quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O cordão sem dona

Há cerca de 15 anos, desenvolvi com Dani Kruchin, minha ourives e superamiga, uma trama de corrente que se tornou a joia da minha família. Foi para dar de presente de aniversário pro meu marido na época. Eu amo joias feitas à mão livre, com o mínimo de processo industrial. Encomendei uma corrente com elos feitos à mão, irregulares. E Dani desenvolveu os "rocamboles", as espirais também feitas à mão.
Gostei tanto do resultado que fiz um cordão igual para mim.
Eu e Dani desenvolvemos ainda um outro projeto para mim, de espirais duplas. É o meu segundo cordão, mas o resultado não foi tão bom.
Nos 15 anos da Lízia, dei um cordão igual ao meu e do Eduardo para ela.
Em 2013, encomendei mais um cordão do mesmo modelo, dessa vez em prata porque não tinha grana pra comprar ouro, que estava uma fortuna. O metal não era tão nobre, mas a intenção era. Era uma declaração de amor e de comprometimento: você faz parte da minha vida - e da minha família. We belong. Achei a ideia totalmente espetacular porque, além disso, a espiral é a logomarca da pessoa. Uma espiral que ela desenhou.
Para minha consternação, o presente de Natal tão planejado não agradou. Acabou voltando para mim. Usei bastante. Mas não é meu.
Pensei em devolvê-lo pra quem eu sempre considerei a dona. No dia em que ia levá-lo, as minhas coisas que estavam na casa dela foram largadas sem aviso com o zelador do meu prédio dentro de uma sacola plástica transparente, transbordando. Calcinhas, camisolas, chinelos, até desodorante, tudo exposto. Pra não falar da minha vida. (Rir é melhor do que chorar. Então rendeu muitas risadas o comentário: "Lúcia, o porteiro agora deve olhar pra você e pensar: será que hoje ela está usando a calcinha preta? Ou a camisola de oncinha?")
Há algumas semanas, achei que tivesse encontrado para quem dar a corrente. Pedi pra Dani Kruchin limpar o cordão. Quando ela veio entregá-lo, junto com meu novo pingente, a surpresa: o cordão estava sem fecho! Tinha caído, e Dani não viu! Inacreditável. Ela quase morreu de vergonha. E eu achei muito estranho. Dani trouxe o cordão na manhã seguinte, sexta-feira passada. Fui almoçar com amigos. E aí esqueci o pacote com o cordão na casa deles. Surreal.
Peguei o cordão de volta no domingo.
E hoje enfim ficou inequivocamente claro que ele vai ficar comigo por enquanto. Até encontrar sua dona.
Contei a história pra Dani, que disse: "Os minerais são seres vivos, eles dão jeito de se comunicar". Esse cordão foi deveras eloquente.


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