidade não há forma, nem sensações, nem percepções, nem formações mentais, nem consciência. Não há olho, nem ouvido, nem nariz, nem língua, nem corpo, nem mente. Não há forma, nem som, nem odor, nem sabor, nem textura, nem objetos mentais. Não existe elemento do olho e assim por diante até não haver elemento da mente, inclusive nenhum elemento da consciência mental. Não existe ignorância, não existe extinção da ignorância, e assim por diante até não haver envelhecimento e morte, nem extinção do envelhecimento e morte. Do mesmo modo, não existe sofrimento, origem, cessação ou caminho; não existe sabedoria, nem realização e não realização.
“Portanto, Shariputra, uma vez que os bodhisattvas não têm realização, eles confiam nessa perfeição da sabedoria e nela permanecem. Não tendo obscurecimentos em suas mentes, eles não têm medo, e, por irem completamente além do erro, atingirão o fim do nirvana. Todos os budas que residem nos três tempos também atingiram o pleno despertar da inexcedível iluminação perfeita ao confiar nessa profunda perfeição da sabedoria.
“Portanto, deve-se saber que o mantra da perfeição da sabedoria – o mantra do grande conhecimento, o mantra inexcedível, o mantra igual ao inigualável, o mantra que subjuga todo sofrimento – é verdadeiro porque não é enganoso. O mantra da perfeição da sabedoria é proclamado:

Tadyatha gate gate paragate parasamgate bodhi svaha!

“Shariputra, os bodhisattvas, os grandes seres, devem treinar na perfeição da sabedoria dessa maneira.”
A seguir, o Abençoado saiu daquela absorção meditativa e elogiou o sagrado Avalokiteshvara, o bodhisattva, o grande ser, dizendo que isso é excelente. “Excelente! Excelente! Ó Nobre Filho, é assim mesmo; é assim que deve ser. Deve-se praticar a profunda perfeição da sabedoria exatamente como você revelou. Pois então até os tathagatas se regozijarão”.
Quando o Abençoado proferiu essas palavras, o venerável Shariputra, o sagrado Avalokiteshvara, o bodhisattva, o grande ser, junto com toda a assembleia, inclusive os mundos dos deuses, humanos, asuras e gandharvas, todos regozijaram-se e saudaram o que o Abençoado havia dito.


गते गते पारगते पारसंगते बोधि स्वाहा
Gate gate paragate parasamgate bodhi svaha

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