domingo, 23 de outubro de 2016

O que eu gosto e acho melhor

Depois de embarcar no sapabonde (expressão da minha esperta e maravilhosa filha, que me entende muito desde que era uma criancinha), fiquei surpresa com alguns posicionamentos.
O primeiro é a curiosidade sobre as minhas preferências. E a incredulidade a respeito da minha falta de preferência. E da minha amplitude de espectro.
"Você gosta mais de transar com homem ou com mulher?"´"É melhor com homem ou com mulher?" Ouvi essas perguntas e suas variações dezenas de vezes. Não tenho preferência. Ponto. Fim.
Que tal um exemplo gastronômico? Eu adoro massa e sorvete. Mas considero impossível dizer que um seja melhor que o outro, ou que eu goste mais de um que do outro. São totalmente diferentes. Existem massas melhores, sorvetes melhores, pessoas mais e menos bacanas, mais e menos compatíveis comigo. Dá pra comparar marcas de massa e sorvete pela qualidade, assim como analisar as pessoas por suas qualidades e afinidades (melhor não comparar, claro, só que eu ainda não estou nesse estágio de evolução). Mas não dá pra comparar massa com sorvete.
As namoradas manifestam apreensão pela possibilidade de que um dia eu vá ser afim de ficar com homens de novo. Claro que pode acontecer. Pode acontecer também que eu fique afim de outras mulheres. Ou que ela fique. Qual seria a diferença ser um homem ou uma mulher? O que pode acontecer é uma das duas um dia ficar a fim de outra pessoa. Mas não me parece lógico imaginar que um dia, do nada, eu vá querer um homem só porque é homem. Pra mim, isso é reduzir meus inúmeros e profundos sentimentos a puro instinto sexual, ou algo mais ou menos por aí.
O fato de eu não ter preferências não significa que eu queira ter tudo ao mesmo tempo ou que eu precise variar de tempos em tempos. Não sou promíscua. Pelo contrário. Sou de natureza monogâmica. Sou de namorar. Sou pra casar. Gosto de me sentir em casa com a pessoa que se sente em casa comigo quando estamos nos braços uma da outra.
Nos relacionamentos amorosos e sexuais, o que me atrai, me agrada, me encanta e me faz amar, desejar e querer estar junto é o convívio, a intimidade construída dia a dia. Amizade, respeito, cumplicidade, carinho, generosidade. Parceria. Presença. Entrega. Reciprocidade. Confiança. É disso que eu gosto. São as coisas que acho melhores. Elas não estão no corpo ou nos órgãos sexuais.


6 comentários:

  1. Maravilhoso deve ser não ter preferências ou preconceitos e conhecendo vc, vc leva na boa mesmo e com respeito!

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  2. Mesmo porque comer ao mesmo tempo massa e sorvete é uma porcaria...

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    1. Hahahahahaha!!! Exatamente. Eu pensei em escrever isso, mas achei que estava esclarecido o suficiente. Mas amei ver que alguém teve o mesmo insight! Hahahahaha.

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  3. Maravilhoso!!! Isto é evolução!!!!👏👏👏

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  4. Parabéns por vc falar sobre isso abertamente pq nós os gays temos muito preconceito contra bissexuais, e pessoas sem preferências explica melhor esse novo tipo de gostar, sem gênero! Congrats👊👊👊

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  5. Parabéns Lucia pelo lindo texto. Se a humanidade soubesse se livrar dos preconceitos o mundo seria outro. Quando se tem respostas livres de preconceitos, assumindo seu próprio desejo é possível andar com mais leveza. Abraço!

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