Veio o aniversário, passou o inferno astral. E veio outra coisa ontem.
Uma onda de ansiedade como as que senti há dezenove anos, quando comecei minha caminhada de cura. Ansiedade de ficar tonta, pontas dos dedos dormentes, pernas moles, respiração difícil. Medo de morrer, medo de enlouquecer. A mente totalmente desorganizada.
De onde exatamente veio isso não sei. De algum recanto até então sombrio da mente/coração. Por que veio eu imagino saber: veio pra ser liberado. Matéria densa que estou acessando com a terapia e a meditação - e com o daime. O negócio é o medo que dá. Afffff. Tipo o medo que senti quando o daime bateu. Medo de não voltar ao estado mental habitual. Quem sofre de ansiedade, depressão e pânico sabe como é. Quem experimenta uma viagem ruim com algum alucinógeno também.
O que fazer quando bate o pavor? Respirar. E buscar ajuda. O socorro veio por intermédio de minha amiga amada Libra, a Brisa. Contei pra ela que estava em surto, nos conectamos, e o tsunami começou a baixar. Fui ver minha irmã. Depois busquei minha filha e viemos pra casa. Na tranquilidade de casa, ao lado da filha, o mar recuou.
Hoje de manhã veio outra onda enorme. Meditei em meio à agitação. Conversei com Libra e Lízia. (O acolhimento de minha filha e suas sábias palavras foram uma das coisas mais lindas desta minha vida, pra lembrar pra sempre. Minha filha cada vez mais maravilhosa comigo e para mim.) E fiquei observando o maremoto, tentando entender o motivo. Que finalmente se revelou quando mar serenou de novo. Acessei uma outra camada emocional. Essa uma delícia. Uma camada de amor. O meu infinito reservatório de amor. Amor que nunca fluiu livremente, que sempre escoou com dificuldade e, o pior, misturado a outros sentimentos nada nobres (medo, desconfiança, raiva, ciúme, mágoa, indiferença, desprezo, sabe-se lá o que mais).
Hoje o amor veio sozinho.
Amor por mim. Amor por minha vida preciosa.
Amor por minha filha, meu amor maior, minha razão de viver, sol da minha vida, luz dos meus olhos.
Amor por aquela que me amou como nunca amou ninguém. A quem eu teria tanto a dizer sobre o meu amor, sobre o que aprendi com o meu amor com ela, por ela e para ela.
Amor por todas as pessoas próximas e queridas. Minha irmã. Minha amiga Brisa.
Amor que eu agora quero deixar transbordar, jorrar, fluir por tudo e para todos. Sem os antigos acompanhamentos.
Olho para minha filha, e meus olhos cintilam, minha mente/coração se expande. E eu sinto o amor por ela de uma forma que nunca senti antes. Sem medo. Sem hesitação. Sem dúvidas sobre o que eu sinto. (Porque sempre fui aterrorizada pela suspeita de que talvez não amasse minha filha.)
O desamor na minha infância aleijou minha capacidade de experimentar o amor, fosse dando ou recebendo. Inclusive com minha filha, talvez até especialmente com ela, dada a experiência com minha mãe.
Tudo isso já foi visto em bastante detalhe na terapia, mas agora começa a ser sentido e a fazer sentido emocionalmente. E agora eu começo a agir diferente porque penso e sinto diferente.
Quando foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira vez?
Hoje. Outra novidade. Esse fluxo de amor, o arco-íris num céu límpido depois da borrasca.
Como eu, existem milhares de pessoas que sofrem com crises de ansiedade. A todas eu recomendaria a busca do autoconhecimento. Terapia, meditação e se necessário medicação. Prática espiritual para quem aprecia. Pelo menos um amigo para compartilhar o desespero quando a onda quebra, alguém que fique junto, solidário, empático, para ajudar a acalmar e apoiar. Um amigo é essencial. É a ponte com o mundo externo, a boia salva-vida. Por pior que seja, a crise passa. Por pior que seja, é preciso olhar pro medo, deixar ele vir. Só assim ele pode ser dissipado.
Não desejo para ninguém o que senti ontem/hoje e inúmeras vezes antes. Mas tenho a mais cristalina certeza de que, sem passar por essas experiências, eu nunca me libertaria das emoções que sabotavam a minha felicidade e a minha vida no geral.