Fiquei sabendo hoje, há pouco, que realmente fiz uma boa ação nessa vida. Há mais de vinte anos. Na verdade, há quase trinta. Para uma de minhas amigas mais queridas.
Nos conhecemos num final de semana completamente siderado, quando fomos pra um sítio em Guaíba com os respectivos queridos. Eles eram amigos, amicíssimos, tão amigos que às vezes iam dar umas voltas juntos e nos deixavam meio de bobeira. Sorte nossa, que começamos a conversar e a gostar uma da outra. A amizade brotou e cresceu.
(Eu fui insanamente afim daquele cara. Primeiro por causa dos olhos. Os olhos mais azuis que já vi, enormes. Nunca vi outros como os dele. Um azul intenso. Azul piscina. Transparentes. E o resto... Que homem lindo. Meu namorado mais bonito. Na verdade o único realmente bonito. Beleza clássica, irretocável. O famoso perfil de estátua grega, aqueles olhos azuis cintilantes, a pele muito clara em contraste com o cabelo castanho. Lembro perfeitamente de quando botei os olhos nele pela primeira vez. Não acreditei - até porque já estava atordoada; Ocidente, tardíssimo, quase amanhecendo. Pareceu uma alucinação. Foi pra já. Fulminante. Além de lindo, era inteligente, esperto, culto. Não lembro de ter sido tão louca por outro antes dele. Lembro que uma das vezes em que mais me senti apaixonada na vida foi noutra noite, no Ocidente, quando ele chegou. Time stood still.)
Enfim, os namoros desandaram, e eu e essa amiga engatamos uma sólida parceria. Íamos pro Ocidente e depois Taj Mahal. Saíamos da minha casa lá pelas 2h, depois de ver Perdidos na Noite. Não éramos promíscuas - talvez porque fôssemos afim desses namorados inconsistentes. Bem, nunca gostei de pegar ninguém quando estava alterada - e eu estava quase sempre na época. De modo geral, eu só queria dançar, olhar e ser olhada. Saíamos juntas e voltávamos juntas.
Meu primeiro namorado ressurgiu um bom tempo depois. Volta e meia ele aparecia do nada. Apresentei minha amiga pra ele. Na época eu já era formada e trabalhava. Ela tinha o segundo grau, queria fazer um cursinho, mas não tinha grana. O resumo da ópera foi que pedi ao ex que pagasse o pré-vestibular pra ela (porque o meu salário mixuruca não dava). Um tempo depois eu e ela nos afastamos, e eu nunca soube se ela tinha feito vestibular. Eu queria muito que ela estudasse, em todos esses anos, sempre que lembrava dela, pensava no que teria acontecido.
Na semana passada, ela me adicionou no Facebook. Achei que fosse ela, mas fiquei com medo de estar viajando e não perguntei. Hoje conversamos por mensagens. Ela fez vestibular, passou, se formou. Fez mestrado, morou fora e agora faz doutorado. E eu sou parte disso, pude ajudar na decolagem dela, que é um pouco mais moça que eu.
Hoje vou dormir feliz. Por reencontrá-la, conversar com ela, recordar essa parte de minha vida e saber que fiz a diferença na trajetória de uma pessoa muito querida ao meu coração. Soul-sister. Conexão kármica positiva.
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